Fazia quase quarenta graus e eu nem tinha lembrado de passar protetor solar!
Por que Mel tinha que comprar aquele tapete? Era feio, horroroso! Eu estava sem paciência, na verdade, estava num eterno looping de mau humor. Não podia culpar Mel ou qualquer outro, minha falta de animo era apenas minha culpa. Eu também não queria aborrecer ninguém, por isso fazia tudo que me pediam, saia de casa pra passear, ia para sessões desnecessárias com a terapeuta... Tudo que me pediam eu obedecia prontamente sem reclamar, não havia vontade para viver em mim... Logo agora que eu havia encontrado minha família, não queria decepcioná-los, mas eles sabiam. Sabiam que havia algo faltando em mim, todos tínhamos ciência disso, falta apenas encontrar esse algo, então, talvez, eu encontre algo pelo qual valha a pena viver.
Mel gritava algo do outro lado da rua, eu devo ter ficado distraída com meus pensamentos. Tentei chegar até ela, mas uma multidão me impediu. De repente o caminho estava completamente bloqueado, eu nem conseguia vez Melane do outro lado da rua. Caminhei alguns passos me espremendo no meio da multidão, passando pelas pessoas na base da cotovelada. Como essas pessoas vieram parar aqui? Era algum tipo de parada ou desfile que eu não sabia? Eu cheguei ao que parecia ser o extremo da multidão, havia um cercado... Não, eram barras de segurança. Eu toquei o metal me perguntando como aquilo tinha parado ali. Olhei ao meu redor e fiquei perplexa quando a avistei.
Eu já havia visto essa garota, mil vezes em meus sonhos... O mesmo cabelo cor de ouro, os mesmos olhos azuis, mesmo sorriso doce... A garota estava na sombra de um toldo de uma loja qualquer. O ambiente pareceu ficar mais quente, com certeza por causa da multidão.
Foram precisos dois passos para a garota sair da sombra. Quando o sol tocou sua pele meu coração errou as batidas. Ela estava brilhando, como um se sua pele fosse feita por milhares de pedaçinhos de diamantes. Centenas de pequenos arco-íris eram refratados pela luz que tocava sua pele... Eu mal podia ver seu rosto, tamanha era a intensidade do brilho que ela irradiava.
As pessoas pareciam não perceber a garota brilhante, já eu não conseguia tirar meus olhos dela... Completamente hipnotizada pela dança de arco-íris que acontecia quando ela mexia as mãos no ar. Minha admiração, num rompante, deu lugar ao desespero. Numa explosão de luz e calor a garota começou a pegar fogo, os arco-íris deram lugar a chamas e labaredas de fogo que pareciam ter vida própria... O grito desesperado que saiu da sua garganta fez meu corpo se mover, eu tentei atravessar as grades, mas eram altas demais; tentei gritar, mas as pessoas pareciam não me ouvir... A garota caiu no chão gritando de dor e eu ali, sem poder fazer nada... Minha agonia só aumentou quando ela parou de se debater. Estava morta? O que havia acontecido? Para onde foram as pessoas? Por que tudo estava ficando tão escuro?
A garota, ou o que restara dela, levantou e começou a caminhar na minha direção. Eu não sabia o que sentir: Medo? Agonia?Empatia?
A mão carbonizada se ergueu e tentou alcançar meu rosto, mas antes que nossas peles se tocassem alguém me acordou.
"Lana!" A voz de Mel parecia mais nítida agora.
"O que...?" Eu disse. Estava sentada na mesa que ficava no meio da sala do nosso apartamento. As coisas foram ficando mais nítidas e lembrei-me que eu havia sentado para estudar... Devo ter pegado no sono. "Eu tava falando de novo?" Perguntei. Isso vinha acontecendo com uma freqüência significativa.
"Gritando!" Ela passou a mão nos meus cabelos. "Fiquei preocupada."
"Não é nada." Dei um sorriso fraco. Isso só fez a tristeza no seu rosto aumentar.
"Quer comer alguma coisa?"
"O que temos?" Ela sorriu e pegou o celular em cima da mesa.
"O número de uma dúzia de pizzarias, do restaurante árabe ali no final da rua, do restaurante chinês do outro lado da cidade... Tantas opções." Eu ri junto com ela. "Quer ir até lá ou vamos comer aqui mesmo?" Ela perguntou com leve tom de animação.
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Imortal - Livro II
WerewolfÉ preciso lutar para conquistar aquilo que tanto deseja. É preciso ser forte para passar pelas dificuldades. É preciso esquecer a normalidade para alcançar o extraordinário. Após os eventos de "Infinito" Lana está em busca de algo perdido, a luta p...