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Éramos doze meninas no hotel.
Tínhamos ganhado o concurso de uma revista de moda, escrevendo ensaios e contos e
poemas e slogans, e como prêmio nos deram um estágio de um mês em Nova York, tudo pago,
além de pilhas de brindes como ingressos para o balé, entradas para desfiles de moda, visitas
a cabeleireiros chiques, a oportunidade de encontrar gente bem-sucedida na área de sua
preferência e receber conselhos sobre o que fazer com o seu tipo de pele.

Ainda tenho o kit de maquiagem que me deram, sob medida para pessoas com olhos e cabelos castanhos: um rímel marrom com um pincel diminuto, um estojinho arredondado de
sombra azul, pequeno o bastante para que você só consiga colocar a ponta do seu dedo, e três
batons variando do vermelho ao rosa, tudo dentro da mesma caixinha de metal com um
espelho de um dos lados.

Também guardo uma caixa branca de plástico para óculos de sol, adornada com conchas coloridas e lantejoulas, além de uma estrela-do-mar de plástico verde costurada nela.

Percebi que recebíamos essa montanha de presentes porque eles funcionavam como
propaganda gratuita para as empresas envolvidas, mas eu não conseguia me fazer de
desentendida. Eu adorava ser coberta de mimos. Por muito tempo mantive essas coisas
guardadas, mas depois, quando voltei a ficar bem, fui atrás delas, e ainda tenho algumas
espalhadas pela casa. Uso os batons de vez em quando, e na semana passada tirei a estrela-do-mar da caixa de óculos e dei para o bebê brincar.

Éramos portanto doze garotas no hotel, na mesma ala e no mesmo andar, em quartos individuais, um ao lado do outro, o que me lembrava o dormitório da universidade.

Não era um hotel clássico, quer dizer, um hotel em que homens e mulheres se misturam no mesmo andar.

Aquele hotel - o Amazon - era exclusivamente para mulheres, e as hóspedes eram basicamente garotas da minha idade com pais ricos que queriam garantir que as filhas viveriam em um lugar onde os homens não pudessem alcançá-las e fazê-las de bobas.

Elas iam todas para aquelas escolas de secretariado metidas a besta, tipo a Katy Gibbs, onde tinham que usar chapéus e luvas, ou haviam acabado de se formar em lugares como a Katy Gibbs e trabalhavam como secretárias de executivos, passeando por Nova York e esperando arrumar um marido carreirista ou algo do tipo.

Aquelas garotas me pareciam terrivelmente entediadas. Eu as via na cobertura, bocejando e pintando as unhas e tentando manter o bronzeado, e elas pareciam estar morrendo
de tédio. Conversei com uma delas, que me disse que estava cansada dos iates, das viagens de
avião, do esqui na Suíça durante o Natal e dos homens no Brasil.
Garotas assim me deixam muito irritada. Fico com tanta inveja que mal consigo falar.

Eu tinha dezenove anos e aquela era a primeira vez que saía da Nova Inglaterra. Era a minha
primeira grande chance, mas lá estava eu, imobilizada, deixando a oportunidade escapar entre
meus dedos.

Acho que um dos meus problemas era a Doreen.
Eu nunca tinha conhecido uma garota como a Doreen. Ela vinha de uma escola para moças da alta sociedade no sul do país e tinha um cabelo loiro platinado brilhante, que se destacava ao redor da cabeça como algodão-doce, além de olhos azuis que pareciam bolas de gude de ágata transparente, duras, polidas e indestrutíveis, e uma boca que exibia uma espécie de sorriso de escárnio infinito. Não era um sorriso maldoso, mas divertido e misterioso, como se todas as pessoas ao redor fossem meio idiotas e Doreen pudesse contar umas boas piadas sobre elas quando tivesse vontade.

Doreen me escolheu logo de cara. Ela fazia com que eu me sentisse muito mais inteligente do que as outras, e era muito engraçada, de verdade. Costumava se sentar perto de mim na mesa de conferências e, quando as celebridades convidadas estavam falando, ela me sussurrava comentários irônicos.

A escola dela era tão metida a chique, dizia Doreen, que todas as garotas encapavam os
cadernos com o mesmo material dos vestidos, de modo que a cada vez que trocavam de roupa
tinham um caderno que combinava.

Esse tipo de detalhe me impressionava. Aquilo sugeria
toda uma vida de decadência maravilhosa e sofisticada, e me atraía como um imã.

