The First Time

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- Eu vou te matar Cameron! - cuspo as palavras com intuição de avançar. Sinto que cada átomo de meu corpo clama por esmurra-lo sem parar. Meus punhos serrados, cenho franzido, respiração pesada e em minha mente só passa as imagens de eu esmurrando-o. Vê-lo a minha frente, inclinado e rindo junto com seus amigos retardados e encéfalos só me causa mais ódio.

Deixo que a mochila pendurada em meu ombro direito caia sobre o chão. Ameaço avançar em sua direção, mas então sinto duas mãos me segurarem pelos braços e olho rapidamente para os dois lados, vendo Alessia e Aaron me segurando. Eles estão com expressões de estarem assustados com algo, mas não me importo agora, tudo o que eu quero é quebrar a cara do imbecil a minha frente.

Não queria que estivessem me segurando, mas por fim isso é bom, porque estão, provavelmente, me impedindo de fazer alguma merda que eu vou me arrepender depois.

- Cameron, sai daqui! - ouço a voz de Aaron sair arrogante como autoridade e pausadamente como aviso. - Você está mexendo com a pessoa errada de novo, ele não é os nerds com quem costuma zombar, você o conhece bem, sabe disso.

- Ah, Aaron Carpenter - Cameron diz como se isso fosse uma piada, dando dois passos para frente, pensando na sua próxima piada sem graça. - Por acaso já teve aquela noite com a Alessia? Ou não? E aí Alessia, tem mercadoria boa? - e então começa a rir junto com seus amigos retardados, os irmãos Gilinsky e Johnson.

- Seu babaca! - Aaron me solta e avança em sua direção. Alessia tenta o impedir, mas não consegue.

Ele desfere um soco no nariz de Cameron, o fazendo recuar. Ao invés de ir e o impedir como fizera comigo, fico assistindo, feliz por alguém ter feito o que eu queria tê-lo feito.

Vejo pingos de sangue no chão e Aaron recuar um pouco. Olho para Cameron que está com uma mão no nariz, se recompondo e seus olhos demonstram ódio profundo.

- Seu idiota, olha o que fez! - e então tenta avançar, mas uma voz autoritária invade o pátio todo:

- Silêncio! Parem já com esta merda toda! - Cameron olha para trás dando espaço para Alessia e eu podermos ver o corpo rechonchudo do diretor Oliver Fox andando em nossa direção, puxo rapidamente Aaron para junto de Alessia, ficando em seu lugar. Cutuco o ombro de Cameron que me olha um pouco perdido e desfiro um soco em seu queixo, fazendo-o cair sobre seus amigos. De repente uma dor enorme invade meu punho e o sacudo algumas vezes. - Eu já mandei pararem! - Sua barba grisalha, terno marrom e uma gravata preta enforcando-o se agitam conforme anda saltitando nervoso em nossa direção. Os olhos nos fitando como se fôssemos fugitivos. Seus lábios formaram as palavras mais claras de minha vida, me causando arrepios: - Os dois para a minha sala, agora!

Cameron se recompõe e me olha, esfregando seu maxilar, posso ler sua expressão facilmente e faço meus lábios se curvarem em um pequeno sorriso de deboche.

- Você vai morrer... - ouço seu murmuro e solto uma risada nasal seguindo o diretor junto a ele.

- Um dia todos vamos - digo e acelero meus passos, não suportaria nem mais um segundo ficar do lado dele.

Desde o início do ano estivemos assim, nunca nos damos bem, nem se quer por um segundo. Mas é claro que nunca nos daríamos bem, ele acha que pode me controlar, ele acha que pode simplesmente entrar em Oxford College e agir como o rei. Ninguém aqui tem esse direito, os mais fortes sobrevivem, essa é a lei dos estudantes.

Não há uma pessoa se quer enquanto nós dois andamos pelo corredor, afinal, nós causamos guerras aqui e pessoas costumam sair feridas, um exemplo é o nariz dele.

Sento-me a cadeira esquerda a frente da grande mesa do diretor, com lápis, papeladas e objetos espalhados por toda ela. Há uma pequena placa dourada com seu o nome "Diretor Oliver Fox" estampado em preto no canto esquerdo da mesa.

Percebo de soslaio Cameron sentar-se ao meu lado e logo em seguida o diretor a nossa frente, ajeitando-se a cadeira e produzindo um pigarreio. A luz de sua sala não é tão notável por conta da iluminação das duas janelas atrás dele mantidas abertas. Olho para o meu lado da sala, vendo de primeira um armário enorme prateado, com várias gavetas com números diferentes e trancas no canto superior.

