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Acredito que existe um motivo para todos estarmos vivos. O porque de estarmos respirando, o porque de nossos pulmões não terem nascido cancerígenos, o porque de nossos corações baterem 60 a 100 vezes por minuto sem erro. Sempre me perguntei o sentido disso tudo, afinal deve ter um motivo pra eu estar de pé hoje.

Já tinham se passado umas semanas depois da festa, eu só vi Andrew nos corredores com os outros caras fedidos do time de futebol inclusive o que briguei na festa.

Estou na minha primeira vez abrindo um cadáver sozinha na aula de anatomia, não literalmente sozinha, é claro. Fiz par o Alex, o garoto que deu a festa de boas vindas ao calouros. Lembrar que eu estraguei totalmente a diversão me fez sentir um pouco culpada, pedi desculpas e ele disse “Tudo bem, Davis é mesmo um idiota.” agora o babaca do time de futebol tem um nome.

— Sua casa é bacana. - digo enquanto abria o peito do cadáver com um bisturi. Me senti um pouco triste por ele, aliás eu nem sei o nome do pobre coitado, um dia se está feliz com sua família, no outro morre e vira rato de laboratório pra estudantes universitários.

— Obrigada. Quantos anos você tem?

— Dezenove.

— Ugh, nova.

— Você fala isso como se tivesse sessenta. Tem alguma sabedoria para passar pra nós, meros humano Yooda? — ele sorriu e passei o bisturi pra ele.

O professor apenas disse para removermos todos os órgãos do cadáver, e aprender. Eu não sabia muito bem oque estava fazendo mas espero que seja isso. Alex está me ajudando bastante, pelo fato de ele ser veterano e saber um pouco mais sobre isso.

Colocamos todos os órgãos do pobre coitado num balde inox. Quando fechamos ele, ficamos encarando o corpo pálido na mesa por longos segundos.

— Deveríamos dar um nome a ele, não acha?

— Sr. Ned? — sugiro e ele concorda com a cabeça.

— Sentimos muito, Sr. Ned.— alex diz olhando pro cadáver e apenas ficamos em silêncio até o professor voltar a falar.

Depois que aula acaba, sento no refeitório com Noah e Diana, eles ficaram perguntando o que conversei com Alex, talvez seja por que ele seja bem popular, e pessoas populares não falam comigo. Me perguntei também porque ele foi legal comigo mesmo que tenha arruinado sua festa. Simpatia, talvez?

— O que vamos fazer hoje a noite? — Noah pergunta animado, tínhamos uma tradição de toda sexta sair comer e beber.

— Tenho muita coisa pra estudar. — Eu digo tentando fugir mas só ia ficar em casa vendo série.

— Pare de mentir eu sei que você vai ficar em casa comendo de pijama.

— Tudo bem, tudo bem.. — dou um pausa pra dá uma mordida no meu sanduíche — podemos ir num bar onde tenha cerveja e comida.

— Ugh você só pensa em comida. — Sempre.

Depois de ficarmos um tempo conversando Noah me leva pra casa e eu aproveito pra dormir um pouco.

Já era 10h57 da noite quando ouço a buzina estranbolica do carro de Noah, acho que dava pra ouvir até do outro lado da cidadem Pego minha chave e um casaco.

Entro no banco de trás, estava tocando a canção "Creep" do Radiohead no último volume.

— Aaaah vocês querem que eu entre em uma crise existencial?— fecho a porta do carro e logo pude sentir o cheiro de Cannabis.

Nós não somos viciados, apenas fumamos de vez em quando.

— Fazia tempos que não saiamos juntos. — Diana diz enquanto passava batom e o Noah estende o cigarro de maconha pra mim.

The OceanOnde histórias criam vida. Descubra agora