Capítulo 6 - Imortalidade

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Justin, foi mordido, Delmiro chegou a tempo de não deixar que fosse sugado até á morte, e a bebida que lhe deram era um pouco de sangue, Justin era agora vampiro.
Já lhe tinha acontecido de tudo, mas desta vez estava condenado. Matar, e sugar humanos até à morte, tinha que ser mentira, não podia ser, todo o seu mundo tinha desmoronado, pensar que para ele tal coisa era só nos livros de ficção e não no mundo real.

Ele não sabia de nada, ele estava a ter um pesadelo nada daquilo podia ser verdade...
Estava confuso, desesperado, faminto, ouvia vozes, sem perceber porquê, sentia cheiros. Tudo parecia mais intenso, o seu próprio corpo parecia saber da sua nova realidade e já se tinha adaptado perfeitamente, o problema era mesmo a sua cabeça, o que tinha acreditado uma vida toda, o facto de ajudar pessoas, e não sugálas para sobreviver, transformar vidas, em imortais, matar, matar, matar...
Não conseguia deixar de pensar, ideias novas surgiam, possibilidades, probabilidades, queria pensar em tudo, tinha que acreditar que não estava a dormir e tudo não passava de um sonho, tinha que se adaptar à sua nova realidade, tinha que falar com alguém, era imperativo que alguém lhe explicasse mais sobre a sua nova condição, tinha dúvidas, estava com a cabeça cheia de barulho, não conseguia parar de pensar...
Uma panóplia de perguntas sem resposta, problemas sem resolução.
Podia simplesmente morrer, mas infelizmente até isso estava comprometido, será verdade o que dizem nos filmes, a prata o alho, será alguma coisa verdade?
Justin questionava se implacavelmente.
Nada disto era sequer possível, nos seus planos, ou pensamentos nunca nada de paranormal lhe passou pela cabeça, tudo isso era o oculto e inexplicável, nada do que Justin acreditava, Justin era um homem da ciência, tudo tem uma explicação, uma lógica, isto não tinha lógica nenhuma, não era sequer possível, só em livros, só filmes, que até à data, não passavam de histórias de ficção, e Justin só via filmes no natal, porque era mesmo obrigado. Não tinha esse tipo de necessidade, não via filmes, não gostava de se sentar no sofá a olhar para o quadradinho mágico, que para ele não tinha magia nenhuma.
Delmiro entra no quarto de Justin, traz lhe mais um shake de sangue fresco, que Justin mais uma vez pousa na mesa ao seu lado e se recusa a beber, pensa que vai acordar e tudo aquilo vai passar, mas Justin estava faminto sentia-se fraco, e sabe que muito provavelmente recusar beber não vai ajudar, o que eventualmente vai mudar quer ele queria quer não e se for um sonho vai acordar.

Delmiro senta-se na cama, mais uma vez, faz se silêncio, uns segundos a olhar para Justin, como que a avaliar o seu estado, a sua cor, parecia preocupado.

- Justin, preciso que beba o que eu lhe dei, não vai aguentar muito tempo sem beber, eu percebo que não quer, que não gosta nem um bocado desta ideia agora, mas acredite, já passei por isto, tal como o Justin. - diz Delmiro com ar preocupado.

- Então se sabe, porque é que não informou a louca da sua namorada que me mordeu e me fez isto? - questiona Justin impaciente
- Não somos namorados, somos grandes amigos. Por momentos confundimos as coisas, mas logo percebemos que era um erro.
-Ela também foi mordida à pouco tempo, tudo isto é muito recente, está a aprender, tal como o Justin,e chama-se Cristiane, vai ter que aprender a controlar a fome mas tem sido difícil para ela.
Estar aqui, nesta casa facilita tudo porque estamos a kilometros de casas, aldeias, ou qualquer ser humano, esta casa foi escolhida, precisamente para quem é novo poder controlar a fome, e não fazer estragos como já aconteceu. - diz Delmiro.

- Tenho que saber o que me espera, daqui para a frente? Já sei que sou vampiro e que me alimento de sangue. Preciso de mais informação, se não se importarem muito... - diz Justin a olhar para a janela, com um tom desprezível.

- Compreendo a sua angústia, mas eu também estou a aprender, não sei muito mais que o Justin, mas tudo o que sei vou partilhar consigo. Sei que somos vampiros, e bebemos sangue, e sei que o Justin tem que beber o seu. Por favor, faça isso. - implora Delmiro

-Muito bem, e não tenho nenhuma outra alternativa? - pergunta Justin

- Não, que se saiba, agora. - responde Delmiro

Justin começa a cheirar, e aquele cheiro a sangue era realmente irresistível, ele chegou o líquido aos lábios, como que com medo de se queimar, e assim que o sangue lhe tocou nos lábios, a sua boca abriu-se e bebeu tudo, antes que ele pudesse sequer pensar em alguma coisa.
Sentia-se muito melhor, repentinamente estava revigorado, ouvia e via ainda melhor, ouvia os pássaros, os canos, o ranger das paredes, os bichos, tudo numa sinfonia organizada, toda a informação era processada sem qualquer esforço, ou pensamento era tudo mecânico, era tudo muito rápido, fácil, tudo fazia sentido, e funcionava impecavelmente sem qualquer pensamento inerente ou esforço acrescido, era assim, fácil e descomplicado.

- Ok, já bebi, obrigado. - Justin agradece.

- Sabemos que só existe uma família, que eram portadores originais deste vírus/mal, mas como a família foi toda mordida, e sem informações na altura, a situação agravou-se e morderam e mataram muita gente. Entre os filhos do casal, que eram 14.
Eles rapidamente acordaram com fome e as aldeias vizinhas foram devoradas, pelos irmãos, os pais foram mortos, e eles passaram a vida a fugir, não sabemos de quem nem porquê.
O mais novo, e mais famoso, veio aqui acerca de um mês, e foi quando tudo começou, eu tive hipótese de falar com ele quando acordei na gruta, ele estava lá para me pedir desculpa, e explicar o que se tinha passado, e aí fiquei a saber o pouco que sei e que lhe vou explicar a si.
Ele teve uma filha, ela parece não ter control e morde todos os humanos com quem se cruza, aparentemente foge do pai revoltada pela morte da mãe, e por achar que está sozinha no mundo que lhe impuseram.
Delmiro lembra-se de ouvir um pedido de socorro, ir em direção ao som, e depois só sabe que acordou na gruta, e era vampiro, depois de ver Drake e de este lhe ter explicado tudo o que estava agora a dizer a Justin.

Dias PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora