"Espera ai, deixa eu entender direito. Você na verdade é um detetive que está me investigando porque viu uma criminosa que por acaso é igual a mim?". Elisa diz depois de eu ter explicado o básico para ela. O seu tom de voz não é nada bom.
"Então todo aquele interrogatório foi tudo armação?". Me pergunta brava e eu não sei o que responder pela primeira vez. "Espera, você não é nem um estudante de verdade! Eu me preocupei a toa... Você é um babaca". Ela cruza os braços e vira o rosto para a janela.
"Ei, essa história não tem nada haver com eu ser um babaca ou não. Tenta entender que eu só estava fazendo o meu trabalho". Tento me defender.
"Era só ter sentado e conversado comigo, eu teria entendido até porque você faz parte da policia, não seria só um maluco qualquer me dizendo besteiras! E afinal, você não me explicou o porque de eu ter que vir contigo para esse tal lugar porque senão você perde o seu emprego que por acaso não é em uma editora de jornais".
"O meu chefe descobriu sobre o caso dessa garota, e não aceitou o fato de não termos feito um teste de impressão digital em você o que agora pode arriscar o meu emprego se não fizermos. Eu acho inútil já que é claro que você não é essa garota...".
"Nem todo mundo pensa como você Thomas". Me intrigo por essa frase ter sido dita em um tom sugestivo. "É realmente o certo a se fazer, espero que seja rápido". Em nenhum momento ela me olha, continua com o olhar fixado na janela.
"Olha Lisa... Me desculpa por tudo isso, agora eu vi que foi realmente babaca da minha parte, okay?". Eu não sei de onde esse apelido surgiu, mas veio na hora certa.
Não acredito que estou me esforçando para conseguir o perdão de algo que eu tinha que fazer.
"Vamos começar do zero, fingir que não nos conhecemos, prometo que agora direi a verdade". Agora seu rosto mostra interesse já que ela me olha finalmente. "Parece que a proposta lhe despertou interesse".
"Talvez...".
***
Estamos na delegacia e a primeira coisa que faço quando vejo Simon é lhe mostrar o dedo do meio quando o mesmo faz um coração com as mãos ao ver eu e Elisa entrando juntos. Graças aos céus ela não viu.
"Sabe eu sempre pensei que em uma delegacia teriam vários policiais gordos comendo rosquinhas com recheio de morango". Ela comenta murmurando para ninguém ouvir apenas eu.
"É porque não estamos no horário de almoço".
Vejo Simon se aproximando e o olho desesperadamente querendo dizer: por favor, se contenha.
"Tom! Meu querido amigo! Por que está com essa cara assustada? Aconteceu algo?". Pergunta sínico e eu nego a cabeça para ele o olhando com raiva. "Você deve ser a Elisabeth, Tom falou muito sobre você". Ele se dirige a ela tentando com certeza me irritar.
"Provavelmente por conta do caso da minha supostamente irmã". Ela responde o pegando de surpresa e eu não consigo conter o pequeno riso.
Paro de sorrir assim que vejo o demônio em forma de gente...
Meu chefe.
Vou resumir a estória, ele me odeia, eu o odeio, mas temos que conviver um com o outro porque eu sou simplesmente incrível e ele não pode negar isso.
"Bruce, quanto tempo". O cumprimento com as sobrancelhas arqueadas.
"Carter, como vai? Espero que nada bem". Ele retribui a arqueada de sobrancelha.
Como eu disse, puro ódio.
"Espero que admita o erro que cometeu para que não tenhamos que ter de novo a mesma conversa". O babaca diz.
"Não cometi nenhum erro, segui as minhas regras e posso te garantir que estou certo".
"Estando certo ou não, siga o procedimento". Ele chega mais perto me encarando. "Senhorita Campbell por favor acompanhe o senhor Carter, e desculpe por ter que presenciar isso, mas é o procedimento". Sua expressão muda totalmente e vejo um sorriso em sua cara. Como consegue ser tão falso.
"Tudo bem, eu entendo". Ela sorri docemente.
É serio isso? Reviro os olhos e sinalizo com a cabeça para que Elisa me siga.
"Ele é uma gracinha". Ela comenta enquanto andamos até o corredor.
"Espero que esteja falando do Simon". Ela me olha e nega com a cabeça. "Você só pode estar brincando com a minha cara".
"Não, ele realmente é bonitinho...". A olho com raiva. "Você claramente não gosta muito dele".
"Ele não gosta de mim, eu só gosto de ser reciproco".
***
O resultado do teste foi como eu imaginava, ela não é a Annabeth e isso só nos fez perder mais tempo.
Agora estou tendo que esperar encostado no batente da porta porque meu chefe resolveu puxar conversa com a garota do meu caso.
Os dois estão sorrindo a todo momento e eu não consigo conter o revirar de olhos a cada risada alta que aquele babaca dá.
Depois de alguns minutos ela se levanta para ir embora se despedindo de Bruce.
"Já acabou?". Pergunto e fico surpreso com meu próprio tom de voz.
"Ciúmes?". Pergunta com a cabeça levantada dando o ar de superioridade.
Apenas reviro os olhos e pego meu casaco para irmos embora.
"Tchau Tom, juízo hein!". Ouço Simon gritar do escritório, estava estranhando ele ainda não ter tido feito alguma piadinha desse sentido.
Seguimos até o carro ao sair da delegacia, e quando Elisa coloca a mão na maçaneta da porta do passageiro eu a paro segurando seu braço.
"Eu sinto muito mas, eu preciso te fazer algumas perguntas antes de irmos embora". Consigo identificar uma micro-expressão de medo em seu rosto assim que digo essa palavras.
Agora que ela sabe quem eu sou e o que eu vim fazer aqui sua expressão corporal mudou totalmente, manteve distancia esse tempo todo e esteve com uma tensão no ombro.
"Tudo bem, eu só preciso comer um pouco, estou morrendo de fome...".
"Tem uma lanchonete aqui perto, eu pago". Sorrio e ela faz o mesmo. Agora sim entramos no carro.
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Engano
Mystery / ThrillerO passado é algo que com certeza não podemos mudar. E se você tiver algo de ruim a esconder, terá que conviver pro resto da sua vida com isso. E acredite, não tem como concertar completamente, eu tentei. Porque quando se quebra um vaso caro, ele nun...