O plano de uma mãe

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Capítulo 3 (narração Amberly)

Uma semana já havia se passado desde o desmaio e a confirmação da amnésia de Maxon. E tudo parecia continuar sem grandes mudanças. Os médicos recomendaram uma pausa de 15 dias para ele, autorizada mesmo que a contragosto por Clarkson. Nesse intervalo Maxon teria reuniões com psicólogos e deveria conversar com as três senhoritas na tentativa de se lembrar de alguma coisa. Porém eu via que de nada adiantava, infelizmente. Maxon continuava confuso, não conseguia se lembrar de absolutamente nada e eu, bem, não conseguia passar o tempo que gostaria ao seu lado.

O dia estava tão bonito! O sol brilhava forte, o céu estava completamente azul, os pássaros cantavam e as flores estavam esplêndidas. Perfeito para passar um dia inteiro com meu amado filho. E essa ideia me deixava muito contente, sai da minha suíte e fui empolgadíssima até o quarto de Maxon, com toda a certeza de que um passeio pelo jardim nos faria muito bem!

Não bati na porta e entrei cantarolando, porém toda a minha alegria se foi quando eu olhei para as costas de Maxon. Ele estava vestindo a camisa, de costas para a porta, ao ver aquelas cicatrizes meu chão se abriu. Fiquei horrorizada. Sem palavras. Sem reação. Ele terminou de se vestir e, creio que em uma tentativa de apaziguar a situação, se virou para mim com um grande sorriso:
- Bom dia minha mãe, como está?

Me contendo para não gaguejar e entregar minha perplexidade, retribuí com um sorriso leve e um olhar de ternura:
- Bem, meu filho. E você? Sabe, estive pensando, o dia está tão agradável e bonito! Um passeio lhe faria muito bem!

Seu sorriso se intensificou ainda mais e me ofereceu o braço para acompanhá-lo, mas naquele momento eu não conseguiria:
- Desculpe, meu querido! Tenho um assunto pendente, mas logo depois eu te encontro no jardim. Está bem?

Ele assentiu com a cabeça e eu lhe dei um beijo de despedida na testa. Ao fechar a porta de seu quarto corri pelo imenso corredor. Não consegui pensar em mais nada, a imagem de suas costas me atormentava a cabeça trazendo dor, sofrimento, repulsa e indignação. Quem se atreveria a fazer uma coisa dessas com o príncipe? Quem seria o monstro impiedoso? De repente, um nome me veio na cabeça e eu não conseguiria conter minha raiva.

Escancarei a porta do escritório de Clarkson, por sorte ele estava sozinho pois não conseguiria pedir gentilmente para alguém me deixar a sós com meu marido. Clarkson levantou-se rapidamente de sua mesa e veio ao meu encontro na tentativa de me abraçar. A cada passo que ele dava eu não conseguia me conter, quando ficamos frente a frente estendi meu braço e lhe dei dois belíssimos tapas:
- Canalha! Monstro! – o som de meu tapa em sua cara me deu uma espécie de alívio e antes mesmo de poder continuar ele agarrou firmemente meus pulsos:
- Está louca, Amberly? O que foi isso? – ele me segurava com força, mas pelos seus olhos arregalados era nítido o medo que começara a sentir.

- Eu louca, Clarkson? Eu sempre vi a forma como você tratava Maxon, sempre com frieza, distância. Você nunca tratou o Maxon bem. Sempre que podia o humilhava, dizia que ele não tinha cabeça para ser rei, que não fazia nada certo, e eu sempre achei que esse seu comportamento fazia parte do aprendizado de Maxon, para ele ser um bom rei. Agora eu posso ver muito nitidamente, você trata o Maxon assim porque você não se importa com o seu próprio e único filho!

Aí ele berrou:
- Como você tem coragem de dizer que eu não amo ou me importo com meu filho? Sempre desejei o melhor para ele!

- Mentira! – gritei a altura – você sempre se importou com a sua coroa, em manter o seu reinado. Você tem medo pois sabe que Maxon será um rei justo e generoso, diferente de você! Você sabe que o povo de Illéa o ama e o deseja como rei, por isso você está sempre armando para atrapalhar Maxon. Sempre o menosprezando e o ofendendo para que ele não se sinta seguro sobre ser rei! EU VI AS COSTAS DE MAXON! Nem o pior pai desse mundo faria o que você fez com seu próprio filho! Eu sinto nojo de você, Clarkson.

Ele me soltou e se afastou atônito:
- C-Como você?

- Eu notei o pânico nos olhos de Maxon quando você entrou na ala hospitalar e apoiou sua mão nas costas dele. Ele chegou a tremer, parecia um animal encurralado, com medo! Eu não sei como você tem coragem para fazer uma coisa dessas, Clarkson, mas uma coisa eu prometo para você: eu não permitirei que você encoste em um único fio de cabelo de Maxon novamente! Se você machucar ou humilhar Maxon de novo, eu mostrarei para toda Illéa o tirano que eles têm como rei!

Me aproximei e olhei no fundo dos olhos de Clarkson:
- Eu prometo! Ah, e mais uma coisa: Maxon recuperará a memória e você vai respeitar a escolha dele! Se ele não quiser se casar com Kriss e querer a America, ele a terá e você está proibido de tentar o impedir! Acredito que você já se esqueceu, mas na sua Seleção você escolheu uma Quatro de Honduragua com mãos calejadas, doente e que corria o risco de nunca te dar herdeiros. A America tem o coração de Maxon, e eu não vou permitir que o seu orgulho e preconceito interfira nesta relação. Eu prefiro mil vezes os dois juntos!

Dei de costas e sai daquele gabinete. Céus me sentia exausta pela discussão fervorosa, a cabeça rodava, mas estava com a alma mais leve por ter deixado claro que defenderia Maxon de todas as formas. Sem me importar se precisasse "perder a majestade". Porém, mesmo assim não conseguia acreditar no que Clarkson fizera com o próprio filho! Era demais para mim. Desde que me casei, sempre me indaguei sobre os: E se. E se eu me tornasse igual a mãe de Clarkson? E se ele se tornasse como o pai? E se eu não conseguisse ser uma princesa e futura rainha? E se minha relação com Clarkson fosse como a de seus pais? E se eu nunca tivesse filhos? Sempre me indaguei, mas nunca parei para pensar e ver que Clarkson se tornara a mistura de seu pai e de sua mãe. A maldade e a prepotência faziam parte da essência dele. Ao entrar em meu quarto agradeci por estar sozinha, me recompus, ajeitei o vestido, tomei um copo d'água e fui até a a minha sacada. Eu tinha uma vista privilegiada para o jardim do palácio e pude ver Maxon, cabisbaixo e com as mãos dentro dos bolsos, caminhando sozinho. Essa cena me destruiu. Não poderia deixar que a situação continuasse assim, precisava ajudar Maxon e sabia quem poderia o ajudar.

Entrei e me sentei na minha escrivaninha. Peguei papel, caneta e um envelope rosa com o brasão de Illéa. Maxon poderia não se lembrar de certa pessoa, mas eu sabia que ele sentia que precisava dela. Meu plano era ajudar meu filho e ninguém iria me impedir, não se tratava apenas de um plano de uma simples mulher ou rainha. Era um plano de uma mãe. E eu estava disposta e pronta para tudo o que poderia vir para ver a felicidade em meu filho.

Um conto depois de "A Escolha"Onde histórias criam vida. Descubra agora