A mensagem

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Com "No!" da Meghan Trainor tocando em volume alto no som, embalamos o fim da nossa manhã e o início da tarde numa dança ainda não identificada pelas academias de dança de qualquer lugar do mundo. Ouvi o 'bip' do meu celular ao fundo e fui ver o que era. "Preciso te ver", dizia a mensagem sem remetente. Olhei para Matt, Lisa e minha mãe dançando e batendo alguns ingredientes para o bolo, a mensagem não parecia ter partido de nenhum deles, já que pareciam ocupados demais inventando mais passos de dança e sujando toda a cozinha com trigo. O cabelo loiro da Lisa na altura da linha do sutiã estava mais branco que dourado, poderia se passar como velhinha facilmente em alguma fila de banco. Matt estava em uma conversa calorosa com a minha mãe sobre que cor seria meu bolo. Minha mãe como sempre, optando pelo rosa, ela ainda acha que tenho 4 anos. Matt preferia verde, porque dizia que combinava com seus olhos. Maldito narcisista! Minha mãe estava debaixo de um novo corte de cabelo na altura dos ombros, com uma franja alegre e um amarelo um pouco queimado do sol de verão de Connecticut.

Ela caia bem com qualquer tipo de cabelo e qualquer tipo de roupa, sempre parecia majestosa com aqueles belos olhos escuros e penetrantes, mas ao mesmo tempo, bondosos. Eu adorava a forma como o novo corte de cabelo do Matt balançava, ele parecia ter vida própria e dançava de um lado para o outro seguindo o ritmo de todas as canções. Talvez eu fosse a menos graciosa dos três. Nunca abri mão do meu cabelo longo, que agora estava num ruivo escuro com possibilidade de mudanças.

Olhei novamente para o celular, que estava com a tela escura e refletia meu rosto como um espelho: eu realmente preciso me animar. Sobrevivi a mais um ano e tenho comigo as melhores pessoas que eu poderia ter. A tela do celular se iluminou de novo com uma nova mensagem: "Me encontre no nosso lugar favorito no Parque Brooklyn Bridge, às 20h, eu realmente preciso falar com você.". Nesse instante, meu mundo balançou, essa mensagem não precisava de remetente, eu sabia muito bem de quem se tratava. Era aquele que dominava meus pensamentos antes e depois de acordar, aquele que havia rompido meu mundo em dois, aquele que foi motivo da minha escolha brusca em estudar longe de casa e da mamãe, aquele que de todas as pessoas do mundo, escolheu o que mais a amava para magoar. Eu pude sentir meu sorriso se desfazer e transformar em rugas no meu cenho, eu não podia acreditar na cara-de-pau dele.

Olhei novamente ao meu redor e não consegui enxergar muitas coisas com meus olhos embaçados pelas lágrimas. Saí discretamente da cozinha e fui até o banheiro, tranquei a porta e tentei enxugar as lágrimas que não paravam de escorrer entre minhas bochechas. Ele sempre teve esse poder, sempre pôde me dominar até mesmo sem pousar os olhos em mim. Eu podia sentir sua presença quente dentro de mim, vivendo dentro do meu peito, me sufocando. Então, lembrei do sonho que venho tendo com a velha que sempre me assusta: não devo esperar muito das pessoas e talvez esse tenha sido meu maior erro com ele. Esperei demais atitudes de alguém que cobrava de mim, aquilo que não poderia me oferecer. Apesar de que, perdendo ele e me mudando para Long Island, ganhei Matt e Lisa e isso tem me mantido forte o suficiente para peitar todas as dificuldades que surgem ao longo do tempo.

17 maneiras de permanecer vivaOnde histórias criam vida. Descubra agora