Segredos, Evidências e um Limitado Futuro

Capítulo 5. O Gênio e o Estúpido.

Após a revolução da indústria e da tecnologia, o globo experimenta profundas metamorfoses. Das linhas férreas aos computadores pessoais, inúmeros dispositivos foram concebidos para aprimorar a existência. Com a disseminação desses recursos artificiais, as pessoas se tornam propensas ao uso de máquinas com diversas funcionalidades. Assim, perde-se o acesso aos costumes e práticas do passado. Nos dias atuais, vivenciam-se momentos de perigosa dependência dos bens e serviços proporcionados pela iniciativa privada, como o fornecimento de alimentos, moradia e medicamentos. Dessa maneira, os indivíduos, aprisionados pelo frágil sistema socioeconômico vigente na Terra, estão sujeitos a um iminente risco, pois, na eventual escassez desses recursos e na ausência de uma política de controle por parte dos governos, revela-se o lado mais cruel daquele que não sou Eu.

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3º dia

Após dois dias de exposição às intensas ejeções de massa coronal desencadeadas pelo Sol, o planeta sofre alterações drásticas, obrigando a população a modificar seus hábitos. Na via que se transformou em quartel, diversas residências começam a enfrentar a escassez de água em seus reservatórios, especialmente aquelas designadas para funções de cozinha, refeitório e vestiário. Os sanitários encontram-se sujos, as áreas de banho demandam higienização, há acúmulo de roupas e louças sujas, e muitos sacos de lixo se acumulam nas calçadas. O odor desagradável impregna os lares, enquanto insetos e ratos começam a se manifestar. O fedor pungente de cadáver se intensifica, emanando da área onde ocorreu o acidente com o avião. Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de reavaliar alguns procedimentos.

— Reunião! — Tid grita. — Isso está uma bagunça. Precisamos ajustar algumas coisas.

— Pode deixar — intervém Eduarda. — Vamos fazer assim. Eu vou passar a coordenar o grupo. Você cuida da segurança. Precisamos de responsáveis por dirigir algumas tarefas, como limpeza, higiene e alimentação.

— Está bem. Não posso cuidar de tudo.

— Vou administrar os recursos materiais — Eudes avisa.

— Então é o seguinte — Eduarda começa a ditar os afazeres: — Precisamos encher novamente as caixas d'água com a água das piscinas. E temos que racionar o uso. Eudes cuida disso. Vamos botar fogo naqueles sacos de lixo que estão na rua. E temos que resgatar os corpos nas casas atingidas pela queda do avião, para queimarmos também.

— Não! — Tid adverte de imediato. — Ninguém sai daqui. É pra nossa segurança.

Eduarda não gosta do autoritarismo de Tid. Mas não se manifesta mais. "Vou aceitar porque seria muito trabalhoso e custaria muita mão de obra.", ela argumenta para si mesma.

E assim, eles se mantêm ocupados o dia todo.

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Na Terra do Palmito, o distrito que abriga a residência de seu Francisco e dona Maria, o casal repousa da odisseia na acolhedora morada de amigos. A vila, de dimensões diminutas, permite percorrer a localidade de bicicleta em meros dez minutos, de uma extremidade a outra. Trata-se de uma localidade remota, destituída de vias que a conectem a outras cidades, configurando-se em um isolamento geográfico. Não ostenta atrativos turísticos e carece de atividades que incentivem a imigração. As pequenas empresas agropecuárias empregam os próprios residentes locais, cujas famílias perduram por várias gerações no lugar. Assim, a comunidade desfruta de um profundo conhecimento mútuo. No atual cotidiano, banham-se utilizando balde e apreciam almoços compostos por galinha caipira. Posteriormente, o médico local, que é também amigo da família, presta cuidados ao ferimento de seu Francisco. Ele esclarece que não administrou uma vacina antitetânica devido à perda de muitos medicamentos, que não foram mantidos resfriados sem o auxílio de uma geladeira. A tarde transcorre com todos reunidos: seu Francisco, dona Maria, o médico e os amigos. Enquanto dona Maria recolhe-se para descansar, seu Francisco relata o estado da cidade, e os amigos compartilham observações sobre a distribuição de laticínios e carnes pelo comércio, antes que tudo começasse a deteriorar-se.