Eloise e Phillip: 1827

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Phillip Crane estava distante nos últimos dias. Passava a maior parte do tempo na estufa e voltava para casa ao cair da noite, apenas para descansar e ficar poucos minutos com a família.

Eloise estava intrigada. Desde que casara com o botânico ele não ficava tão disperso em seu trabalho por tantas horas.

— Não gosto disso — Oliver reclamou certa manhã. — Papai costumava ficar horas e horas perdido na estufa depois que a mamãe morreu e mal nos dava atenção.

— Na verdade, ele não nos dava atenção — Amanda constatou.

— Crianças! — Eloise repreendeu — O pai de vocês deve estar ocupado com um trabalho importante.

— Papa — a pequena Penelope de pouco mais de um ano bateu palmas, fazendo mingau ser arremessado para todos os lados.

— Não finja que não liga, mamãe — Amanda foi direta, sem tirar os olhos de seus estudos. — Eu tenho certeza que a senhora está se remoendo por dentro para saber o porquê de tanto mistério.

Céus, desde quando os gêmeos passaram a ser tão inteligentes em avaliá-la bem? — Pensou Eloise. Porém, eles estavam certos. Eloise se remoía de curiosidade, mas ainda não tinha ousado atrapalhar o marido em seus afazeres. Se fosse Hyacinth no lugar dela, a estufa de Phillip já teria sido invadida há um bom tempo atrás.

Eloise deu mais uma colherada de mingau para Penelope, lutando para que Georgiana, que estava em seu colo, não avançasse em sua mão.

— Me pergunto o que tanto ele faz naquele lugar — Oliver olhou para fora, pela janela, diretamente para o local onde o pai trabalhava.

— Oliver, faça os seus exercícios. Sem distrações! — Eloise repreendeu.

— Fico pensando o que o tio Colin faria no meu lugar — foi Amanda quem falou, como quem não quer nada.

— O tio de vocês continuaria estudando — a dama retrucou, sabendo que a frase era puramente mentira. Colin teria feito algo muito parecido com o que Hyacinth faria. — Que tal um passeio pelo jardim? — Eloise sugeriu — O dia está lindo!

Oliver e Amanda guardaram seus cadernos e saíram em disparada para o lado de fora da casa enquanto Eloise com a ajuda de duas criadas levou as duas pequenas. A dama sentou-se perto de um pequeno espaço de roseiras e colocou as filhas mais novas para tomar o sol do fim de tarde.

Phillip estava tão concentrado em seus afazeres que só notou que a família estava no jardim quando escutou o barulho que os filhos mais velhos faziam. Os gêmeos, quase na casa dos onze anos, corriam atrás de uma borboleta. O botânico contemplou a visão com grande alegria. Desde que se casara com Eloise, a vida melhorava a cada dia e o amor pelos filhos e pela mulher aumentava.

Quando a esposa contou que estava à espera do primeiro filho, Phillip não soube o que fazer. Foi uma mistura de amor, pânico e cuidado, afinal, era Eloise. E ele sabia que teria que ficar de olho nela. Phillip gargalhou sozinho. Ele não queria estar na pele de Gareth St. Clair quando Hyacinth anunciou a gravidez que trouxe George ao mundo.

— O que é tão engraçado? — A voz sutil de Eloise o despertou. Ele não tinha percebido sua chegada.

— Apenas um pensamento que veio na memória — Phillip foi até a esposa e lhe deu um beijo na testa.

— Algum trabalho importante? — A dama perguntou, olhando ao redor.

— Alguns — ele respondeu, ainda olhando para os olhos de Eloise.

— Você vem para o jantar? — Eloise quis saber. Phillip colocou a mão em seu rosto, fazendo-a fechar os olhos com o contato. Como sentia falta do marido ao seu lado, falta do cheiro da pele de Phillip, caracterizada pela mistura de terra, plantas e rosas.

— Sim — Phillip respondeu. — Irei para o jantar.

Mas Phillip não apareceu. Quando Eloise chegou para fazer a última refeição, viu a mesa vazia. Tocou a campainha da sala e esperou uma criada aparecer.

— Por que a mesa não está posta?

— Desculpe senhora, o senhor Phillip pediu para que levasse o jantar das crianças para a ala infantil e o dos senhores para seus aposentos — a criada respondeu cabisbaixa.

— O que está... — Ela se interrompeu. — Obrigada.

A criada fez uma mesura e saiu apressada para a cozinha.

Eloise estava perdendo a paciência. Se soubesse que jantaria no quarto não tinha se dado o trabalho de vestir-se para o jantar. Subiu as escadas em passos barulhentos e impacientes, destinada a saber o que estava acontecendo.

— O que está... — Mais uma vez Eloise interrompeu sua fala. Assim que abriu a porta do quarto deparou-se com a cama repleta de pétalas de rosas. Não flores comuns, mas pétalas em um misto de tons em lilás e azul, algo completamente novo. — Phillip? — Ela retomou a fala, chamando pelo marido.

O cavalheiro saiu de detrás do biombo com um buquê de flores da mesma cor das pétalas de cima da cama. Ele tirou uma única rosa do meio de várias e entregou para Eloise, deixando o ramalhete de lado.

Eloise pegou a rosa e sentiu o perfume. Era maravilhoso.

— Eu... Eu nunca vi uma flor tão linda — disse, mais uma vez inspirando a essência inebriante da rosa que tinha em mãos.

— Essa é nova — Phillip contou. — Demorei dias para conseguir criá-la.

— Você a criou? — Eloise parou espantada.

— Sim — Phillip riu da surpresa da esposa. — Levou um tempo para conseguir cruzar as espécies certas e dar o resultado esperado. — Ele chegou mais perto de Eloise — Quero fazer um jardim só para essa variedade.

— Vai ficar lindo — Eloise já estava perdida com a proximidade do marido, os corpos quase alinhados. — Então, foi por isso que você passou tanto tempo na estufa? — Conseguiu perguntar.

— Sim. — Phillip sussurrou, tirando os grampos dos cabelos de Eloise e deixando-os cair pelos ombros. Ele tirou-os do caminho, para que tivesse acesso ao pescoço da amada. — Eu dei um nome para ela. — Falou, referindo-se a rosa. — Quer saber qual foi?

A dama apenas assentiu com a cabeça, respirando com dificuldade.

— Eloise. O nome dela é Eloise.

Eloise. Phillip havia criado uma rosa em sua homenagem. Com este último pensamento, ela esqueceu-se do resto e entregou-se completamente aos braços do marido. 

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