Seria ela?

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Capítulo Dois (narração Maxon)

Abria os olhos de forma bem lenta e gradual. Comecei a reparar no teto e nas paredes brancas, sentia o clima um pouco mais frio e a cama, de solteiro e pouco confortável. Não estava em meu quarto, eu estava na ala hospitalar. Virei minha cabeça para o lado direito e comecei a contemplar minha mãe, a rainha estava sentada numa cadeira ao meu lado com os olhos fechados e em uma posição aflita, as mãos juntas, com certeza estava rezando. Quando ela finalmente abriu os olhos e me viu toda aquela expressão de aflição deu lugar a um olhar terno e amoroso:
- Meu filho, finalmente você acordou! Estava tão preocupada, Maxon. Como você se sente?

Sentei-me na cama e dando de ombros a respondi:
- Bem, eu acho. Pelo menos não sinto dor alguma – dando um leve sorriso para tentar deixar o clima um pouco descontraído – mãe, na verdade o que aconteceu para eu parar aqui?

Ela inclinou a cabeça em minha direção, e aquele olhar de preocupação retornou subitamente:
- Você não se lembra não é, meu querido? Não se lembra do seu desmaio e muito menos do que aconteceu nas últimas semanas? Não se lembra da Seleção?

Neguei veementemente. Por mais estranho que fosse aquela situação, por mais que tentasse eu não conseguia me lembrar de absolutamente nada para poder responder sua pergunta.

Minha mãe me deu um leve sorriso de consolo que acabou me reconfortando:
- Maxon, você cresceu sabendo das responsabilidades e deveres que cairão sobre você algum dia. Uma delas já chegou: escolher uma esposa. O processo para começar a Seleção já vinha acontecendo há um bom tempo, e nos últimos meses você vinha se decidindo sobre a sua escolha. Até que o grande dia chegou, após meses de Seleção você estava pronto para comunicar sua decisão...

- E pela primeira vez tomou a decisão mais decente e sensata em sua vida – meu pai interviu nossa conversa com sua voz firme. Apoiou uma de suas mãos em minhas costas, o que imediatamente me causou uma sensação de pânico e continuou:
– Fiquei orgulhoso de sua escolha, pela primeira vez você não cometeu nenhuma besteira e escolheu uma garota à sua altura! À altura de Illéa! Você cometeria o maior erro de sua vida se escolhesse a inútil da outra garota.

Senti uma enorme repulsa pelo jeito que meu pai falava da outra moça e minha mãe também, instantemente, lançou um olhar de reprovação para ele, porém de nada o impediu de continuar:
- Estava tudo ótimo até que um ataque rebelde começou...

Minha mãe pousou e apertou fortemente sua mão sobre a minha:
- Eu e seu pai fomos levados para o abrigo, mas você, Kriss e America estavam do outro lado do salão, muito longe de nós e dos guardas. Foi o momento mais desesperador de minha vida, Maxon! Um ataque estava acontecendo e você não estava no abrigo, estava desprotegido, senti tanto medo de que acontecesse alguma coisa – os olhos de minha mãe começaram a se perder naquela horrível lembrança e então me pai prosseguiu:
- O ataque demorou um pouco mais do que o de costume para acabar. Com certeza foi um dos piores que já sofremos. Havia pilhas de corpos de guardas, convidados e rebeldes nos corredores do palácio. Sua futura esposa, Kriss tinha sido levada para um abrigo dos criados, mas você e a tal America tinham desaparecido. Eu, sua mãe e todos os guardas, mordomos e criadas procuramos vocês em toda a parte. Vasculhamos cada canto deste palácio e encontramos você desacordado no quarto da America.

- No mesmo momento levamos você à ala hospitalar para realizar os primeiros exames, uma pancada na cabeça é algo muito sério e arriscado... – minha mãe disse com aquele mesmo olhar de ternura, interrompida pela entrada do Dr. Ashlar e outro médico mais jovem que eu nunca havia visto.

Ambos fizeram um reverência para mim e para meus pais, e logo o Dr. Ashlar se dirigiu a mim:
- Alteza, sinto em não trazer boas notícias. Logo após o ataque fizemos alguns exames, e com o seu desmaio refizemos todos os exames possíveis. O laudo é claro, a pancada em sua cabeça foi muito forte e acabou comprometendo a área da memória. Vossa Alteza se encontra com Amnésia Parcial Temporária, de possivelmente um ano – franzi a testa com a afirmação, isso não podia ser verdade...

- Ainda não podemos dizer por quando tempo durará essa perda de memória e nem passar um tratamento específico, porém refazer algumas coisas que já fez, conversar com as garotas, poderá surtir algum fragmento de memória e com a ajuda de psicólogos podemos até reverter essa situação – disse o médico mais jovem.

Eu estava tão atônito que mal prestei atenção nas palavras dele ou na expressão de meu pai, sem pensar muito acabei falando em voz alta:
- Então querem dizer que eu não vou conseguir me lembrar da Seleção? Por qual motivo eu escolhi quem escolhi, se realmente for ela...que eu não me lembrarei de nada do que aconteceu neste ano!

- Com tempo, paciência e algum treino podemos esperar até que bons resultados, Alteza – disse Dr. Ashlar.

Não conseguia digerir aquela situação, me sentia tão desnorteado, confuso e com medo. E se não fosse ela? E se fosse uma outra garota? E tudo aquilo que eu vivenciei, não vou me lembrar? Eram tantas perguntas que a única coisa que eu queria era ficar sozinho, de preferência em meu quarto.

Depois de mais uma hora na ala hospitalar finalmente recebi alta e pude voltar para o meu quarto. Finalmente sozinho! Sem ninguém para me dizer nada ou me deixar ainda mais confuso. Apenas eu para tentar me acalmar e pensar numa solução. Me lembrei de minha promessa referente ao mural, me aproximei dele e observei atentamente foto por foto. Garota por garota. Meu coração batia mais forte a cada foto, um desespero por não encontrar nenhuma garota que me prendesse tomou conta do meu corpo. Já estava quase desistindo quando me deparei com uma foto bem no meu do mural. Era da garota mais linda, com o sorriso mais perfeito e olhos claros mais hipnotizantes que jamais vira em toda minha vida.

Nesse momento meu coração bateu mais forte, uma sensação de carinho e saudade me domou. Com certeza seria ela! A menina de cabelos ruivos. Toda a minha atenção se voltou à ela. Ainda não sabia seu nome, mas podia apostar minha vida que ao vê-la até minhas pupilas teriam dilatado.

Um conto depois de "A Escolha"Onde histórias criam vida. Descubra agora