Capítulo 5 - Impossibilidade

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Faltava apenas poucos minutos para o serviço acabar, fazendo com que o Kyle aproveitasse a saída dos últimos clientes da pizzaria para sentar-se em uma das cadeiras vazias, tendo recebido de seu chefe um saco de ervilhas congeladas para colocar em seu rosto. A temperatura baixa desse trazia algum conforto ao seu queixo, onde recebera um bom soco do Butters na luta de antes.

Normalmente, em cidades frias como South Park, o frio não era a temperatura mais desejada. Sentia-se estúpido por estar apreciando tanto aquela sensação gelada no rosto, como se contrariasse todas as expectativas. E no final, foi isso mesmo o que aconteceu, não?

Ninguém esperaria que o nerd do primeiro ano iria sair no soco com o idiota do garoto Stotch, menos ainda se soubessem que o novo relacionamento dele foi o maior motivo para o conflito. Também não poderiam prever que o Eric viria, como um príncipe gordo em seu pangaré marrom, resgatar o fraco perdedor do combate. E agora ainda havia Kenny, que bem dizer havia traído-o. Quais expectativas mais seriam quebradas? Era como se o seu mundo estivesse desabando.

Sempre apreciou seu bom raciocínio e a sua capacidade em prever o que aconteceria - inclusive o poder da previsão era o que usava em seu personagem, na época que brincavam de ninjas -, infelizmente suas habilidades vinham lhe traindo. Sua impulsividade cegava sua razão e fazia-lhe agir contra sua ética pessoal, iniciando conflitos desnecessariamente, quase como se o seu lado de Jersey estivesse assumindo o controle.

Sua atenção voltou-se momentaneamente a data de validade das ervilhas que segurava, vendo que estavam vencidas há pouco mais de duas semanas. Um sentimento desagradável o tomou ao encarar o pacote, sentindo que não eram apenas essas que estavam atrasadas. Desde que começara a trabalhar ali, essa era a primeira vez que o Cartman faltava ao trabalho. Pensava que ele era um incomodo, mas sua ausência fez que percebesse que todo o ambiente ficava bem monótono sem que ele chantagiasse os clientes por gorjetas mais justas ou que agisse preguiçosamente para evitar o trabalho.

Precisava reconhecer, seus dias eram chatos sem aquele gordão lhe atazanando. Seria essa noite o reflexo do futuro? Dali pra frente veria-o tão ocupado com o Butters que não andariam mais juntos? Se tivesse dito a ele o quão importante ele era, lá na oitava série, isso seria revertido? Ou continuaria como essas ervilhas? Vencidas e sem importância, servindo apenas para amenizar a dor dos que falhavam?

Quando o som da sineta na porta indicou a entrada de um novo cliente, sequer se deu ao trabalho de olhá-lo. Sempre haviam pessoas assim, que chegavam no último instante. Cômico ter julgado tantas vezes esses clientes como odiosos sendo que agora não era muito diferente deles, correndo atrás de uma relação que já estava fechada.

Não sabia se devia comemorar os fornos já estarem desligados, impossibilitando que recebessem novos pedidos. Seja lá quem fosse, estavam no mesmo barco, ele não conseguiria nada essa noite. O pior de tudo era que estava grato por isso, nunca desejou tanto ir para casa e atender mais um cliente não iria animá-lo em nada.

- Sinto muito, já estamos fechados - avisou, voltando a pousar o frio pacote no rosto. Ficaria apenas um pouco mais com esse, depois trocaria-se para ir embora.

- Já comi. Vim ver o chefe, Kahl.

A atenção do ruivo foi imediatamente para o recém chegado, não ocultando a surpresa ao vê-lo. Pensava que ele não se daria ao trabalho de vir, depois dele não aparecer na primeira hora, ficou óbvio que faltaria. Por que havia aparecido agora? O expediente já havia se encerrado.

Duplicidade [Kyman][Cartters][PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora