O pré-humano encontra-se no reino dos vermes, pertencente à mesma classe que a do cavalo. Esta espécie, desprovida de familiares, viu seus primos desaparecerem. Dentro da classificação biológica, o gênero Homo configura-se como um animal mamífero. E todas as características observáveis em um organismo vivo orgânico podem ser identificadas em outro da mesma categoria taxonômica. Entre as semelhanças, destaca-se o instinto, um mecanismo destinado a preservar o bem-estar e evitar a morte. É essa predisposição inata que impulsiona a busca por alimento e água, a luta por território e até mesmo o risco da vida em prol do acasalamento. No entanto, Eu proporciono aos seres pré-humanos características como racionalidade, consciência, cultura e ética, que podem agir como uma barreira reguladora para os impulsos de sua dimensão irracional. Contudo, problemas patológicos ou o desenvolvimento de personalidade em um contexto social com uma presença marcante daquele que afirma ser Eu resultam em desvios comportamentais, situando a humanidade abaixo da esfera dos animais.
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Na rua que abriga a residência de Eduarda e Eudes, apesar de ainda ser dia, a aurora começa a resplandecer com um vermelho intensamente vívido, conferindo ao ambiente uma atmosfera sinistra. Após a partida do casal de funcionários para seu município, Eudes e Eduarda experimentam a solidão. Desprovidos de comunicação com a família, desprovidos de meios de transporte mais ágeis e sem o amparo de seu Francisco e dona Maria, veem-se compelidos a preencher um vácuo que jamais estivera presente, o da amizade. Assim, decidem, de imediato, procurar os Guerra para uma conversa.
Sr. Ari Guerra está na porta de casa e de longe grita: — Já comeram? Fizemos o café da manhã. Esses sanduíches estão uma delícia. Temos que consumir logo os alimentos perecíveis.
— Já sim. — Ansiosa, Eduarda ainda completa: — Por falar nisso, temos que tomar algumas decisões. A pane não passou e as autoridades não apareceram. Temos que pensar que o cenário pode continuar ou piorar.
— Sim. Tid está descansando um pouco para fazer plantão à noite. Mais cedo ele deu uma volta pelo bairro e disse que está tudo parado. Temos a sorte de morar em um bairro tranquilo, com baixa densidade populacional. E o fato de ser uma península, vai dificultar a entrada de estranhos. Ele foi à delegacia e ao quartel dos bombeiros e não encontrou ninguém. Estavam fechados. Como a pane queimou muitos transformadores da rede elétrica, mesmo que ela termine, vai demorar pra termos eletricidade novamente. E como a água é bombeada pra nossas casas, também vai demorar pra esse serviço ser restabelecido, isso se esse apagão dos infernos passar.
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Seu Francisco e dona Maria estão no início de suas jornadas de retorno ao lar. Ele especula que, mantendo um ritmo tranquilo para o cavalo e sem enfrentar imprevistos, podem completar a trajetória em quinze horas. Tudo aparenta sereno. Pelas ruas do bairro, avistam escassa movimentação, indicando que muitos ainda não projetaram os riscos no caso da pane continuar. Entretanto, ao deixarem a zona residencial, deparam-se com uma multidão de milhares de pessoas em uma extensa migração, em direção à periferia. O homem conjectura que possam ser indivíduos que estavam laborando no centro da cidade e agora buscam retornar ao lar. Alguns poucos seguem na direção oposta. Para evitar eventual impacto com pedestres, o casal opta por seguir pelo canteiro gramado com o cavalo.
À medida que se aproximam da avenida à beira lago, são tomados pelo assombro ao deparar-se com o lago. Este apresenta-se rubro como sangue. "Será que a tempestade também influenciou a água?", questiona-se dona Maria. Antes de enfrentar um longo trecho íngreme, concedem uma breve pausa para que o cavalo beba água. Desconfiados da qualidade do líquido, optam por um pequeno riacho de águas translúcidas, enclausurado por uma estreita mata de galeria. Dona Maria percorre o córrego, com a água atingindo-lhe a altura da canela, até alcançar o lago. Lá, constata que a água mantém sua normalidade, revelando ser apenas o vermelho do céu refletido na superfície da água. Um suspiro de alívio escapa dela. À beira do lago, a cena evoca a atmosfera rural, onde uma barragem serve como fonte d'água para os animais. Ali, um grupo numeroso utiliza o local para banhar-se, refrescar-se e hidratar-se.
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Segredos, Evidências e um Limitado Futuro
Научная фантастикаApós um simples e corriqueiro fenômeno, grandes consequências em efeito cascata surpreendem a humanidade. Agora, urge confrontar os eventos em um universo distópico, onde o conceito de certo e errado muda a cada instante. Prepare-se para ser consumi...