[19] l a r

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Eu conversava com ela toda semana. Um ou duas vezes até. Eu não iria perde-la novamente, não deixaria Rafaela escapar de novo de mim. Passar seis meses viajando os países pobres da África havia me dado uma visão diferente de mundo. Era incrível como pessoas que não tinham praticamente nada, conseguiam manter um sorriso no rosto e não se desesperar com tanto sofrimento.

Havia fome, doenças, violência, poucos recursos, poucas moradias e muitas crianças abandonadas em orfanatos... Mas nenhuma dessas coisas me fez desistir do que eu descobri naquela viagem. Eu queria ajudar, cuidar de quem precisava e necessitava. E depois de seis meses, pronto para voltar para casa, foi o que eu descobri o que eu queria; Eu iria cursar medicina e ajudar quem precisasse. Depois de passar um semestre ajudando e auxiliando enfermeiras e médicos sem ganhar um centavo com aquilo foi que eu entendi o sorriso da Valeria quando me atendia quando eu tinha apenas dez anos.

Ela gostava do que fazia. E eu também.

Era meio de Julho quando eu resolvi colocar todos os meus poucos pertences em minha única mochila e voltar para o Brasil. Minha alma e meu corpo podiam ser do mundo, mas meu coração era de uma pequena garota que morava no Rio de Janeiro e que me incentivava em cada atitude que eu tinha, em cada vontade e sonho que nascia em mim.

Peguei o primeiro voo que achei para meu país, com uma foto que eu havia imprimido em um papel qualquer no escritório da ONG no último país que eu estava. Mais de 11 horas de viagem em que eu só tinha um pensamento em minha cabeça. Encontrar com Rafaela e sentir o doce aveludado toque de seus lábios contra o meu, sentir o calor de seu abraço para ela perceber que eu realmente havia voltado para ficar.

Minha mãe me recebeu no aeroporto com seu novo namorado e um abraço tão apertado que quase me fez me arrepender de tudo o que eu havia feito durante o tempo só de saudade que eu senti daquela mulher. Ela era minha super heroína, minha mulher maravilha e toda a força que eu tive de continuar fazendo meu trabalho nos países em que visitei também foi por causa dela, que me aconselhou e me fez continuar com meu sonho de fazer um mundo melhor.

Almoçamos juntos e pude conhecer ainda melhor Thiago. O homem que fazia minha mãe sorrir de um jeito que eu não via há anos. Depois de matar as saudades, cheguei em meu quarto e vi o quanto havia mudado depois daqueles últimos dias que passei ali. Da noite em que dormi pela primeira vez ao lado de Rafaela, das nossas juras de amor e de tudo o que havia acontecido ali. Abri as janelas para entrar um sol e fazer todo aquele quarto escuro se iluminar. Tirei as cortinas pretas e pedi para que a empregada trouxesse toda a roupa nova para lá. Tirei os pôsteres de bandas, tudo o que me lembrava ao velho Rafael e coloquei em grandes caixas de papelão.

Tomei um banho bastante demorado, tirei minha barba que já estava bastante grande e vesti uma roupa limpa. Não deitei nem para descansar da viagem, fiz uma outra mochila com roupas leves e peguei a chave do meu antigo carro. Rafaela havia me dito que iria passar uma semana na casa de búzios para descansar um pouco do estresse que a faculdade lhe causava, na nossa última conversa. Então ela não sabia que eu havia voltado.

Dirigi por mais algumas horas e peguei uma grande chuva ao chegar em Búzios. Deixei o carro estacionado do lado de fora e com a chave que havia pegado das coisas da minha mãe, abri o portão lateral e enquanto caminhava para dentro da casa, a vi na varanda da janela, seu olhar para mim era de confusão, mas quando percebeu que era eu, caminhando até ela, abriu seu sorriso mais lindo me fazendo perceber que sim. Rafaela era meu lar nessa imensidão de mundo e que ela e Búzios nunca haviam saído de mim. 



fim

Rafael RafaelaOnde histórias criam vida. Descubra agora