Capítulo 8 - Amor...

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Justin ia-se habituando á vida do campo, acordava cedo, alimentava os animais, limpava e colhia frutos e alimentos, tudo estava geralmente pronto antes das duas da tarde, hora que custumava (almoçar), ficando com o resto do dia, para treinar, corria bastante, e ainda se estava a habituar, aos dentes a crescer sempre que tinha fome, aquele arrepio que sentia no dente e a necessidade de mexer na gengiva, tudo era novo, e era muita mudança, muito coisa nova a acontecer ao mesmo tempo.

Assim passaram rapidamente duas semanas, tarefa após tarefa, os dias iam passando sem que Justin desse conta.
Já tinha conhecido mais pessoas, algumas ficavam por ali, mas a maior parte, era de passagem, chegavam num dia e partiam no outro, muitos deles nem os viu.
Os que por ali ficavam eram quatro, Paulo, Ana, Cristiane, Delmiro e ele.
Paulo e Ana eram irmãos, ambos loiros de olho muito azul, sardas, e pele muito branca.
Paulo estava na casa dos trinta e picos, e Ana era mais nova, Vinte e poucos.
Ambos eram muito ativos na quinta, Ana fazia queijos, e tratava do fumeiro, e Paulo tratava os animais, e por vezes servia de veterinário, pois conhecia muito bem a vida no campo, seus pais tinham uma quinta, ele desde novo aprendeu a fazer partos entre outras coisas que se passavam com os animais, ora doentes, ora feridos, sabia de tudo um pouco, bastava olhar para o animal, e rapidamente dizia um diagnóstico breve das possíveis razões para o que estava a acontecer.

Justin tinha acabado de sair do curral e dirigia-se á cozinha para almoçar, quando se cruza com Cristiane.

- Oi, tudo bem? - pergunta ela

- Olá Cristiane, está tudo bem, vou almoçar, queres vir?

Justin nem queria acreditar que tinha sido tão óbvio, ingénuo, e tudo ao mesmo tempo.

- Claro, vou só lavar as mãos, encontramo-nos na mesa.

Os olhos dela brilhavam, aquilo tinha sido inesperado, e bom ao mesmo tempo, ela também queria estar perto de Justin, mas tinha receio de ainda estar chateado com ela.
Rapidamente, entrou na casa de banho, lavou as mãos, ajeitou o cabelo, sorriu para o espelho como se este fosse um prémio, e que nem uma fisga correu para a cozinha, escolheu o primeiro saco que viu um copo e foi, mais devagar, em direção á sala.
Justin estava á sua espera, sentado a olhar a TV, com um pacote á sua frente, já frio provavelmente.

- Foste rápida, parabéns não é custume nas senhoras. - Justin a sorrir, olha para Cristiane, que ainda está na mesma posição, confusa.

Ambos se olham, e escolhem um lugar, sentam-se, pousam os sacos quase em uníssono.
Entreolham-se e começam a beber, ninguém queria começar a falar, nem um nem outro sabiam o que dizer, ou sobre o que falar, e quanto mais o tempo passava, mais constrangedor se tornava até que Justin rompeu o silêncio.

- Os animais aqui são muitos, e cada vez mais, ainda hoje nasceram 12 porcos. - e olhava do saco para Cristiane contente.

Meu deus, como, o que aconteceu, bebi?!?! Oh não, ela nunca mais me vai aparecer á frente. Devia ter gravado isto, o maior falhanço, já visto de Justin Case..

Cristiane olha para ele incrédula, ninguém diria uma coisa dessas ao olhar para Justin Case.
Justin era tão confiante, que vendo bem, até era estranho ele já não ter uma mulher, ou filhos, era bom demais para ser verdade.
Enquanto isso bebiam desalmados, a fome era grande, tanto Justin como Cristiane eram muito recentemente vampiros e ainda tinham muita sede.
Ana sempre que precisava de ajuda chamava Paulo o irmão, que já estava habituado aos seus pedidos, geralmente da horta, ou que desse um olho numa ou outra tarefa.

- Pensava que já não precisávamos de comer afinal não é tudo como nos filmes, só sangue não chega. -Diz Justin olhando para Ana a comer pudim.

- Segundo sabemos, podemos ficar sem comer, agora sem beber sangue não duras uma semana, chegando ao ponto de nem forças teres para te mexer. - concluí Cristiane

- Ok, e o sol também não nos afeta senão já teria morrido. E a prata? E os alhos? Também é como nos filmes ou não? - pergunta Justin

- Nada como nos filmes, o alho é só um tempero tal como a salsa, e a prata não faz mal a ninguém - diz Cristiane

- Folgo em saber isso, ou seja, somos indestrutíveis, e quase imortais. Bem mais fácil que nos filmes, basicamente não temos muito com que nos preocupar, tirando a parte de beber sangue. - diz Justin ironicamente

- kakaka, pois estou a ver, estás a adorar a ideia. Ninguém merece, já pensei isso mesmo, já estou noutra fase, a fase em que digo a mim mesma, que remédio... E se o teu mal tem remédio, de te queixas? Se não tem remédio, porque que te queixas?
O meu pai custumava dizer isto, era pouco sentimental, para ele, só o presente realmente importava. Mentalidades diferentes, á que respeitar. - Diz Cristiane com alguma melancolia.

- Um homem esperto, diria, é isso, queixinhas é que não, faz-te homem. Kakaka, mais nada. - diz Justin a tentar ter piada, ao sentir Cristiane em baixo.

Cristiane tinha perdido o pai á pouco tempo, ainda se sentia muito em baixo, o pai tinha sido diagnosticado com câncer, e seis meses depois faleceu. Tinha sido um câncer fulminante no esófago, e Cristiane tinha ficado a cuidar dele aquele tempo e viu como o tratamento radioterapia e quimioterapia debilitaram o pai e o câncer acabou por vencer. Depois de emagrecer até ficar pele e osso o pai acabou por falecer no hospital. Ainda teve tempo para se despedir dela, pois sentia que o seu fim estava próximo e que tinha que o fazer, ao ver a filha naquele estado de aflição. Disse que a amava muito, e que ela tinha que se lembrar dele quando estava bom não naquele estado. Nesse mesmo dia pouco tempo depois de Cristiane ir para casa faleceu. A dor fui enorme e ela ainda se encontrava de luto. Todos os dias quando acordava era a primeira coisa que se lembrava. Aquela dor não desaparecia só ia ficando como parte dela, ela ía-se habituando a sentir a dor como parte dela e da sua vida. Mas tentava fazer o que o pai lhe pediu lembrar o seu sorriso contagiante e a sua alegria e jovialidade.

Dias PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora