[06] caso perdido

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          Quando Rafaela afastou-se abruptamente de mim, fiquei alguns minutos parado no mesmo lugar tentando entender o que eu havia feito de errado para ela sair tão rapidamente de perto de mim. Depois de cansar de entender os motivos dela, me retirei da beirada da piscina e fui até minha mãe que ainda me olhava triste. Ela sempre quis que eu me desse bem novamente com a Rafa e que eu me aproximasse novamente dela.

Ela dizia que Rafaela era a minha salvação do tanto de problema que eu me metia, e enquanto eu não admitisse isso para mim mesmo, eu não poderia ter minha melhor amiga de volta.

Beijei sua bochecha e me despedi dela alegando que iria me deitar, já que eu tinha pretensões de sair para surfar bem cedo no outro dia. Deixei ela na sentada na poltrona com o aviso de que ela não demorasse muito do lado de fora por conta da friagem.

Entro pela cozinha e procuro alguma comida para poder levar para o quarto. E quando estou atacando a geladeira, escolhendo algumas frutas e uns frios escuto a voz de Tio Ricardo atrás de mim. Seguro as frutas e o iogurte em minhas mãos e coloco no balcão ao lado da geladeira antes de virar-me para ele.

— A gente pode conversar, filho? — perguntou chamando-me de filho como quase sempre costumava fazer. Eu o considerava como um pai para mim, principalmente depois que o meu fez questão de não ser mais presente e ser totalmente um escroto com minha mãe.

— Aconteceu alguma coisa?

Ele me olha e sorrir de lado, passa a mão no queixo como se coçasse a barba que tivera por anos e que agora não tinha mais e depois aponta para a cadeira da mesa para mim.

— Vamos sentar, pode ser?

Sento em uma das cadeiras acompanhado dele que parece ficar meio perdido na situação toda. Assim como eu. Tio Ricardo bebe um gole da cerveja que tem em suas mãos e me oferece um gole, mas eu não bebo desde da última vez que fui parar no hospital e prometi a minha mãe que iria parar com toda a confusão que estava fazendo nas nossas vidas. Então eu havia parado de beber, até mesmo socialmente, e me envolver em confusões. Por isso recuso.

— Sabe, é até bom assim mesmo.

O olho sem entender muito bem onde ele quer chegar e faço um barulho com minha garganta fazendo com que ele olhe para mim e depois olhe de volta para a sua garrafa de cerveja, antes de voltar a olhar para mim novamente.

— É estranho ter essa conversa com você... Até mesmo começar esse tipo de conversa.

— Desculpa Tio, mas eu não estou entendendo.

E não estava mesmo. Onde ele queria chegar com aquele assunto?

— Você e Rafaela sempre foram muito próximos quando eram pequenos. E quando vocês começaram a se afastar, ela, assim como você sofreu bastante com o processo. Ouso dizer que você até mais, já que foi no momento em que seus pais estavam se divorciando, mas a Rafa é a minha filha, é o bem mais precioso que eu tenho nessa vida e não gostaria de ver ela sofrendo novamente com toda a situação se vocês se afastarem novamente.

Não entendo muito bem o que ele diz, então fico calado, apenas pensando em suas palavras e como elas podem ter algum sentindo. Quando minha mente clareia um pouco é que ouso falar.

— Você 'ta falando que se eu me afastar da Rafa novamente ela vai sofrer?

Ricardo balançou a garrafa de vidro entre os dedos enquanto me olhava sério.

— Eu conheço seus planos, filho. E eu não queria que vocês se reaproximassem para depois sofrer um em cada canto novamente, eu conheço vocês e os sentimentos que nutrem um pelo o outro.

Fico perplexo. O que ele estava insinuando? Que eu queria me aproximar da Rafaela novamente só para faze-la sofrer tudo novamente?

— Não, você não sabe — falo fazendo com que minha voz saia mais alta do que o esperado. — Se soubesse dos meus sentimentos sobre sua filha, saberia que eu nunca vou querer, ou quis magoar a Rafaela de algum jeito.

Ele me olha assustado, como se não esperasse minha resposta ou até mesmo o meu tom de voz. Vejo por cima do seu ombro, minha mãe e tia Claudia passando pela porta da cozinha indo direto para o andar de cima, mas com os olhos atentos em nós.

— Rafa, se acalma, você não entendeu o que eu quis dizer...

Não o deixo terminar sua frase e levanto rapidamente da cadeira, tomando cuidado para não deixa-la cair.

— Acho que nossa conversa já chegou ao fim, tio Ricardo. Tenha uma boa noite.

Digo e não obtenho respostas dele, que parece cabisbaixo com meu tom de voz e o rumo que a conversa tomou, mas era assim que todas as minhas conversas terminavam, com alguém machucado e só de pensar que algum dia eu machuquei Rafaela com meus atos, um sentimento ruim toma conta de mim. Decepção de mim mesmo. Subo rapidamente para o meu quarto, sem levar nenhuma das comidas que separei, já que toda a fome que eu tinha foi embora com aquela conversa.

Deito em minha cama e fecho os olhos fazendo com que lembranças me bombardeiem quase todas imediatamente. A separação dos meus pais, meu afastamento da Rafaela e todas as confusões em que eu me meti desde então. E tudo isso parecia realmente me fazer um caso perdido, e eu não me orgulhava nem um pouco disso.

Rafael RafaelaOnde histórias criam vida. Descubra agora