Cartela de remédios

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Simon é o único amigo quase íntimo que eu tenho querendo ou não.

Então quando eu digo que vou beber com alguns amigos quer dizer que eu vou ouvir Simon falando sobre futebol enquanto eu tento não ficar sóbrio o bastante para ouvir o que ele diz.

“Então, você não me disse como foi com Elisabeth?”.

“Bom, você só precisa saber que eu e a Elisa já nós tornamos colegas de classe”. Os olhos de Simon se reviram.

“Não acredito que você irá tentar realmente se aproximar dessa garota”.

“Não estou fazendo isso por lazer Simon, precisamos de informações sobre a talvez irmã dela, se Elisa por acaso saber de algo nós ajudaria muito”.

“Tudo bem... Mas mesmo que ela soubesse de alguma coisa, como você tem tanta certeza que ela nos ajudaria?”.

“Eu não tenho, por isso estou tentando me aproximar, sabe... As vezes eu me pergunto se realmente existe um cérebro nessa sua cabeça”.
Bebo mais um copo de whisky.
                           ***                                        

Mais uma dia acordando cedo para ir a uma maldita aula.

Annabeth está me dando mais prejuízo do que eu imaginei.

Ando pelo campus esperando um horário bom para entrar na sala. Reparo em uma estrutura pequena sentada em um banco sozinha.

É Elisa.

Ela pega uma cartelinha de compridos tirando um e o ingerindo bem rápido, como se não quisesse que ninguém reparasse nela tomando o remédio.

A cartela é muito grande para ser um simples remédio para dor de cabeça ou algo do tipo.

Ela sorri quando eu me aproximo.

“Olha só meu perseguidor chegou cedo hoje, o que faz por aqui?”. Me sento ao seu lado.

“Eu ia te perguntar a mesma coisa...”.

“Eu sempre acordo mais cedo do que o normal, o dia parece que dura mais”.

“Você com certeza não é uma universitária comum”.

“E você não respondeu a minha pergunta”. Ela arqueia uma das sobrancelhas.

“Eu apenas estava com vontade de conhecer o campus”. Ela acena com a cabeça. “Está com dor de cabeça ou algo assim?”. Minha pergunta a pega de surpresa e sua expressão é de duvida. “Te vi tomando um comprimido”.

“Ah sim... Eu costumo tomar eles, problemas de saúde sabe...”. E ela não vai me falar com certeza. Aceno com a cabeça. “Você é bem observador, poderia se dar muito bem no ramo de psicologia comportamental, foi por isso que escolheu esse curso?”.

“Na verdade só estou fazendo o curso para ter algo no currículo”. Dou de ombros, isso seria verdade se fosse há alguns anos atrás. “E você, por que escolheu psicologia?”.

“Porque eu não tinha muita escolha”. E sua resposta dá a impressão que ela não irá dizer mais nada. Talvez tenha sido obrigada pelos pais ou apenas não tinha mais para que lado ir.

“Acho que maioria aqui não teve”. Ela sorri de lado. “Mas você parece gostar muito de psicologia para alguém que não teve muita escolha”.

“Quando eu digo que não tive escolha é porque as outras opções estavam bem fora do meu alcance e nenhuma combinava comigo, então digamos que psicologia foi a menos pior”.

Ela está escondendo algo...

Primeiro disse que não tinha escolha depois disse que estava fora do seu alcance... Mudou de opinião rápido demais.

“Você está me olhando como se eu fosse a pior pessoa do mundo”. Comenta e eu rapidamente mudo a minha expressão, não tinha percebido que estava tão na cara a minha analise.

“Eu só estou intrigado...”.

“Pode perguntar o que quiser, eu sou um livro aberto”. Ela sorri carinhosamente. E essa foi a brecha que eu estava precisando para progredir.

“Aqui não é uma lugar muito bom para conversar e daqui a pouco teremos que ir para a aula, o que acha da gente se encontrar em algum café por ai?”. Em meu inconsciente estou me dando tapinhas nas costas.

“Sexta feira eu vou sair com alguns amigos, por que você não vem? Além de você perguntar tudo o que quer vai poder socializar com mais gente, dois coelhos em uma cajadada só”.

Okay, talvez eu não tenha progredido tanto...

Um lugar com um monte de adolescentes tagalerando no meu ouvido não é bem  o que eu planejava para interrogar Elisa.

Mas como quem não tem cão caça com gato, ou como gato, dependendo do ponto de vista...

“Claro, é só me falar o horário”.

“Eu vou te passar meu numero já que nem eu sei direito o horário então quando eu souber te mando uma mensagem”. Eu rapidamente pego meu celular do bolso e ela digita seu numero o adicionando na lista de contatos. “Prontinho... Eu vou para a sala agora, se você quiser pode vir comigo”.

“Eu vou passar mais um tempinho aqui, pode ir”. Não posso ficar 24 horas no pé dela, a garota é bem mais esperta do que eu imaginava, talvez possa desconfiar de algo.

Elisa se despede e eu fico sentado no banco olhando os universitários.

A que ponto eu cheguei?

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