61°- capítulo.

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Mídia: Who you are - Jessie J

Meus olhos estavam presos no meu reflexo no espelho, vidrados revelando o vermelho envolta da minha íris clara. Podia sentir minha pulsação aumentando conforme minhas mãos trêmulas alcançavam o objeto, e trazia-o para perto da minha pele. Minha mente corria, vozes dizendo para eu continuar, afirmando que aquilo me aliviaria.

Ainda hesitante, pressionei a lâmina contra a pele do meu antebraço. Meus olhos se fecharam, a espera da dor. Lentamente, movi-a contra minha pele, rasgando a mesma, e grunhindo baixinho.

Quando meus olhos se abriram, observei o sangue escorrendo pela minha pele, não em uma quantidade absurda mas o bastante para pingar algumas gotas sobre a pia. Pude sentir minhas pupilas dilatando e ao mesmo tempo minha respiração acelerando, conforme meu coração batia mais rápido. Tudo aquilo me proporcionou alívio instantâneo, mas eu precisava demais, precisava que a dor física fosse maior do que a dentro de mim.

O banheiro mediano se tornou pequeno, as paredes pareciam terem se aproximado e conseguia sentir o ar faltando, ficando cada vez mais escasso. Fechei os olhos, pressionei a lâmina mais uma vez contra minha pele, estremecendo no processo, e quando abri os olhos novamente, as lágrimas não demoraram a aparecer e molhar minhas bochechas.

Era a primeira vez que fazia aquilo. Me auto-motilado. Eu tinha consciência do que estava fazendo, mas não me importei em ser o certo ou não. Eu estava tão deprimida, a dor me sufocando e minha mente não conseguia parar um segundo. Jogava pensamento sombrios sobre mim, um atrás de outro, me sufocando do jeito que o ar faltava, minha visão turvava e quando me vi, já estava no banheiro de casa, frente a frente ao meu reflexo no espelho, e apenas querendo aliviar a minha dor interna.

Estanquei o sangue no meu braço logo após me recuperar da minha crise de pânico, pressionando gazes contra a pele rasgada. Demorou um tempo considerável até parar o sangramento, mas foi um tempo útil, que serviu de recuperação para que eu pudesse me acalmar e deixar passar a crise de pânico. O que estava ficando mais frequente a cada dia.

Não fazia muito tempo que eu tinha voltado para casa. Depois daquela discussão com minha mãe, tive que desligar o celular, para parar o zumbido irritante do mesmo por causa de suas ligações. Apenas tinha eu em casa, sozinha, como ultimamente me sentia.

Resolvi tomar um banho demorado, tentando acalmar meus nervos e relaxar. Sabia que tinha que me entreter com algo, qualquer coisa, e conforme o tempo passava, meus músculos iam relaxando, a respiração se normalizando, e o ar enchendo meus pulmões com facilidade.

Assim que vestida, caminhei calmamente até minha cama, e me deitei suspirando alto. Meu antebraço doía às vezes, mas não o movia muito, para evitar a dor que naquele momento, era desnecessária. Liguei meu celular, observando as três ligações perdidas da minha mãe, e um correio de voz dela, que não fiz questão de escutar.

Coloquei os fones em meus ouvidos, decidida que música seria bem-vindo naquele momento. Enquanto a música tocava em meus ouvidos, fechei os olhos e deixei minha mente vagar, para onde quisesse.

********* Flash back on ********

- Qual filme quer ver hoje? - perguntei, voltando a sentar no sofá, depois de entregar a vasilha azul cheia de pipoca doce, para o Harry.

Era mais uma das tardes depois da escola, onde só tinha ele e eu, e a Netflix. Podíamos ouvir o barulho da chuva lá fora, e podíamos sentir o quanto aquilo nos agradava. Quase podia saber que ele achava aquela tarde tão perfeita quanto eu.

- Uhm... Se você não se importar, não quero ver um romance hoje. - ele falou, enchendo a boca de pipoca em seguida.

Observei-o por um momento, enquanto ele mastigava calmamente a pipoca em sua boca. Não estava surpresa pelo fato de eu estar o admirando, pela centésima vez naquele dia, mas também sabia que o jeito como sua mandíbula se movia, da forma que não deveria ser tão atraente, fazia com que fosse inevitável fazê-lo de novo.

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