Jessica e Brandon #1

13 3 13
                                    


O ano era 2019. Jessica estava terminando de se arrumar para ir ao trabalho. Tinha um pequeno sítio no qual produzia hortaliças e frutas, do qual conseguia tirar uma renda maior que a maioria dos agricultores familiares do interior de Minas Gerais. Esse era um dia incomum do seu trabalho: tinha uma reunião de negócios. Pretendia fechar com uma grande rede de supermercados da região que estava começando a vender produtos orgânicos.

O sucesso em sua empreitada se dava nos frutos muito vistosos e nas hortaliças bem esverdeadas e bonitas. Seu maior orgulho era sua produção de beterrabas. Ficava muito feliz quando as colhia e via que estavam grandes e suculentas.

O celular já estava na bolsa, as amostras de sua produção que tinha colhido bem cedo já estavam na caminhonete. Passou um batom vermelho. Ela queria usar um blazer, mas o calor de Almenara não permitiria isso. Transpiraria muito em poucos minutos.

Pegou às chaves na mesa de centro e abriu a porta da frente de casa. Ela congelou.

Havia uma folha de uva flutuando à sua frente. Ela sabia exatamente o que aquilo significava. Passara 18 anos aliviada por não ver o que via naquele exato momento.

Era um aviso. O aviso. Os avós de Brendon haviam sido capturados. Ela teria de voltar com ele para a dimensão mágica. Eles viriam atrás deles em poucas semanas, ou talvez em poucos dias.

* * *

Ela sentou-se à mesa tensa. Brendon estava na escola, era seu último dia de aula. Marta chegaria em instantes do trabalho e Jessica estava claramente triste.

Era um dia ensolarado como todos os outros na pequena cidade de Almenara. Ela, mesmo depois de anos, ainda se perguntava como as coisas poderiam ser tão diferentes da dimensão mágica. Lá a temperatura era amena durante o dia e as noites eram frias.

Marta, uma mulher alta de cabelos longos e cacheados entrou em casa. Sua pele brilhava por causa do suor. Nem parecia que vinha do trabalho de carro. Colocou a bolsa e as pastas em cima do sofá e foi direto para o banheiro. Tinha bexiga hiperativa.

Só reparou em Jessica quieta na mesa quando voltou. Deu um beijo em seu rosto e percebeu que havia algo de errado.

— Oi, amor. O que houve? — Perguntou quando viu os olhos da esposa cheios de lágrimas.

— Eu preciso te contar umas coisas, Marta. — Disse depois de um tempo. Marta já estava sentada de frente para ela segurando sua mão.

— Qual o problema?

— Eu já deveria ter lhe contado. Eu realmente espero que você me entenda e não me odeie. — Marta não falou nada. — Eu não sou quem eu disse que sou, eu não vim de onde eu disse que vim. E agora eu tenho que te contar a verdade, porque eu tenho que ir embora.

— Ir embora para onde?

— Para o meu mundo.

— Seu mundo? Como assim? Do que você tá falando? — Marta não estava entendendo nada e começou a ficar aflita.

— Deixa eu te contar. Mas antes, eu preciso que você tenha certeza absoluta que eu te amo mais que tudo nesse mundo.

— Eu também te amo.

As duas compartilharam um breve sorriso.

— Eu não sou daqui. Eu não nasci nesse mundo. E quando eu digo nesse mundo, falo literalmente. Eu venho de outro lugar. Eu queria ter te contado isso logo que te conheci, mas eu tinha medo de te perder. E eu tinha que proteger o Brendon. É por causa dele que eu estou aqui.

"Eu venho de outra dimensão, onde a magia existe. E peço que me leve a sério, eu vou te provar o que estou falando. Existem duas dimensões além desse mundo que vivemos, e eu venho de uma delas. E por isso eu não sou humana. — Jessica descobriu as orelhas revelando pontas completamente impossíveis para um corpo humano. Marta soltou um leve grito, mas Jessica continuou. — Eu sou uma elfo. Sim, aqueles seres que você viu nos filmes, mas somos diferentes. Desculpe jogar tudo de uma vez assim, mas tenho muito o que te contar. Não há como ser de outra maneira.

"Eu e Brendon viemos para cá fugindo de lá. Havia uma guerra se instaurando, e vir para esse mundo era o único jeito de ficarmos seguros. Eu precisava protegê-lo.

* * *

Com tudo isso, Josh acabou morrendo. E eu sabia que se nós continuássemos lá, não demoraria para descobrirem onde estávamos e iriam atrás do Brendon.

— Mas porquê? Você se envolveu com gente ruim, Jessica?

— Eu vou te contar. Josh foi um grande amigo e um grande amor. Ele era uma pessoa incrível. Foi instantâneo. Mas ele amava alguém quando o conheci. Uma garota chamada Katy. Eles foram grandes amigos e viveram um romance muito rápido, porque ela morreu pouco tempo depois deles ficarem juntos de fato. Ela foi perseguida por um psicopata. Um vampiro. — Jessica achou que Marta riria de sua cara, mas ela parecia concentrada.

O vampiro em questão se chamava Klizvand. Ele era meio-sangue amortenxívio também. Porém, diferente dos amortenxivios, ele não nascera da luz e por isso não era imortal. Mas a combinação de seu sangue lhe dava muito poder, e conseguir seguidores não fora difícil. Ele reunira um grande exército. Também criara uma prisão para os amortenxivios que conseguia capturar.

— E foi ele quem a matou. E isso gerou uma guerra no nosso mundo, porque Katy não podia morrer. Sua raça era indestrutível e imortal, assim como Josh. Isso desencadeou uma série de eventos que colocou todo meu mundo em guerra. Primeiro porque na mesma noite em que Katy fora assassinada, seu assassino também foi morto. E o rei da Inglaterra culpou a Josh...

* * *

— E agora eu recebi uma mensagem dos avós do Brendon. Nós precisamos fugir, porque eles foram capturados. Eles vão ser torturados para que nos entreguem, e se isso acontecer, eles virão atrás da gente em pouco tempo. E se ficarmos aqui, não só nós correremos perigo, como você também.

— Fique calma, Jessica. Vai ficar tudo bem.

— Não, não vai. Eu vou voltar pra ficar com você. Eu juro. Mas essa guerra tem que acabar primeiro.

Jessica deu a ela uma poção do sono que duraria dois dias. Deixara uma carta e não a viu outra vez desde então.

O Reino da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora