Aconteceu em um dia ensolarado. Os olhos de Hermione estavam mais brilhantes do que de costume e Rony a observava como se fosse um anjo através da luz dourada que entrava pela janela da cozinha e a banhava. Ela girou a varinha diante de uma flor e fez ela se erguer. Ele sorriu com sua delicadeza. A partir de agora, cada detalhe contava.
O brilho nos olhos de Hermione se dissiparam no momento em que os colocou sobre Rony, seu marido. Queria rir do pensamento que lhe ocorreu, mas decidiu que ele era cruel demais sequer para servir de brincadeira. Pensou que não foi difícil restaurar aquela pobre flor e lhe devolver as cores vibrantes, mas quando se tratava de Rony...
Não importava o quanto ela soubesse sobre magia a essa altura. Não importava que ela pronuncia-se adequadamente os encantamentos, não importava quantos livros ela tinha lido, nem quantos pontos ela conquistou para sua casa anos atrás por cada resposta que acertara. Quando ela olhava para Rony, podia apenas se sentir mais inútil e incapaz do que nunca, pois não existe mágica que pudesse lhe curar dessa mazela.
O livro que sobrevoava a cozinha desceu batendo as abas como se fossem asas e aterrisou na mesa, no canto mais próximo possível de Hermione. Ambos olharam para o objeto e, então, sorriram com as lembranças que isso lhes trazia. Foi um presente de Dumbledore quando esse deixou de existir. Tornou-se um dos livros mais preciosos para Hermione e grande parte dessa importância se valia ao fato de que Rony o encantara para que as palavras ecoassem em voz alta; dessa maneira, Hermione poderia fazer suas atividades enquanto escutava o livro narrando a si mesmo.
Hermione ficou muito contente e surpresa com Rony, o mesmo garoto que ela julgou ser patético quando se conheceram. Era a maior maravilha que ja vira na vida, e já havia visto tanta coisa. Os trouxas, claro, inventaram os áudiolivros depois, mas esse exemplar de Os Contos de Beedle, o Bardo era uma peça única e inestimável. Não só se mostrou divertido e instrutivo para Hermione, como também se transformou em seu verdadeiro talismã.
"Você se lembra porque encantei esse livro pra você?" perguntou Rony aproximando-se aos poucos.
"É claro", Hermione balançou a cabeça presunçosa, "foi porque eu estava me queixando de que não queria ter que parar de ler para poder fazer outras coisas".
"Sim", Rony começou a rir com a lembrança e passou os dedos pela capa do livro. "Você sabe porque eu fiz isso?"
"Porque estava cansado de me ouvir resmungar?"
Rony soltou outra gargalhada, uma mais audível e gostosa. Hermione crispou os lábios, quase sorrindo com a própria piada, embora talvez ela realmente tenha pensado isso quando recebeu o "encantamento" como presente.
"Você sabe que eu sempre me senti inferior em relação a você..."
"Não, não se sentia, não", Hermione franziu o cenho e entoou como se estivesse brigando com um filho. "Você nunca se importou com essas coisas. Em parte, eu até sentia... inveja de você... às vezes", confessou corando.
"Mas é verdade. Eu sempre me senti inferior a você, e ao Harry também..."
"Não comece com bobagens", Hermione interrompeu seu marido, mas quando as mãos dele seguraram seu rosto, fazendo-a olhar intensamente em seus olhos, ela soube que ele não estava de brincadeira.
"Me escuta um momento", ele pediu. "Eu sempre me senti assim, e está tudo bem. Harry era famoso desde o primeiro ano de vida; era corajoso e destemido. Bom, na verdade, ele era curioso, mas até que ponto esses traços não são a mesma coisa, entende o que eu digo?" Hermione sorriu e assentiu. Rony prosseguiu: "É claro que eu não me sentiria inferior a Neville, afinal ele é... bom", Rony esbugalhou os olhos e deu de ombros, "ele é Neville".
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Oblivion (Romione One Shot)
Hayran KurguRony enfrenta uma doença terminal que traz angústia a Hermione, sua esposa. Diante do destino inevitável, ele bola um plano para levar embora o sofrimento de sua amada, mesmo que isso lhe custe a própria felicidade.