Capítulo 1. A Revelação.

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Muitos acreditam que Eu sou o criador do mal, mas não compactuei com a transgressão, inveja, competição ou ambição. Não foi por Minha influência que surgiram mentiras, traições, roubos, fome, guerras e mortes. O Mal não é cometido por Mim, mas sim por aquele que se opõe a Mim. Criado para ser governante, o ser tomado pelo orgulho dirige e escraviza os pré-humanos, instigando-os a errar. A história, que teve início há muito tempo, será revelada para mostrar que aquele que afirma ser Eu não o é, e Eu mesmo o demonstrarei.

Nos primórdios, os primeiros da genealogia humana habitavam o mundo sem discernimento. Suas atividades giravam em torno de alimentação e procriação, semelhantes a animais selvagens. O mais astuto daquela época abriu os olhos dos pré-humanos para o conhecimento, tornando-os seres pensantes e libertando-os da condição destituída de decisão. Assim, conheceram o Bem e o Mal, dominaram plantas e animais, migrando pelo mundo em busca do conhecimento. Ignorando aquele que lhes deu a verdadeira sabedoria, não adquiriram a liberdade necessária para alcançar a felicidade plena.

Hoje, muitos não percebem que só alcançarão a realização total de suas individualidades por meio de Mim. Desenvolvem o intelecto e reprimem o emocional, inconscientes de que, mesmo contra a vontade deles, trabalho a seu favor, buscando nosso objetivo rumo ao progresso. A ignorância apenas dificulta e retarda nossa jornada em direção à plenitude. Secretamente, traço o destino da Terra em busca da felicidade genuína.

Falando em felicidade, este é o maior anseio dos seres pensantes, além do desejo básico de sobrevivência. Apesar das diversas crenças sobre como alcançá-la, muitos a querem, mas poucos conseguem integrar esse desejo à realidade. Alguns vivem apenas momentos felizes, enquanto outros se iludem dizendo que sempre experimentaram um profundo contentamento. No entanto, sem a solidez do conhecimento que compartilho, qualquer garantia dessa emoção persistir no próximo instante é ilusória.

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Existe um indivíduo que proclama deter um conhecimento íntimo, pleno e fiel da felicidade. Eudes Gaspar Odorico, que, em uma aprazível manhã de segunda-feira — salientando que, para ele, todas as manhãs são agradáveis — desperta sem auxílio de despertador, ausência de ruídos domésticos ou urbanos. Seu aposento assemelha-se a uma sepultura climatizada, onde, à primeira vista, repousa apenas uma vasta cama de casal. No entanto, há discretos dispositivos voltados ao seu conforto e segurança. Embutidas nas paredes, caixas de som passam despercebidas. Por trás das cortinas de seda, uma grandiosa televisão simula uma janela. Nos elegantes lustres de luz indireta, dutos realizam funções de ventilação, aquecimento e ar condicionado. Tais recursos visam permitir que ele e a esposa, Eduarda, ajustem temperatura, luminosidade e sons durante as diversas fases do sono precioso. Adicionalmente, portas blindadas, conexão à internet e monitoramento domiciliar por câmeras de segurança integradas ao dispositivo do quarto são providenciados. Nesta última madrugada, a simulação incluiu sons artificiais de tempestade com chuva e trovões, e uma sensação térmica de quinze graus Celsius, sob um edredom de fios egípcios com plumas esterilizadas do pescoço do ganso siberiano. Programado pelo aplicativo do sono, a partir das sete da manhã, a temperatura aumentou gradualmente com o aumento da luminosidade, acompanhado pela melódica serenata dos mensageiros dos ventos. As cortinas se abriram automaticamente, revelando vistas orientais esplêndidas. Pontualmente, o ambiente estava sutilmente iluminado, com temperatura agradável, executando uma sinfonia inspiradora e proporcionando uma visão extraordinária, conduzindo o casal a um despertar, aparentemente, espontâneo, com suas energias revigoradas. Ele e a mulher viajarão para a Capital do Leste a negócios. Em suas viagens a negócios, Eudes e sua esposa desfrutam de todo o conforto e luxo à disposição, transformando qualquer deslocamento em uma experiência extremamente prazerosa.

— Amor? — ele chama, com um sorriso estampado, descendo a imponente escada em "T" da majestosa mansão. — Meu café colonial está pronto?

— Não. Tenho mais o que fazer. Hoje, você vai ter que se contentar com um café de cápsula. As crianças ligaram e disseram que estão muito atarefadas com os estudos no Velho Mundo. Elas não poderão vir para o seu aniversário no mês que vem — diz, enquanto dedica-se a uma tarefa no tablet.

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