[18] mares calmos não fazem bons marinheiros

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Logo depois de chegar do hospital naquele dia, eu presenciei a maior briga dos meus pais. Estava dormindo na sala quando os gritos do quarto deles me acordaram. Eu não sabia que horas eram e nem por que eles estavam brigando, então corri para a garagem de casa e me escondi entre uma estante e uma parede. Um pequeno espaço que cabia só a mim. Minha mãe me achou tempo depois e sua expressão não era nem um pouco feliz.

Aquela noite foi a pequena pedra que desencadeou a avalanche.

Aquela briga foi o estopim para toda a revolução.

Dois anos depois, quando minha mãe não aguentava mais ser traída e humilhada por meu pai, ela pediu o divórcio. Ele havia tido um caso com uma das nossas vizinhas e aquilo para ela havia sido o fim; E para mim também.

Todos acham que eu tenho raiva do Marcos pelo o que ele fez com minha mãe, mas não é. Ana Maria é forte o suficiente para não ficar a vida toda mal por um homem sem escrúpulos e que não respeita a própria família.

Tenho raiva do cara que me deu a vida junto com minha mãe, por que ele era o meu herói quando era menor. Eu sonhava em ser como ele, ter um casamento como o dos meus pais, um amor como o deles.

Mas tudo foi destruído com suas atitudes egoísta, com seu cinismo e suas escapadas com outras mulheres.

O meu herói; O homem que eu acreditava que poderia me salvar de tudo o que acontecesse comigo, não existia mais;

Ele havia virado pó.

Desde então, eu também virei pó.

Não nego que dei trabalho para minha mãe e para quem realmente gostava de mim. Me afastei de pessoas que só queriam o meu bem por achar que ninguém realmente me entendia.

Me meti em confusão, em brigas sem razões. Usei drogas licitas e até algumas ilícitas, sinto vergonha de todo o meu passado negro depois dos doze anos. Eu estava perdido no mundo e não havia luz no fim do túnel para mim. Eu estava acabando com minha vida e com a da minha mãe. Eu era um caso perdido... Até aquela noite.

Foi minha última confusão. A última encrenca que eu me meti. Eu estava na delegacia depois de beber embreado e agredir um policial. Eu tinha apenas 17 anos e já era uma vergonha para todo mundo. Não tive coragem de ligar novamente para minha mãe, eu havia brigado com ela antes de sair de casa e a deixei chorando na sala de estar depois de achar mensagens do meu pai em seu celular. Eles falavam carinhosamente entre si e eu não aceitei aquilo. Como ela poderia falar daquele jeito com ele? Com o homem que destruiu minha vida e a dela? Como?

Liguei para Ricardo. Passei três horas na delegacia e pedi de joelhos que ele não ligasse para minha mãe, que ele não falasse nada daquela noite para ela. Eu já havia decepcionado bastante.

Ele me levantou do chão sujo da delegacia, me deu dois tapas no rosto e me mandou acordar para a vida. Me falou que eu era um garoto de ouro e que estava jogando toda a minha vida no lixo fazendo coisas que eu não faria normalmente. Ele me conhecia desde que nasci. Mas não conhecia meus sentimentos naquele momento, mesmo ele sendo apenas um; Vergonha.

Tio Ricardo me tirou da delegacia, me pagou um café e me levou para sua casa. E quando ele entrava no grande edifício em que moravam, eu a vi saindo de casa acompanhada de duas garotas e entrando em um carro branco. Seu pai ficou parado tempo suficiente para que eu a visse beijando o garoto que havia no banco do motorista.

E só então, naquele momento, eu vi o quanto eu havia acabado com uma grande parte da minha vida e de qualquer chance que eu tivesse com a garota que eu sempre gostei. E naquela hora eu percebi, eu tinha que mudar.

Rafael RafaelaOnde histórias criam vida. Descubra agora