Solto um suspiro longo, percebendo a tensão do olhar de Fox sobre mim, mas decido não o olhar, não quero. Olho para o carpete avermelhado sob meus pés e começo a imaginar as broncas que vêm a seguir. Seriam todas as mesmas das quais já ouvimos antes por conta de nossas brigas e boatos de nossas brigas. Porém esses boatos eram feitos quando eu e ele estávamos prestes a nos cruzarmos nos corredores da escola, e algum ser humano abençoado já havia corrido até a sala do diretor e contado uma falsa e futura briga.

- O que vocês pensam que estavam fazendo? - ele cospe as palavras com ódio e então o olho. Seu olhar desvia do "encosto", vulgo Cameron, para mim.

- Estávamos acertando as contas - digo cinicamente sorrindo de lado.

- Ah, pronto, agora a senhorita vai dar uma de que é minha amiga - ouço o sarcasmo de Cameron e o olho, forçando um sorriso e vejo que ele faz o mesmo. Há um pouco de sangue seco em seu nariz, e isso, de alguma forma, me traz calmaria.

- Não costumo andar com cobras, fofa - digo ainda sorrindo e de repente um estrondo na mesa a nossa frente expande pela sala. Ajeito-me rapidamente a cadeira com um susto.

- Parem já com essa merda toda! - Fox está vermelho de raiva, em pé e com as duas mãos sobre a mesa. - Calem essas bocas antes que eu não decida expulsa-los de Oxford!

Engulo em seco. Não queria ser expulso daqui, eu simplesmente não posso. Por isso seguro uma risada que sobe por minha garganta, martelando minha boca para sair e forço uma tosse como disfarce.

Fox remexe em alguns papéis e então começa a escrever, suas mãos tremem de raiva. Fico preocupado de esse estresse todo causar um ataque nele. Tento ao máximo nem me mexer na cadeira, como se eu estivesse invisível e se eu me mexesse alguém iria me ver. Bizarro, mas as mentes de adolescentes são bizarras.

- Assinem isto... - ele coloca dois papéis à mesa, um para mim e outro para Cameron, dando uma caneta junto. - Estão suspensos por uma semana.

- Uma semana? - pergunto assustado. - Mas... E as aulas? Como assim? Os jogos e o resto?

- Ah, esqueci-me de avisar, estão suspensos dos jogos também - vejo seu corpo gordo de recostar à poltrona e rapidamente me imaginei espancando-o com esse papel.

- Isso é uma injustiça! - ouço Cameron reclamar e se levantar da cadeira, empurrando-a com as pernas.

- Injustiça? - Fox inclina-se para frente serrando os olhos e apontando um dedo para ele. - Você quer saber o que é injustiça? - ele apoia a mesma mão à mesa. - Injustiça é vocês causarem uma baderna na escola todas as semanas, desde que o ano começou e os outros alunos terem que pagar por isso. Injustiça é vocês acharem que mandam aqui e fazerem o que querem, achando que estão arrasando. Injustiça é ter que tomar calmante toda vez que vocês saem daqui. Injustiça é repetir todas as palavras todas as vezes, dar chances a vocês e simplesmente vê-los jogarem isso pelos ares e sair em brigas de novo. Então chega, senta essa bunda aí de novo e assina esse papel! - ele aponta para a cadeira e vejo Cameron sentar-se, contra sua vontade.

- Que seja... - suspiro e assino o papel e me levanto, saindo da sala e fechando a porta com toda a minha força.

Vejo Aaron e Alessia logo na saída da diretoria e suas expressões de preocupados. Na mão esquerda de Alessia está minha bolsa, e agradeço-a por tê-la pego.

- E aí? - Alessia dá um passo para frente entregando-me a bolsa. - O que ele disse?

- Suspensão - respondo para ela e então Aaron vem à frente.

- Mas e os jogos?

- Fui suspenso deles também - solto um suspiro longo e começo a andar.

- E para onde está indo? - olho para trás, vendo os olhos castanhos de Aaron perdidos. Seu cabelo castanho está bagunçado e sua roupa mais ainda.

- Para casa - esboço um sorriso fraco de canto e o desfaço. - Vejo-os mais tarde. - digo me virando e começando a andar. - Ah! - viro-me para ele novamente. - Boa sorte nos jogos de baseball sem mim - dou uma piscadela e volto a andar ouvindo a porta da sala do diretor ser batida mais uma vez e o resmungo de Alessia sair alto demais.

Você É Meu Último Dia - ShameronOnde histórias criam vida. Descubra agora