62°- capítulo.

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Uma das coisas que eu sabia era que havia me afastado de Mary mais do que pretendia. Mal conversamos durante todo o mês e eu sentia culpa por isso. Sabia que ela sentia minha falta e provavelmente queria conversar comigo por horas, como fazíamos.

Mary sempre teve facilidade em interagir comigo, mesmo sabendo de todas as minhas dificuldades em me comunicar e falar sobre meus sentimentos. Ela sabia como tirar as coisas de mim, tinha marra e era insistente o bastante para isso. Mesmo que nunca tenha admitido para ela, eu gostava disso. Era o único jeito de me fazer falar o que não tinha coragem, e insistência era tudo que eu precisava para perder a insegurança e me abrir.

Por isso, quando chegou sábado, meus pais foram trabalhar e ficou somente ela e eu em casa. Tinha passado a manhã inteira na cama, uma das coisas que virou rotina para mim nos últimos dias. Eu não tinha sono, não tinha fome, e me sentia um lixo ambulante. Era o bastante para me manter na cama até que fosse realmente preciso levantar. Minhas noites constantemente eram péssimas e eu tive alguns incidentes com pesadelos algumas vezes.

Na maioria das vezes eram sem sentido, porém sombrios e atormentadores. O que me ocasionava em acordar assustada, suada e com a respiração entrecortada. As coisas não estavam boas para mim, nem perto disso. O pior de tudo era que quando eu acordava, sabia que minha vida real estava tão péssima quanto os meus pesadelos. Minha vida era um verdadeiro pesadelo, e eu sabia que ninguém tinha culpa disso.

Juntando todas as forças que restavam no meu corpo, saí do quarto e parei à frente da porta dela. Hesitei por um momento quando ouvi-a falando com alguém, mas sabia que se eu não procurasse-a naquele momento, a vontade desapareceria mais tarde.

Bati uma vez na sua porta e sua voz sumiu no outro lado. Ela sabia que só tinha ela e eu em casa mas eu também sabia que ela não esperava que eu a procurasse.

Um momento de silêncio foi o bastante para minha hesitação aumentar mas logo em seguida sua voz preencheu o vazio, me dizendo para entrar.

A imagem que vi, era a mesma que tinha em minha cabeça. Ela estava sentada sobre a cama, com as costas contra a cabeceira, as pernas cruzadas e o notebook em seu colo, provavelmente por estar falando com alguém. Seus olhos azuis clarearam-se mais ainda quando viram que eu realmente estava ali, um azul deslumbrante, tão claro quanto o azul do mar. O azul familiar e reconfortante para mim.

- Oi.. - murmurei, ainda segurando a maçaneta da porta com mais força do que realmente precisava e o olhar baixo. Era tão deprimente que eu estava tão receosa até com ela, com a garota que cresceu comigo e que sempre me fez sentir confortável, na maioria das vezes.

- Oi. - sua voz entregava claramente sua surpresa.

Eu não sabia exatamente porque tinha ido ali. Não sabia o que iria falar e se queria realmente conversar. Me perguntava isso enquanto o silêncio reinava entre nós, e sabia que só tinha duas maneiras de acabar com aquela situação embaraçosa; Sair dando qualquer desculpa esfarrapada, ou ficar e tentar retomar nossa relação de onde parou.

- Você está bem, Bella? Quer algo? - sua voz soou preocupada e eu abanei a cabeça em negação, enquanto fazia uma luta interna comigo mesma.

Soltei um longo suspiro que eu estava segurando, antes de fechar a porta atrás de mim e encara-la, envergonhada.

- Eu queria... Uhm, queria conversar um pouco, se não for atrapalhar. - minha voz soou tão estranha, até mesmo para os meus ouvidos e eu mordi meu lábio inferior nervosamente, a espera da sua resposta.

- Você não vai atrapalhar, Isabella. Pare de me tratar como se eu fosse um estranha e vem aqui. - sua voz soou rígida mas o seu sorriso amigável surgiu, aliviando a tensão em meus ombros.

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