▪ One And Only ▪

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    Ela sorria com a graça de mil flores em um jardim, um jardim que parecia estar escondido do mundo, ela odiava toda aquela falta de atenção das pessoas para com ela, mas eu, bem no fundo, adorava. Já que o mundo não lhe via como a mesma queria ser vista, eu lhe garantia em todas as horas do meu dia tudo o que ela é e queria ouvir das pessoas ao seu redor.

    Kang Seulgi era tão linda, tão encantadora. Eu sempre a enxerguei como um sol para meu céu antes preenchido apenas por nuvens cinzas, meu dia não era a mesma coisa sem ela, era vazio e sem vida. Nunca pensei que fosse sentir tanta falta de alguém, aos domingos eu mal dormia por estar ansiosa. O motivo da mimha ansiedade era apenas vê-la em seu moletom lilás, com os cabelos presos por uma liga de plástico colorida e sorrindo para mim na porta da escola assim que me visse.

    Eu achei que apenas gostasse de ter sua amizade, que ela sempre lembrasse de mim e se importasse comigo, mas um dia, saber que ela só me vê como sua melhor amiga passou a ser insuficiente. Meu amor pela Seulgi cresceu em proporções que eu não consegui mais controlar, nem o amor por ela, nem o medo dela me achar louca e se afastar de mim.

    Quis tentar a sorte, decidi perguntar a ela o que ela achava sobre gostar de meninas sendo uma menina, mas Seulgi me surpreendeu com uma pergunta antes que eu pudesse questionar:

   - Yeri, você já sentiu vontade de beijar uma garota? - Ela perguntou, me encarando.

    Não sei o que houve comigo naquele instante, eu poderia ter aproveitado essa oportunidade para dizer a ela que sim, que eu tenho vontade de beijar garotas, e a garota é ela. Porém estraguei tudo, boa parte de mim achou que ela estava desconfiando dos meus sentimentos e quis testar para saber se sua desconfiança tem algum fundamento ou se é só coisa de sua cabeça. E infelizmente eu dei ouvidos a paranóia.

   - Claro que não, Seulgi! - Saiu quase como um grito, e ela pareceu... desapontada? Quis corrigir o que eu disse, porém não soube como fazer isso, então prossegui. - Digo, não nunca, e você? Já sentiu vontade de beijar uma menina?

   - Não, não. Isso é loucura, certo? - Mostrou um sorriso tristonho, senti meu coração se comprimir até não ter mais nada no lugar. - Ninguém deveria pensar nisso...

   - Claro, não deveria...

    Nesse dia, havíamos marcado dela dormir na minha casa, e nós dormiamos na mesma cama quando Seulgi passava a noite. Dessa vez, depois dessa conversa esquisita, ela preferiu dormir no sofá, mesmo com meus pedidos insistentes.

   Não consegui fechar os olhos naquela noite, pensando em formas de corrigir meu erro. Quer dizer, se ela ficou decepcionada com minha resposta, talvez ela estivesse pensando em beijar uma menina. Ou talvez, ela nem tenha ficado daquele jeito por causa da resposta que lhe dei, mas sim porque gritei, não é?

    Minha mente parecia um fone recém tirado do bolso da calça, uma grande bagunça emaranhada de fios. Dúvidas, afirmações, possibilidades e desistência. Não consegui achar uma forma de reparar o que disse, então pensei que ela poderia esquecer, então eu poderia perguntar a ela novamente.

    Não foi a melhor idéia, na verdade essa foi a pior idéia que já tive em toda minha vida. Se eu tinha alguma chance de tornar Seulgi mais que minha melhor amiga, eu mesma estraguei tudo, exatamente duas semanas depois do incidente na minha casa, ela me disse que estava namorando e me pediu para ir com ela ao encontro deles, pois tinha medo de ir só e é claro que, para não desaponta-la ainda mais, eu fui.

    No dia em do cinema, vê-los juntos foi como se meu mundo inteiro perdesse a cor, como se o amor chegasse ao fim para mim e as borboletas no meu estômago terminassem extintas para todo sempre. Minha esperança de tê-la para mim se foi, mas no fundo, ainda estava lá para me fazer chorar até não ter mais lágrimas quando Seulgi não estiver comigo.

    Quando eu estiver sozinha essa maldita esperança vai me corroer de dentro para fora, e eu não vou conseguir mudar essa situação desagradável, vai ser tudo diferente daqui para frente e eu não sei como prosseguir. Talvez, para mim, só estar perto dela seja um bom motivo para tentar prosseguir, para tentar me manter por perto enquanto não terminamos o ensino médio.

    O que me deixa mais triste é que foi tudo culpa minha, tudo por causa da minha paranóia sem sentindo. Nesse momento, estou sentada numa cadeira da sala de cinema, olhando para a tela e chorando como se Debi e Loide fosse o filme mais emocionante do mundo, sendo que esse filme era para ser engraçado. Não é, nada tem graça agora e acho que não vai ter por muito tempo, se não para sempre.

     O namorado dela não era um cara mal, pelo contrário, ele era muito legal... Legal demais. Tudo o que eu não era, essa é a verdade, e isso me incomodava pois eu me sentia mais e mais incapaz de mudar a situação e conquistar Seulgi. Engraçado, bonito, inteligente e atencioso. Ele conseguiu, eu não. E a culpa é minha por não ter sido sincera com minha amiga naquela noite de domingo. 

    Foi assim que eu perdi quem eu mais amava, por causa de uma omissão, por causa da minha paranóia. Por medo de perdê-la, eu a perdi.

What Fear Does ▪ SeulRi ▪Onde histórias criam vida. Descubra agora