Capítulo 1 - Justin Voltou

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Justin está com problemas e problemas é o que ele resolve, por isso decide ligar o seu telemóvel após 3 meses desligado e incontactável, é hora de voltar ao mundo real.
Muita gente precisa dele.

Liga o telemóvel, e começa uma sinfonia desenfreada de toques e bips, de msgs, emails.
Ele espera assustado, a olhar o telemóvel, e pensa:
Isto vai parar?
Mas o tempo vai passando, passando, e ele perde a paciência, agarra no telemóvel, e começa a ler o que já recebeu.
Vai olhando as notificações, o número que não para de crescer, 17, 23, 35, 65, 98, 117, e começa a ficar preocupado.
Bom isto eventualmente vai parar...
Pensa novamente.
Aqueles eram pedidos, e alguns provavelmente, perdidos para sempre.
Justin senta-se mal com tudo isso.
Mas ele próprio, esteve á beira de perder o rumo.

Vai lendo, e relendo, e nada de interessante, traições, maridos e mulheres, que buscam um fim ao desassossego causado por casamentos em crise.

Pessoas que desaparecem, porque querem, outras não, muito se repete nestas msgs e emails.

Uma delas, uma Senhora Africana, que decidiu gozar a sua reforma por Portugal, ela era escrava quando rebentou a guerra, muito nova ainda, era cozinheira de uma família Alemã que explorava aquela senzala, onde seus familiares quase todos trabalhavam.

A patroa, gostava muito dela, ensinou-lhe tudo o que Vera não sabia, a ler, escrever, tocar piano, falar inglês, e Alemão, era uma mulher solitária, não podia ter filhos, devido ao número de interrupções que fez antes de casar.
Levada por esse sentimento, puro e genuíno, Vera foi criada como se fosse uma filha, e quando seus patrões fugiram da guerra, levaram Vera consigo para Portugal, onde ela acabou por encontrar o amor da sua vida e casar.

Vera teve 2 filhos homens.
Justino e Delmiro.

Justino era casado, e tinha dois filhos, e Delmiro após a morte do pai, revoltou-se com o mundo, e desapareceu, sem dizer ou levar nada.
Uns dias após o funeral, ainda o virão no café, a comprar pão, e mais nada.
Vera visitava o filho regularmente, e após várias idas a sua casa, e ninguém responder, sem qualquer sinal de vida, aquela casa estava igual, sem que houvesse vestígios, de alguém por ali além de Vera, que ali aparecia aos fins de semana na esperança, que o filho voltasse. Olhava de um lado para o outro da estrada, sempre ansiando ver o filho aparecer como muitas vezes acontecia.

Mais uma vez não se passou nada, a não ser a relva a crescer sem parar, ao ponto de chegar a tapar a entrada da porta até á altura dos joelhos.
Havia partes verdes, onde a água ainda chegava de alguma maneira, outras amarelas e secas.
Vera via uma e outra vez a última chamada que fez ao filho, a última mensagem que ele atendeu, ou respondeu, farta de deixar msgs, e de telefonar, sem qualquer resposta, tanto da parte do filho, como do número, que ainda não tinha voltado a ser ligado, desde junho dia 1, dia 3 foi visto no café por amigos com quem falou brevemente comprou pão e saiu.

Delmiro era reservado, gostava de viver bem a vida, aproveitava ao máximo tudo o que tinha, até se afogar no desgosto da perda do pai.
Ele deixou de fazer a sua vida normalmente, não fazia a barba, era notório o seu desleixo com a higiene e a magreza aumentava rapidamente demais.

E foi neste estado, que de um momento para o outro sem avisar ninguém, ele desapareceu sem deixar rasto.

Vera usou a chave que o filho lhe deu, para ver se ele tinha levado roupa, se algo lhe indicava que tinha saído de repente ou não, mas nada indicava que tivesse levado roupa sequer, o pão estava em pedra em cima do balcão, parecendo que fora ali pousado e esquecido até aquele momento.

A casa estava suja a roupa ao monte num dos quartos vazios que se transformará num arrumo de roupa suja. A casa das máquinas estava já lotada de roupa suja, daí a necessidade de aumentar o espaço para a divisão do lado. Ela ía lavando roupa e pondo a secar enquanto lá estava, para ajudar o filho, ele podia voltar a qualquer momento e assim tinha tudo lavado seco e engomado. Aos poucos a roupa ía desaparendo do monte e era arrumada nos móveis e guarda roupa.

A mesa cheia de pratos amontoados, ainda com os restos de comida em cada um deles, o cheiro horrível rondava o azedo o podre, tudo junto, quase fazendo arder o nariz, quando por distração se aproximava demais do lavatório ou da mesa da cozinha.
Ela ía lavando e organizando tudo, a cozinha aos poucos voltava ao normal.
Ela decidiu procurar um detetive particular, de forma a saber o paradeiro do filho.

E Justin tinha um notório currículo, desde assassinatos a desaparecimentos desde tráfico humano a exploração de pessoas, ainda não tinha havido um caso em que Justin não tivesse resolvido.

Nunca deixou casos pendurados, mesmo tendo uma vida cheia de problemas, Justin era viciado em trabalho, sempre que tinha problemas, virava-se para o trabalho.
Com a resolução dos seus casos, ele esquecia os seus problemas.

Desde sempre foi mais fácil assim, para ele que se virava para o interior, quando tinha problemas, não falava com ninguém sobre o que lhe ia na alma era muito difícil para ele, pois a única pessoa com quem ainda desabafava era a irmã, mas até com ela era raro acontecer, só quando ela lhe arrancava as coisas a ferros.

E quando Vera recebeu uma notificação de que Justin tinha ligado o telefone, desesperada, não perdeu tempo e telefonou.

Justin tentando ler, ainda incrédulo, de o seu telefone não ter parado de receber msgs, voice mails, emails, chamadas perdidas, recebe uma chamada com um número estrangeiro, que começava por +351.

Justin atende, e logo Vera se apresenta, Justin estava a ouvir aquela mulher desesperada, relatar toda a sua vida, como se de alguma informação adicional surgisse algo que o pudesse ajudar a encontrar o filho, Vera queria explicar tudo, não queria correr o risco de ser obrigada a procurar por alguém novamente, afinal já tinha enviado o pedido de ajuda a Justin fazia 2 dias e só agora é que finalmente alguém tinha ligado aquele número.

Justin tentando acalmar a Sra, diz prontamente que sim, e combina com ela uma reunião, para acertar detalhes, do que iria precisar saber para começar rapidamente a procura de Delmiro. E combina um encontro com ela.

Dias PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora