A garota

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"Thomas, dê uma olhada nisso".

Simon, meu superior, tira o meu olhar de toda a papelada em minha mesa trazendo-o para o computador que esta transmitindo as câmeras de uma loja de conveniência que estamos analisando já faz 2 horas.

"No canto inferior direito". Ele indica e eu olho para as coordenadas que me foram mandadas.

Uma garota.

Cabelos pretos.

Pele morena.

Aparentemente 1,57 de altura.

"É quem estamos procurando?". Pergunto tentando disfarçar a minha esperança em finalmente tê-la encontrado.

Estamos nesse caso já faz meses. Como são poucos os policiais que toparam trabalhar com isso, consequentemente tínhamos muitos locais para procurar e pouca gente para ajudar.

Caso esteja se perguntando, não, eu não sou um policial. As pessoas normalmente me chamam como investigador, detetive, ou qualquer outro adjetivo que defina alguém que faz a maioria do trabalho para a policia quando se trata de casos difíceis.

Normalmente eu analiso os sinais do corpo humano, uma sobrancelha levantada, um olhar arregalado, um sorriso muito curvado, sou eu que cuido disso, não sou nenhum especialista no assunto, mas dizem que sou bom no que faço.

Mas como eu disse no começo do parágrafo anterior, eu "normalmente" analiso os sinais do corpo humano, porém aqui nessa delegacia eu ajudo em praticamente tudo.

"Você que ira nos dizer, é o seu trabalho analisar, então analise". E com isso é minha deixa para sentar ao seu lado e começar o meu trabalho.

A forma do corpo, o tom da pele e o corte de cabelo com certeza são idênticos a quem estamos procurando.

"Vamos lá, é só virar um pouco o rosto para que possamos ter 100% de certeza". Meu colega de trabalho fala como se quisesse dar uma ordem na garota da gravação, e por incrível que pareça funcionou, a garota por coincidência se virou dando para ver completamente seu rosto. "É ELA! COM CERTEZA É ELA, A ACHAMOS!".

Ele não deixa de esconder a animação em sua fala, confesso que estou feliz, mas algo ainda me intriga.

Continuo analisando enquanto a garota pega alguma mercadoria da prateleira.

Espera...

"Não é ela". Afirmo.

"Como assim? Com certeza é ela, olhe, a marca de nascença na perna esquerda". Ele aponta para a perna da garota indignado com a minha afirmação.

"A garota que estamos procurando é destra, a garota do vídeo pega a mercadoria com a mão esquerda". Comento o obvio.

"Ela pode ser muito bem ambidestra, qual é Thomas, olha a semelhança, não tem como ser outra pessoa".

"Primeiro, não, ela não é ambidestra, repare na bolsa, está do lado direito para que ela possa pegar as coisas com a mão esquerda, o relógio? Mão esquerda. Segundo, não é estranho ela entrar em uma loja completamente calma mesmo depois de tudo? Sem nenhum disfarce nem ao menos um óculos escuros para disfarçar?".

Simon encara o monitor tentando processar a informação que lhe dei.

"Tudo bem, mas vamos analisa-la até ter certeza que não é ela". Aceno com a cabeça e continuo a analisar a garota.

Com certeza não é ela, essa menina tem um ar muito diferente da que estamos procurando.

Nós analisamos a garota comprar a mercadoria que logo percebemos que era um salgadinho e refrigerante, a bolsa parece carregar alguma coisa quadrada como livros, ela provavelmente tem aula por conta da pressa.

"Ela deu bom dia para o caixa". Analiso alto para mim mesmo. "Isso quer dizer que talvez ela frequente esse local muito mais vezes que nós pensamos".

"Você acha que deveríamos dar uma olhada por lá?". Simon pergunta depois de eu ficar um tempo em silêncio.

"Não podemos sair por ai perguntando por ela, lembre-se que ninguém além da policia sabe sobre esse caso".Ele acena com a cabeça compreendendo. "Era cedo quando ela foi até essa loja de conveniência, mais ou menos o horário que as pessoas estão acordando para ir a escola, ou seja ou ela estuda muito longe de casa por isso está arrumada tão cedo ou apenas irá encontrar alguém em algum lugar antes de ir a aula".

"E para que os salgadinhos?".

"Apenas fome, ou sei lá, deixando para depois". Levanto da cadeira e pego meu casaco que estava estirado na mesma.

"Aonde vamos?".

"Vamos ver as escolas que tem perto daquela loja".

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