1 ano antes...
Camila P. O. V.
Me escondo ao ver Lauren entrar na escola. Ela e suas amigas são as mais populares do colegial, e quando digo populares, quero dizer ricas e maldosas. Abro o meu armário e me viro para ele, pego dois livros e realmente rezo a Deus que Lauren já esteja longe de mim. Mas como o destino é cruel, ao virar meu rosto para espionar se ela já passou, sou surpreendida pela mesma e sua amiga, Normani.
Lauren: Olha só quem eu vejo, Mani! - ela se aproxima de mim. — Então Karla, conta para nós, como é ter que usar as roupas da sua mãe? - ela passa o dedo indicador na gola da minha camiseta, que por sinal, está descosturada.
Normani: Espera, Lo! - ela se aproxima também com seu grande copo de chá gelado, que sempre compra na cafeteria da escola. — Lembra quem estava limpando o DriveBe ontem!? - Lauren sorri.
Lauren: Oh sim, Karla limpava! Estava bom limpar privadas? - engulo em seco. — Você deve estar acostumada, não é? Podre igual você!
Eu: Você sabe muito bem que sou atendente da lanchonete! - por um minuto, junto toda a coragem que consigo ter neste momento e não fico quieta.
Lauren: Mas limpa a sujeira de todos! - ela solta uma gargalhada alta, acompanhada de Normani.
Eu: Para com isso, Lauren! - olho para os lados, algumas pessoas já notavam o que acontecia aqui.
Lauren: Se é o que quer... - ela sorri pegando o copo de chá gelado das mãos de Normani e despejando o conteúdo sobre mim. Sem piedade alguma. — Agora você tem um motivo para trocar de roupa, essa está horrível. Ah, e faça o favor de limpar essa sujeira toda, assim como faz com os banheiros! Tchauzinho! - ela acena e sai andando depois de Normani me empurrar contra os armários atrás de mim.
Os meus olhos se enchem de lágrimas, mas me seguro para não chorar. Pelo menos não aqui. Fechei o meu armário e corri até o banheiro mais próximo, já ouvindo risadas e piadas sobre eu ter mijado nas calças entre outras coisas. Assim que bati a porta do banheiro comecei a chorar. Estou toda molhada. Estou me sentindo tão humilhada. Eu sei, deveria me conformar, pois isso acontece todos os dias, de um jeito diferente, mas acontece. Lauren sempre faz essas coisas comigo.
Eu: Droga! - me olho no espelho e me vejo de cabelos e roupas molhadas. Peguei papel higiênico e sequei o meu rosto e pescoço.
Abro minha mochila e vejo que só tenho um moletom cinza gigante dentro. Retiro minha camiseta molhada e cheirando a chá de pêssego, pondo-a na pia. Visto o moletom e agradeço mentalmente por cobrir até o meio das minhas coxas. Com a camiseta, começo a tentar secar os meus cabelos. Após alguns minutos fazendo isso, a ponho em um saco plástico, que guardava o meu "lanche". Me olho no espelho mais uma vez antes de sair do banheiro. É o final do período, muitas pessoas estão no corredor conversando. Sigo apressadamente até o grande pátio da escola, vejo Verônica e Harry comendo os seus lanches. Não falo muito com ela, mas digamos que somos amigas. Já Harry sou mais amigável e converso mais.
Harry: Hum... Que roupa é essa?
Eu: É culpa da Lauren! - reviro os meus olhos e me sento de frente aos dois.
Verônica: Todos estão fofocando sobre o banho de chá gelado que você levou. - olho para os lanches deles em cima da mesa.
Eu: Odeio todo mundo! - retiro de dentro da minha mochila o meu lanche, que provavelmente está gelado. Um sanduíche de presunto e um iogurte de morango.
Verônica: Eles são malvados com você.
Harry: Está mais fácil dizer que a Lauren é malvada com você. - confirmo com a cabeça ao morder meu sanduíche. — Hoje você trabalha?
Eu: Todos os dias eu trabalho! - reviro os olhos.
Harry: Sad... - faz bico. — Marquei um encontro com um boy no shopping, mas não queria ir sozinho.
Eu: Verônica não pode ir? - ela olha para mim.
Verônica: Aguentar Harry fora da escola? Não, obrigada! Eu tenho que estudar!
Eu: Não foi desta vez, Hazza! - sorrio sem mostrar os dentes.
Continuo a comer o meu lanche, sem prestar muita atenção no que os dois na mesa falavam. Acho muito injusto ser pobre e estudar com pessoas como todos a minha volta. Poucos são de classe baixa como eu. É o meu jeito de me vestir, de comer, de ser. Tudo é diferente e inferior. Trabalho e mal vejo o meu salário. Praticamente tudo vai para as contas de casa. Não é fácil ser uma faz tudo em uma lanchonete, as vezes até preparo os pedidos. Enquanto minha mãe é empregada doméstica em uma casa de ricos. Nossa vida é para pagar contas atrasadas da casa.
Estou cansada dessa vida, não quero isso para mim. Inventei qualquer desculpa para poder ir pra casa após o intervalo. Eu só queria dormir e nunca mais acordar. A casa está vazia, pois minha mãe já saiu para trabalhar, fui para o meu quarto. Deitei em minha cama, coloquei meu despertador para tocar próximo às 14:30, e fechei os meus olhos. Hoje faria hora extra até a meia noite. Minha cabeça doía, então peguei no sono rapidamente.
Acordei antes mesmo do despertador tocar, mexi um pouco nos aplicativos do meu celular, que não são muitos. No feed do meu Facebook apareceu o anúncio de um site estranho, de acompanhantes. “My Sponsorship”, é o nome do site. Entrei na fanpage e comecei a rir imediatamente, dizia claramente que senhores queriam a companhia de jovens para uma diversão diferenciada. Logo pensei que fosse um Tinder da terceira idade.
Ignorei essa página e larguei meu celular na cama. Retirei minhas roupas e fui para o banheiro, tomei banho rapidamente e vesti o meu uniforme, pois tenho certeza que vou me atrasar. Passei muito tempo no celular, tanto que perdi a hora. Fui até a cozinha/sala, olhei cada armário que tem, praticamente vazios, geladeira sem comida alguma, somente água e uma caixa de ovos pela metade. Preferi ir direto trabalhar, o senhor e a senhora Jones são muito bons comigo. Sempre que preciso me dão almoço e até mesmo o jantar para mim e minha mãe. Infelizmente vou ter que aceitar hoje. Eu realmente odeio pedir algo a alguém ou sentir o olhar de pena das pessoas.
Ao chegar no DriveBe, cinco minutos antes do meu horário, Senhora Jones foi logo me perguntando se havia almoçado. Neguei com a cabeça e prontamente o tio Forbes, cozinheiro da lanchonete, preparou algo para mim comer. Assim fiz, comi rapidamente para poder começar o trabalho. Eu até gosto de trabalhar, mas não gosto de quem frequenta o DriveBe, pois a maioria dos clientes são da escola. As vezes até a Lauren pisa por aqui, mesmo sendo um pouco mais humilde do que ela costuma frequentar, ela ama me humilhar.
Infelizmente tenho que aguentar esse bullying todo os dias para não perder o emprego, e também para não virar chacota número um na escola. Afinal, Lauren e sua família praticamente mandam na cidade toda. Bem... E essa é a minha vida.
