Nadei de volta, tão imersa em minha tristeza que nem notei qualquer coisa ao meu redor. Só o que sabia era que ainda havia muita água para percorrer, e restava a dúvida de se eu conseguiria ou não deixar o oceano.
Ao chegar de volta ao píer, percebi que seria difícil subir para a plataforma, então nadei mais um pouco até a praia. Não era uma praia bonita, apenas funcional. Lembrei-me de quando desbravava a natureza para chegar às outras que eram verdadeiros tesouros escondidos. Uma vez eu havia ido até o Pontal de Rascoll, onde estava a praia mais bonita de todas, em minha opinião – e a maior também – mas era muito longe para ir a pé, então eu não havia tido coragem ou energia para fazer o caminho de novo. Talvez agora eu pudesse ir lá com frequência, usando minha cauda potente.
Nesse momento, no entanto, tudo o que eu queria era ir para casa, Wes estando lá ou não. Eu tinha que fazer a tentativa de sair à terra, talvez esperar para ver se eu iria desidratar, e então aguardar até a terra decidir me deixar voltar ao normal. Eu torcia com todas as forças para que isso acontecesse. Se a água me transformava em peixe, talvez estar longe dela me deixasse ser humana novamente, ao menos por enquanto...
Assim, cheguei à praia, à humilde areia pedregosa, e arrastei o corpo para fora da água. Minha cauda doía raspando na terra áspera, mas prossegui. Era o meio da noite, não tinha ninguém por perto, então eu podia arriscar parecer um peixe por alguns segundos.
Achei que eu ficaria ali por vários minutos na areia, esperando voltar ao normal, mas, para minha surpresa, minhas pernas voltaram quase que imediatamente após eu arrastar minha parte inferior para fora da água. Sorri aliviada.
O segundo problema era que eu agora estava completamente nua. Eu tinha que correr até o píer e buscar minhas roupas que, com sorte, ainda estariam lá. Seria arriscado correr assim; e se alguém ainda estivesse acordado perambulando por aí? Um pescador tarado, quem sabe? Estremeci. Eu estava molhada até os ossos, morrendo de frio, abraçando a mim mesma enquanto pensava no que fazer.
Então avistei a silhueta de um homem. Ele me viu e correu em minha direção. Meu coração deu um salto. Entrar de volta na água agora seria arriscado...
– Agnes!
Era Wes. Ele vinha trazendo minhas roupas no braço, sua capa longa batendo nos calcanhares enquanto ele corria.
– Agnes! Graças às estrelas, você está aqui! – Ele me abraçou de uma vez, em seguida tirou a capa das costas e embrulhou-me com ela. – O que é que você estava pensando? O que foi fazer no mar?
Olhei para baixo, triste e cansada. Eu não queria falar sobre nada. Ele levantou meu rosto com suas mãos.
– Eu fiquei apavorado quando acordei e não te vi em casa! Saí correndo à sua procura, com medo de que tivesse partido para sempre. Então achei suas roupas no píer e aquilo me intrigou. Pensei que alguém a tivesse matado ou... pior. – Ele engoliu em seco, perturbado. – Mas aí pensei que você poderia ter simplesmente saído para nadar. Era estranho, porém eu não sabia se você tinha esse hobby...
– Eu... gosto muito de nadar – falei, minha voz bastante rouca e trêmula. – Eu só precisava de um tempo sozinha, para pensar. Você não tinha que se preocupar tanto.
– O mar é perigoso, Agnes, o tempo hoje não está bom, choveu há pouco, fiquei com medo de você ser engolida pelas ondas...
– Não precisa se preocupar mais, ok? Não pretendo entrar no mar de novo tão cedo. – Era o que eu desejava, no entanto uma parte de mim dizia que seria impossível cumprir aquela promessa.
E então Wes me tascou um beijo, do nada, deixando-me desorientada. Envolveu meu corpo no seu e me senti pequena e maleável como uma boneca. Ele fez com minha boca o que quis. Quando me soltou, era como se eu tivesse ainda menos vontade própria. Passou o braço ao redor de mim e disse:
– Vamos para casa, você vai ficar doente com esse frio.
E fui com ele de volta ao meu casebre.
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O Lado Escuro do Mar
FantasyAs profundezas são o seu destino... Agnes é uma garota pobre de Rasminn que costura e vende seus produtos na cidade para sustentar a si mesma e à sua mãe doente. Quando não consegue dinheiro suficiente para comprar a poção que poderia manter a mãe v...