- Você me faz falta... – digo, acariciando a grama verde ao meu lado, viajando os olhos da lápide para seus olhos castanhos, reluzindo um tom um pouco mais fraco por conta do sol.
- Eu sei disso, mas vou sempre estar contigo... – sua voz torna-se a ser aquela de que eu quero ouvir pelo resto da minha vida.
Respiro fundo, abraçando meus joelhos e virando a cabeça, para olhar a sua silhueta mais uma vez. Vê-lo, mas sem tocá-lo, é uma perfeita injustiça da imaginação. Ele leva uma mão ao meu ombro, e não consigo não acompanhar com os olhos.
E esse movimento é o mais triste que alguém poderia presenciar.
Não sinto seu toque, ao contrário, sinto uma leve agonia onde eu deveria sentir sua mão. Meus olhos enchem de lágrima novamente e fungo, voltando a olhar para seus olhos que não param um segundo de me observar.
- Por que está aqui? – balanço a cabeça levemente, dando impulso ao corpo, semicerrando os olhos, tentando entender o porquê sempre que eu pensava nele, eu o via.
- Eu esperava que você me dissesse – um sorriso sorrateiro é pintado em seus lábios. Recua sua mão, levando ao cabelo e o desarrumando, algo que eu amava fazer, mas agora não posso mais.
Volto meus olhos para a lápide, vendo seu nome bordado, junto ao seu ano de nascimento e seu ano de morte. Especificamente, as datas juntas.
A pedra cinza, demonstrando tamanha depressão, deixa-me mais cabisbaixo a cada segundo.
- O que veio fazer aqui especificamente, Shawn? – olho para o lado e vejo-o arrumar-se ao meu lado, escorando seu braço, novamente sem sensibilidade, ao meu ombro.
- Eu? – minha voz caminha fraca pelo ar. Olho para o horizonte, tentando achar uma resposta hábil para a situação, para poder explicar-lhe, mas não há. Eu somente quero vê-lo ao meu lado novamente. – Eu não sei... não consigo nem ao menos entender o porquê te vejo sempre.
Mordo o lábio inferior, ainda procurando motivos para continuar a ver seu vislumbre, e também o porquê eu teria vindo aqui, ficar sentado em frente à sua lápide, remoendo momentos do passado em sua companhia.
- Sabe, você já foi um garoto mais esperto, sabia? – ele tenta uma brincadeira, tentando me animar, mas certamente não dá certo. A tristeza acumulada em meu corpo é tão grande que acho difícil seguir os conselhos de sua mãe.
- Talvez você seja uma imagem do meu consciente, que não aceita a perda, e quer te ver, quer sonhar com você, quer sentir seu toque, quer estar com você... – e como um flashback, a dança que tivemos, a imagem da noite passada, foi projetada em meus pensamentos. – Só não consigo entender o motivo de você estar aqui comigo, acordado, não me deixa sentir seu toque novamente, e quando sonho com você... é tudo tão real...
- É como você disse, Shawn, sou uma imagem do seu consciente – levo meus olhos assustados rapidamente para seu rosto, que, exuberantemente, exibe um sorriso simpático, tão real quanto a lápide a minha frente. – Estou aqui porque você me quer aqui, e ficarei aqui até o momento que você decidir que está na hora de eu ir embora, deixar você viver sua vida em paz, com pessoas novas, amigos novos, namorados novos.
- Não haverá outro namorado... – digo relutante, segurando o máximo que consigo as lágrimas dentro de meu corpo.
- É claro que haverá outros depois de mim – agora sua risada breve e sensível ecoa por meus tímpanos, fazendo-me chorar como cachoeira.
Tento o abraçar, e por mais que sua imagem me aguente, não consigo sentir seu cheiro, ou seu toque, ou seu corpo.
- Por que haverá outros além de você?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Você É Meu Último Dia - Shameron
Storie d'amoreUm ódio antigo que ainda interfere na vida de dois adolescentes que, instantaneamente e impulsivamente, tentam resolver da forma bruta, querendo mostrar quem é que está por cima de tudo, e que na maioria das vezes acabam na sala do diretor Oliver Fo...