Anna está agindo

88 11 41
                                    

A aula foi a mesma coisa de sempre, como eu já vi tudo isso apenas tentei dormir um pouco, no final do curso Elisa saiu um pouco mais rápido que antes, não me dando tempo de conversar com ela de novo.

Estou saindo da sala porém me viro quando ouço uma voz masculina me chamando.

"Ei, Thomas, né? Eu me chamo Mike". O garoto negro com que Elisa conversou a alguns dias atrás aperta a minha mão enquanto eu aceno com a cabeça. "Te vi conversando com a Elisa, vocês já se conheciam?".

Uma pergunta bem evasiva, com certeza esse cara tem interesse nela.

"Não, por quê?".

"Elisa normalmente não fala com ninguém tão fácil assim... Demorou meses para conseguir manter uma conversa com ela sem que o assunto acabasse, ela é bem tímida...".

"Talvez ela só tenha simpatizado comigo ou só sendo legal por eu ser novato". Dou de ombros.

Mal sabe ele que está me dando informações ótimas sobre a personalidade dessa garota.

"É talvez... Bom foi legal trocar uma ideia com você, até algum dia". Aceno com a cabeça novamente e dessa vez saio da sala mesmo.

Elisa é tímida e como eu pensei não tem amigos e não é por falta de opção.

Isso pode ser por desconfiar das pessoas ou apenas não gostar de socializar com ninguém, as duas coisas são ruins e provavelmente aconteceu alguma coisa para alguém se tornar assim.

O que você esconde Elisa?

                             ***

Não preciso ir para as próximas aulas já que o que me interessa são os tempos com Elisa então fico apenas dentro do carro com Simon ouvindo a rádio local e tomando o café que eu o obrigo a comprar.

"E agora vamos para as noticias do dia". O locutor anuncia e eu aumento um pouco mais o volume. "Uma loja de conveniência sofreu tentativa de assalto nessa manhã de quarta-feira, duas pessoas foram parar no hospital e felizmente não temos nenhum ferimento grave. As vitimas relataram que a assaltante era um mulher de estrutura pequena, a mesma usava uma mascará onde apenas seus olhos castanhos eram vistos. O ocorrido aconteceu na...". E quando ele começa a dizer o endereço eu rapidamente o reconheço.

"A lojinha que Elisa vai toda segunda...". Comento para mim mesmo e Simon me olha. "Me diz que eu não estou ficando louco por pensar que essa garota pode ser..."

"Annabeth?". Ele completa o que eu iria deduzir. Aceno com a cabeça. "Não podemos tirar conclusões precipitadas Tom, melhor voltarmos para a delegacia e arranjar um jeito de conversar com as vitimas desse caso". Aceno com a cabeça mais um vez enquanto Simon se livra do copo de café vazio o jogando no banco de trás e dando partida no carro.

                               ***

"A senhora tem certeza que não se lembra de mais nada?". Simon reforça o seu interrogatório com a moça vitima da tentativa de assalto.

"Eu... Eu acho que sim". Sua voz treme de nervoso, Simon é praticamente um brutamonte então com certeza ele intimida as pessoas.

Olho para o rapaz ao seu lado, sua cabeça está abaixada e seu olhar longe.

Escondendo algo...

"A mulher que tentou assaltar essa loja pode ser bem mais perigosa do que vocês pensam, qualquer informação é essencial para nós". Digo olhando para ambos, o rapaz levanta o olhar me encarando. "Não precisam ter medo, estão seguros aqui". Dou um pequeno e ele retribui.

Depois de insistir mais um pouco terminamos o interrogatório. Simon é o primeiro a sair da sala enquanto eu enrolo mais um pouco...

"Eu... Eu meio que esqueci de contar algo". O garoto finalmente desembucha, estava demorando até.

Me viro para ele lhe dando toda a minha atenção.

"Antes dela anunciar o assalto, eu estava entre um dos corredores como havia dito, arrumando as latas de feijão...". Aceno com a cabeça. "O que eu não disse, é que ela chegou até mim com a mascará, colocou a arma em meu quadril e disse que estava procurando alguém...".

"Quem?". Pergunto por reflexo sem ao menos deixar o garoto terminar de falar.

"Elisabeth". Reponde.

                              ***

"Simon, por favor, só espere até sexta, ai então poderá fazer quantas analises e interrogatórios quiser com ela, só me deixa ter uma chance". Imploro para Simon atrás do monitor do computador enquanto ele digita algum tipo de relatório.

Ele está querendo fazer um interrogatório com Elisa, e isso com certeza arruinaria todo o meu plano de disfarce.

"Por que está tão interessado nessas garotas Thomas?".

"Porque eu nunca peguei um caso tão intrigante, deixa eu me divertir um pouco". Me arrasto até o lado esquerdo do monitor e sorrio.

"Tanto faz para mim, desde que eu tenha a certeza de quem é essa Elisabeth".

"É isso que eu irei tentar descobrir".

Me viro para minha mesa e começo a pensar em como irei prender a atenção de Elisa enquanto um bocado de adolescente ao nosso redor porém o visor do meu celular piscando tira a minha atenção.

Deslizo a tela de bloqueio para encontrar uma mensagem.

Elisa: Hey Tommy, é a Elisa. Só to avisando que o pessoal vai se encontrar no bar do Bill as sete da noite. Você sabe onde é?

Elisa: **Tom, desculpa :)

"O que você está olhando de tão impressionante para estar com essa cara de peixe morto olhando para o celular". Simon tira minha atenção e eu apenas o mostro o dedo do meio.

Tinha me esquecido totalmente que Elisa salvou seu número em minha lista de contatos.

Thomas: Se me chamar de Tommy de novo eu deixo de ser teu perseguidor e viro o teu assassino.

Elisa: Foi o corretor, eu juro.

Thomas: E irá ser uma bala perdida, eu juro.

Thomas: Respondendo sua pergunta, sim eu sei onde é. É um pouco longe... Você já tem carona para poder ir?

Elisa: Eu ia pegar um ônibus, mas se você quiser oferecer uma carona para poupar o dinheiro dessa pobre mortal eu agradeceria.

Thomas: Depois de ter me chamado de Tommy você não mereceria, porém eu sou um rei misericordioso então te pegarei as seis e meia na lanchonete perto do campus.

Elisa: A mera mortal ( e seu sedentarismo) agradecem.

"Simon, vou precisar do seu carro emprestado". Informo Simon ainda olhando para o visor do celular.

"Desde que você coloque gasolina nele, está tudo ótimo". Reviro os olhos.

"Sabe, quando eu te chamo de “meu amigo” é para esse tipo de coisa, e com esse tipo de coisa quero dizer me emprestar o carro e ponto final, sem entrelinhas".

"Tudo bem, mas só dessa vez Thomas, e se voltar com um arranhão você é um homem morto".

O amor que ele sente por esse carro é perturbante.

Engano Onde histórias criam vida. Descubra agora