onde tudo começou

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🍂🍁🍂

— Estou falando sério, Changbinnie! — Jisung declara, sentado no chão enquanto olha para mim. — Felix está estranho há dias, ele não faz mais piadas, não zoa mais os ex-namorados, não joga mais cantadas em todas as oportunidades possíveis... Ele até parou de fazer caretas para as fotos!

Suspiro, passando minha mão gelada pelo meu rosto.

— E o que isso tem a ver comigo?

Na verdade, eu sei o que.

— Você sabe muito bem o que — Han conclui, com os braços cruzados e um olhar que deveria ser assustador.

Apenas o deixa mais parecido com um esquilinho.

— Por que sou sempre eu que tenho de ter feito alguma coisa? Por que nunca o Channie, ou o Jeongin-ah?

Jisung nega com a cabeça, de olhos fechados, como se estivesse indignado com minhas palavras.

— Porque é sempre você, Changbin. Quer que eu liste?

— Na verdade, eu não quero.

Mas de que adianta? Ele as lista mesmo assim.

— Você vive o ignorando longe das câmeras, não senta mais com ele para as lives, não fica mais sem camiseta no mesmo cômodo que ele...

— Desculpa se eu fico desconfortável quando ele me encara.

— Mas Changbin, ele encara todos nós. Assim como nós também o encaramos. É natural do ser humano, sexualidade não importa.

— Olha Jisung, eu sou hétero, e eu cansei das investidas dele, okay? Tudo bem, ele pode ser bonito o quanto for e ter uma voz muito gostosa de ouvir, mas não vai rolar nada entre nós, porque: eu. sou. hétero.

Suspiro, olhando para o teto já cansado desse discurso.

— Ah, Changbin, me perdoa mas essa sua história de ser hétero já tá ultrapassada — o acastanhado fala, se levantando com raiva. — Você acha que ninguém percebeu o jeito que você olha pro HyunJin quando ele faz rap, né? Ou que ninguém notou que você fica nervoso sempre que ele está por perto?

Fico vermelho. Não era pra ninguém ter percebido isso, e não é que eu goste do HyunJin, mas ele é bonito demais, faz o coração de qualquer um acelerar com o jeito pegajoso dele.

Certo?

— Me dê paciência, Seo. Eu não aguento mais seu discurso de hétero de Taubaté pra cima de mim.

Meu melhor amigo bufa, já próximo a porta, e com a mão na maçaneta, mas se vira pra mim uma última vez.

— O HyunJin, ele é assim com todo mundo. Ele é carente, e é gentil e é muito bonito, mas ele não gosta de você, Binnie. Você já deve ter percebido, mas ele só tem olhos para o Seungmin que, olha só! É hétero de verdade. Então desencana dessa sua onda de "eu sou super hétero" — imita minha voz, olhando além dos meus olhos e depois voltando para mim — porque isso não engana mais ninguém. Bom, desculpe, engana o Felix, que você magoou com uma piada idiota.

Engoli em seco. Cada palavra vinha como um tapa na cara.

— E quando você ofende a sexualidade dele, você não ofende só ele. Você também ofende a mim, ao Minho hyung e ao seu amado Hyunjinnie. Eu já falei pro Chan que não vou mais aturar suas atitudes idiotas para com ele porque, como seu melhor amigo, eu devo te olhar nos olhos e dizer verdades às vezes, então preste atenção: vai ter uma hora que você vai perceber que precisa do Felix mais do que de qualquer um aqui, mas já vai ser tarde demais. Boa noite.

E assim, Jisung bate a porta, me deixando sozinho com meus próprios sentimentos.

🍁

— Ainda acordado? — escuto Chan dizer. Já são torno das duas da manhã e eu não consigo dormir, então decido acender meu abajur e rabiscar algumas letras de música pelo meu caderno de anotações. Jisung havia ido dormir no quarto de Minho e Seungmin, então estou sozinho no cômodo.

— Só... compondo um pouco — respondo, passando o polegar pelas palavras recém formuladas e registradas em tinta roxa.

— Também faço isso quando estou triste — diz, vindo em minha direção e se sentando ao meu lado. — Jisung estava chorando mais cedo, imaginei que algo tivesse acontecido entre vocês.

Fico quieto, e o permito se inclinar para dar uma olhada nas minhas palavras.

I'm sorry,

I'm sorry,

I'm sorry

É o que está escrito, como uma chuva de desculpas, entre o que planejei que fosse meu rap e o de HyunJin. Senti que a voz de Felix ficaria boa naquela linha, e já podia imaginar a batida.

— O que houve com vocês? Foi sobre o Felix?

Suspiro, concordando com a cabeça. — É sempre sobre o Felix.

— Você é duro demais com ele, Binnie. E ele é sensível, já sofreu muito por causa da sexualidade.

Arqueio uma sobrancelha.

— Ele nunca me falou sobre isso.

Chan arqueia uma sobrancelha também.

— Não é porque vocês são amigos que ele vai te contar sobre tudo. Foi uma época difícil pra ele, imagino o porque de não falar.

— O que houve com ele?

O mais velho dá de ombros. — Se ele não te contou, é porque você não merece saber e, se eu fosse ele, provavelmente não contaria pra você também.

Acho pesado, muito pesado.

Nunca imaginei que Felix me esconderia algo, afinal, nós somos bem íntimos.

Digo, éramos.

Chan e eu conversamos por mais alguns minutos, depois ele sai com sono e pede para que eu não demore a dormir.

Essa sim é uma missão impossível.

Passo a noite inteira revirando na cama, me perguntando sobre a história de Felix que eu não conhecia.

Estou curioso. E encucado. E o sol está nascendo pela minha janela, percebo que passei a noite em claro.

O dia hoje será um porre.

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