A única coisa que fazia Doreen pegar no meu pé era minha mania de cumprir os prazos
dos trabalhos.

- Por que você perde tempo com isso? - dizia Doreen espalhada na minha cama,
vestindo um robe de seda cor de pêssego, lixando as unhas amareladas de nicotina enquanto eu datilografava a pauta de uma entrevista com um romancista de sucesso.

Também tinha isso: enquanto a gente vestia camisolas engomadas de algodão e roupões acolchoados, ou talvez atoalhados, que também serviam de saídas de banho, Doreen usava aqueles robes longos de nylon e renda quase transparentes e penhoares cor da pele que grudavam nela por uma espécie de eletricidade. Ela tinha um cheiro interessante, beirando o suor, que me lembrava aquelas folhas de samambaia que você esmaga entre os dedos para
sentir a fragrância.

- Você sabe que a Jota Cê não vai dar a mínima se você entregar isso amanhã ou
segunda, né? - Doreen acendeu um cigarro e deixou a fumaça escapar pelas narinas,
encobrindo os olhos.

- Essa Jota Cê é feia como o diabo - continuou. - Aposto que aquele maridão dela apaga a luz antes de deitar, pra não passar mal.

Jota Cê era minha chefe. Eu gostava bastante dela, apesar do que Doreen dizia. Ela não
era uma daquelas editoras extravagantes de revistas de moda, com cílios postiços e joias em excesso. Jota Cê tinha cérebro, de modo que aquele visual feioso não fazia muita diferença. Ela sabia ler em várias línguas e conhecia todos os bons escritores do ramo.
Tentei imaginar Jota Cê na cama com seu marido gordo, sem o tailleur austero e o chapéu
do trabalho, mas não consegui. Sempre tive dificuldade em imaginar pessoas juntas na cama.

Jota Cê queria me ensinar algo. Todas as mulheres mais velhas que eu conhecia queriam
me ensinar alguma coisa, mas de repente comecei a achar que não tinha nada a aprender com elas. Fechei a tampa da minha máquina de escrever.
Doreen sorriu.

- Assim é que se faz.
Alguém bateu na porta.
- Quem é? - Nem me dei ao trabalho de levantar.
- Sou eu, a Betsy. Você vai pra festa?
- Acho que sim. - Continuei no meu lugar.

Betsy havia sido trazida direto do Kansas, com seu rabo de cavalo loiro tremelicante e
seu sorriso de princesinha da fraternidade. Uma vez nós duas fomos chamadas para o
escritório de um produtor de TV.
O sujeito, que vestia terno risca-de-giz e tinha a barba por
fazer, queria ver se tínhamos alguma pauta para o programa, e Betsy começou a falar do milho
macho e do milho fêmea do Kansas. Ela ficou tão animada com o maldito milho que até o
produtor ficou com lágrimas nos olhos, mas disse que infelizmente não podia usar aquilo no
programa.

Mais tarde, a editora de beleza convenceu Betsy a cortar o cabelo e fez uma capa com
ela. Ainda vejo aquela cara sorridente de vez em quando, em anúncios do tipo "Esposa de
fulano veste BH Wragge".
Betsy vivia me chamando para fazer coisas com ela e as outras garotas, como se
estivesse tentando me salvar de alguma coisa. Ela nunca chamava Doreen. Pelas costas,

Doreen a chamava de Vaqueira Poliana.

- Quer carona no nosso táxi? - perguntou Betsy do outro lado da porta.
Doreen balançou a cabeça.
- Tá tudo bem, Betsy - eu disse. - Eu vou com a Doreen.
- Ok. - Dava para ouvir Betsy se afastando no corredor.
- A gente fica lá até encher o saco - disse Doreen, apagando o cigarro na base do meu
abajur -, e então vai dar uma volta na cidade.

As festas por aqui me lembram os velhos bailinhos da escola. Por que eles sempre chamam o pessoal de Yale? Eles são tão cretinos! Buddy Willard foi para Yale, mas, pensando bem, o problema dele é que ele era um
cretino. Tudo bem, ele até conseguiu boas notas e teve um caso com uma garçonete horrível de Cape Cod chamada Gladys, mas ele não tinha uma gota de intuição.

Doreen tinha intuição.

Tudo o que ela dizia soava como uma voz secreta falando diretamente dos meus próprios
ossos.

A Redoma de Vidro ( em edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora