[10] problemas no paraíso

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Eu reviro os olhos pela milésima vez ao ouvir Renan falar mais asneiras para cima de mim. Olho pela janela o sol se pondo no mar e solto um suspiro de frustração.

— Você pode calar a boca e me ouvir? — falo grosseiramente e recebo silencio como resposta. Respiro fundo antes de falar novamente — Eu estou de férias Renan, além de que eu não sou obrigada a levar meu celular comigo sempre só por que você quer.

— Sim, mas você depois reclama no meu ouvido que eu não te ligo, que não lhe mando mensagens, pois quando eu tenho o tempo para falar com você, você ta' sei lá aonde com aquele garoto.

Respiro fundo para não mandar Renan para um lugar não muito agradável.

— Se eu tenho que esperar você ter um tempo para mim, então pra que estamos juntos? Não quero migalhas suas, Renan. E não ouse colocar Rafael nessa conversa.

O escuto rir sarcasticamente do outro lado da ligação.

— Até duas semanas atrás, você queria fazer de tudo para não ir nessa viagem, agora até passar o dia com ele na praia você está passando.

Solto um grunhido de raiva e tento me acalmar.

— Essa conversa não vai nos levar a lugar nenhum Renan, então acho melhor a gente conversar quando voltar para o Rio. Nesse momento é o melhor a se fazer.

— Você ainda tem duas semanas ai, Rafaela! — praticamente grita e sou obrigada a afastar o celular um pouco do meu rosto.

— Duas semanas para você aprender a falar direito comigo. Sou sua namorada e não qualquer pessoa que você pode gritar quando bem quiser... Se bem, que não é aceitável gritar com ninguém!

Já estou quase arrancando meus cabelos, ou jogando meu celular pela janela quando ele fala:

— Não se arrependa da sua escolha, Rafaela.

E desliga o celular;

Na minha cara;

E sem ao menos me deixar responde-lo.

Me jogo em minha cama e jogo o celular em qualquer lugar dela. Pego o travesseiro e grito de raiva. Renan era totalmente insuportável quando queria.

— Problemas no paraíso? — escuto Rafael falar, mas continuo com o rosto afundado em meu travesseiro. — Já te falei Rafa, tentar sufocar a si mesma com o travesseiro nunca dá certo.

Sorri rapidamente e viro-me na cama, saindo de perto do travesseiro e ficando de barriga para cima. Senti apenas o colchão da minha cama afundando e Rafael deitando ao meu lado.

— Nunca entendi por que as pessoas pensam olhando para o teto.

Seguro o riso e viro-me para ele.

— Fala camarão, o que você quer. — implico com ele pelo o fato dele estar tão vermelho que parece um crustáceo.

— Você nem pode falar nada, você está do mesmo jeito.

E eu estava igualzinha a ele, pelo o fato de que não havíamos passado protetor solar durante a aula de surf, fora que ainda tinha parte das minhas coxas que estavam roxas de tanto bater na lateral da prancha enquanto caia.

— Aceita sair comigo essa noite? — me pergunta e mordo o meu lábio inferior pensativa.

— Nossos pais ainda estão com raiva? — pergunto lembrando da bronca que levamos mais cedo por ter saído na calada da madrugada sem avisar.

— Já estão cientes, não se preocupe.

— Que horas então?

— Lá para as sete, te espero então?

— Sim! — falo animada e o vejo sair do meu quarto logo depois da minha resposta. Sento na minha cama com um sorriso bobo no rosto e vejo meu celular na ponta da minha cama lembrando da minha briga com o Renan antes da minha conversa com Rafael, mas por algum motivo muito bom, eu não estava me importando nem um pouco.

▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬

Eu havia trocado mensagens com Sarah o resto da tarde inteira. Primeiro para falar do ataque que Renan deu e depois para ela me ajudar com alguma roupa para sair com Rafael. Por algum motivo eu me sentia mais do que feliz. Era como se tudo o que eu tivesse desejado durante cinco anos estivesse acontecendo.

E na verdade estava.

Então quando ela me mandou a última mensagem aprovando a roupa que eu estava, decido descer.

O clima não estava tão frio, mas também não estava tão quente, então optei por um dos vestidos que mamãe enfiou na minha mala sem que eu soubesse, mas que quando eu coloquei em meu corpo, era perfeito para a ocasião.

Pensando assim, parecia até que eu estava me preparando para o primeiro encontro. Mas secretamente era assim que eu me sentia.

O vestido era branco e um pouco acima dos joelhos, de alças finas e na cor branca e contrastava com a minha pele vermelha queimada de sol. Ele era cheio de babados e na parte de trás tinha um pequeno decote que não ia nem até o meio das minhas costas, coloquei uma sandália rasteira e soltei meus cabelos da toalha que já havia secado um pouco. Me olho uma última vez no espelho do meu quarto antes de sair e encontrar com Rafael no meio do corredor.

Ele está lindo. Veste uma camisa de tecido e botões azul clara e suas mangas estavam levantadas até os cotovelos, vestia uma bermuda branca e carregava nas mãos as chaves do carro e sua carteira. Fico parada no meio do corredor enquanto ele caminha até mim sorrindo, beija o canto da minha boca fazendo meu estomago se revirar mil vezes e depois me olha nos olhos.

— Vamos?

Aceno com a cabeça desço com ele as escadas encontrando nossos pais na cozinha ao redor de uma garrafa de vinho, eles nos olham e papai é o primeiro a falar.

— Onde vocês vão mesmo?

— Rua das Pedras — Rafael toma a minha frente já que eu não sabia a mínima ideia de onde iriamos mesmo. Os três adultos nos olham sério e mamãe é a primeira a sorrir.

— Voltem cedo. Ainda não esquecemos o que fizeram.

Sorrio sem graça e Rafael passa a mão sobre meus ombros.

— Estaremos em casa antes das dez, agora, se nos dão licença...

Fala e o deixo me arrastar para fora de casa. A lua que já estava em seu posto iluminava o caminho até o carro com a ajuda de algumas lâmpadas.

— A onde vamos?

Pergunto já dentro do carro, ele apenas olha para mim e pisca.

Não entendo muito bem o que acontece dentro de mim a partir daquele momento, mas eu tenho toda a certeza que não poderia estar em melhor companhia. 

Rafael RafaelaOnde histórias criam vida. Descubra agora