Capítulo 3 - Duelo

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A caneta batia insistentemente contra o papel, atingindo as letras impressas sem marcá-las. O som constante não incomodava, sendo a forma mais fácil para estabelecer um compasso que marcasse a lista de possibilidades daquele caça-palavras. Toda vez que a caneta atingia o papel, três palavras eram descartadas, retomando a busca em suas memórias.

Já era comum para Eric gastar parte das suas tardes dessa forma, deitado de bruços no sofá, com seu tórax apoiado no colo de Butters, enquanto seus braços, cruzados, apoiavam-se em um quadrinho ou revistinha de atividades, procurando entreter-se enquanto organizava seus pensamentos. Sua paranóia era tomada por calmaria quando exercia atividades repetitivas, dispersando ideias em algo completamente improdutivo.

Para Butters era era a forma mais agradável de se gastar o tempo, sentado no sofá da sala do maior, deixando-o usar suas pernas como almofada. Suas mãos estavam sempre ocupadas em momentos assim, uma afagando os cabelos castanhos claros e a outra no celular, jogando jogos ou respondendo mensagens. Vinham repetindo essa rotina há muitos anos, sabendo que sua presença era bem recebida graças a restrita atividade de confortar sua companhia, passando os dedos entre os fios, acariciando-o despretenciosamente.

O silêncio entre os dois era primordial, havia um acordo mudo entre os dois que estabelecia que apenas o Cartman podia gerar sons nesses momentos. Era a forma dele arrumar suas próprias ideias - sempre muito mirabolantes. A voz aguda do louro poderia distraído facilmente e isso romperia seu raciocínio, portanto era indesejada.

- Onze letras - disse Eric, desistindo de encontrar a resposta sozinho. - O que é inútil. Primeira letra é i, penúltima e.

- Ah.. - Parou para pensar. Ele queria ajuda no caça-palavras? Devia estar mesmo com muitas coisas na cabeça, normalmente conseguia resolvê-lo facilmente, sem nenhum auxílio. - Imprestável - associou facilmente, era algo que ouvia frequentemente.

- Uhn - respondeu-o, deslizando a caneta no papel para anotar a palavra. - E o que é odioso?

- Intolerável.

Sua resposta foi rápida, mas não tardou em estranhar essa. Duas coisas com onze letras, iniciadas com i e tendo a penúltima um e? Esse caça-palavras estava certo? Tirou os olhos do celular, observando o namorado. Não era isso, não é? Continuou acariciando-lhe os cabelos, ele devia estar com outra dúvida agora.

- Quer que eu defina "odioso", Eric? - Se fosse isso, poderia fazê-lo também. Viu-o assentir, deixando os olhos azuis passearem pela sala um pouco, buscando nessa palavras ou sensações que ajudassem na resposta. - É algo repulsivo, que nos faz querer tomar distância ou destruí-lo. Que gera ódio, desgosto, em qualquer um que vê ou recorda de sua existência.

- Então é isso..

Por que estava perguntando essas coisas ao Butters? Não era como se não conhecesse o significado dessas palavras, assim como também sabia que seus significados variavam dependendo do contexto. Estava desde cedo com a imagem do Kyle em sua mente, olhando-o e chamando-o de odioso enquanto ninguém notara. Mas o que era odioso? Seu suéter novo? A forma que estavam expondo suas inclinações sexuais? Ou apenas a sua presença?

Duplicidade [Kyman][Cartters][PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora