Há milênios, aquele que afirma ser Eu, inicialmente criado por Mim para mediar a relação entre desejos individuais e obrigações coletivas, insurgiu-se contra Mim e contra todos. Movido por egoísmo, apostou que, para uma vida mais próspera, era imperativo controlar diversos aspectos ao seu redor. Grande parte de seu comportamento controlador tem início com o domínio da agricultura e pecuária. Assim, obtém acesso fácil a alimentos, dispensando a necessidade de perseguir a comida. Transcendendo de nômade caçador a agricultor, experimenta uma sensação de vida aprimorada. Posteriormente, erige barragens para controlar a água, manipula os metais para criar ferramentas e armas, subjuga as pessoas estabelecendo relações de poder, constrói famílias desarmônicas, arquiteta cidades desconexas e estende sua conquista para impérios continentais.
***
Eduarda, companheira do esposo desde a adolescência, não ostenta o sorriso perene como seu marido, mas juntos configuram um par considerado ideal, não apenas pela opulência material, prosperidade nas carreiras e pelos filhos estudando no exterior. Possuem o privilégio de desfrutar de todo o conforto proporcionado pela vida contemporânea, adquirido com os frutos financeiros. Ela, com destreza, coordena todos os aspectos: colaboradores, lar, empresas, jornadas pelo mundo, todos os elementos. Talvez seja por essa razão que tenha experimentado profundo nervosismo ao perceber que estavam incontactáveis. Ao testemunhar a metamorfose do colossal cogumelo de fogo em uma imponente cortina de fumaça obscura, ela levou sua mão à boca entreaberta e pronunciou pausadamente.
— Mas o que foi isso, uma bomba?
— Não. Isso não foi uma bomba. O avião caiu! — conclui Eudes, como se aceitasse que as circunstâncias escapam ao controle e o destino reserva surpresas indesejadas.
— Não posso acreditar — diz, espantada, com as palavras que ecoam em sua mente como de uma revelação surpreendente e inesperada, levando a uma conclusão de livramento. — Podia ter sido a gente naquele avião.
— Minha nossa — diz Dona Maria, entre surpresa e tristeza, frente a tragédia que se desenha diante de seus olhos. — Que Deus guarde essas almas.
A magnitude do susto foi tão expressiva que foram impedidos de contemplar o esplêndido firmamento vermelho, condizente com um deslumbrante alvorecer.
Após alguns segundos, seu Francisco pergunta calmamente, dando voz a uma solução serena e ponderada: — E o que a gente vai fazer, se o celular não pega, seu Eudes? Será que o telefone fixo funciona? Tem que ligar pros bombeiros.
Eudes precipita-se na análise do aparelho telefônico, buscando avaliar suas funcionalidades.
— Nada. Está mudo. Vamos lá, seu Francisco. Vamos dar uma olhada. — Os dois correm até a garagem. Chegando lá, com a chave do carro na mão, Eudes se espanta novamente. Seus olhos arregalados buscam enxergar a situação obscura. — O carro não abre. Como é que pode? Estou apertando o botão, mas a trava não funciona.
— Abre com a chave, Eudes! — diz Eduarda, assim que chega, tentando recuperar o fôlego, com sua mente já trabalhando em uma solução lógica para a situação. — Se não abre com o controle, tenta direto na fechadura, ué.
— É verdade.
Ele então destrava, adentra no veículo e tenta dar a partida. No entanto, o carro não responde, nem emite qualquer som. Eudes sai do carro com os olhos arregalados e pondo as mãos na cabeça, como se assim pudesse conter a confusão mental que se espalha por seu cérebro. — Algo está errado. Alguma coisa fez a internet parar, a energia acabar, o celular desligar e o avião cair. Nada mais funciona. O telefone fixo, o controle do carro, o carro. Tudo está relacionado. O que está acontecendo?
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Segredos, Evidências e um Limitado Futuro
Fiksi IlmiahApós um simples e corriqueiro fenômeno, grandes consequências em efeito cascata surpreendem a humanidade. Agora, urge confrontar os eventos em um universo distópico, onde o conceito de certo e errado muda a cada instante. Prepare-se para ser consumi...