Capítulo 3

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Presente

Malu

Não sei quanto tempo se passou desde que estou aqui no chão, podem ter sido minutos, horas, dias... eu só sei que tudo o que eu queria era poder voltar no tempo e mudar o dia que eu conheci o Max. Cada vez que penso em todas as palavras que ele me disse o meu coração se aperta e eu choro ainda mais. Como ele pôde pensar essas coisas de mim? Eu entreguei a ele o meu coração, o meu corpo, a minha vida, e o que recebi em troca foram mentiras e acusações.

Queria poder odiá-lo, sentir raiva. Mas quanto mais o tempo passa a única coisa que consigo sentir é desespero e tristeza. Desespero em não saber o que vai ser do meu filho sem pai e tristeza por ver o futuro que eu tanto planejei sendo destruído diante dos meus olhos.

Saio do meu estado deplorável quando escuto a porta sendo aberta. Uma onda de esperança me invade e levanto imediatamente. Será que o Max voltou? Será que ele vai me abraçar e me pedir perdão? Dizer que me ama e que se arrependeu de tudo o que disse?

Mas tudo o que ouço são passos cautelosos e a voz do meu amigo. —Malu, você está bem?

Quando escuto sua voz doce, choro ainda mais e corro para os braços do Bento. Ele me carrega para o sofá e me abraça forte, não diz nada, apenas faz carinho nas minhas costas e no meu cabelo, me confortando silenciosamente. Ficamos assim por um bom tempo, até que seu carinho começa a me acalmar, e quando enfim os meus soluços param, eu digo. —Por que você está aqui?

—Eu estava no bar com um amigo. Mas algo me dizia que eu tinha que voltar para casa. Resolvi te ligar, mesmo que fosse atrapalhar o seu momento precisava saber que você e meu afilhado estavam bem. — Quando ele diz isso a vontade de chorar volta com tudo. —Quando você não atendeu fiquei preocupado, então liguei pro Max. Ele simplesmente atendeu e disse que eu podia ir me foder junto com você. Não entendi nada, mas sabia que algo de muito ruim tinha acontecido. Então vim correndo ver você. Achei que vocês tinham brigado por causa do bebê. Mas nunca na minha vida imaginei que você estaria nesse estado. — Ele suspira e diz. —Quer me contar o que aconteceu?

Começo a contar tudo. Por diversas vezes eu tive que parar porque não conseguia falar de tanta dor no meu coração. Cada coisa que eu contava sentia o Bento ficando mais tenso. Quando eu termino, ele me deixa no sofá e começa a andar de um lado pro outro furioso.

—Por que esse filho da puta mentiu para você, Malu? Ele se passou por uma pessoa humilde durante um ano apenas para te testar? Para ver se você não era interesseira? E depois ainda tem a coragem de te chamar de todas essas coisas, te acusar de tentar dar o golpe da barriga e dizer que o filho pode ser meu? Eu vou quebrar esse desgraçado! — Ele diz gritando e ameaça ir para a porta. Eu corro e me coloco na frente dele, impedindo que ele saia. Eu preciso dele aqui comigo.

—Eu não sei Bento. Eu estava tão feliz. Nunca imaginei que poderia ser tão feliz na minha vida. Tinha o meu emprego, que mesmo não sendo muito bom me dava o que eu precisava, tinha você, que é mais que meu amigo, é meu irmão, tinha o Max que eu tinha certeza ser o amor da minha vida, e agora tinha esse bebê que seria o fruto desse amor tão lindo e que eu já amo tanto. E agora eu sinto que minha vida está sendo despedaçada. Que eu estava segurando tudo que eu sempre quis e de repente tudo foi arrancado de mim. Eu me sinto sozinha. Eu não vou conseguir sozinha. Eu preciso de você aqui comigo. — Eu digo e as lágrimas caem sem parar pelo meu rosto.

Bento corre e me pega no seu colo, me levando de volta ao sofá. Ele coloca as mãos em concha no meu rosto e faz com que eu olhe bem nos olhos dele. —Você nunca mais diga uma merda dessas. Você não está e nem nunca estará sozinha. Não sei o que deu na cabeça desse babaca pra fazer uma coisa dessas, ele realmente parecia te amar. — Ele diz e fica pensativo. —Mas isso não importa. Porque eu estou aqui e nunca, NUNCA, vou sair do seu lado. Ouviu bem? Você é minha família, e esse bebê aqui? — Ele diz e coloca a mão na minha barriga. —Será muito amado. Porque eu vou dar todo o amor do mundo para ele. Vou ensinar ele ou ela a ser uma pessoa de caráter. Vou estar do seu lado em todos os momentos, e você jamais, nem por um segundo nessa vida se sentirá sozinha.

Ao ouvir essas palavras eu sinto um pequeno alívio e apenas abraço o Bento sem dizer nenhuma palavra. Não sei porque pensei que estaria sozinha, afinal eu tenho um anjo do meu lado. Meu amigo, meu irmão. Sei que posso contar com ele, e o amo demais por isso. Uma vez ele me disse que não éramos irmãos de sangue, e sim da vida, que nossas almas se reconheceram, e hoje eu tenho a prova disso.

Me sinto mais calma, mas o meu coração continua doendo, pois quem eu queria que prometesse estar ao meu lado para sempre era o Max. Aquele cafajeste que continuo amando com todas as minhas forças, mesmo depois de tudo.

Meu amigo não diz mais nada, e nem eu. Ficamos ali, naquele casulo, sentindo aquela ligação que só nós temos. O tempo se passa e o cansaço aparece. Não sei se foram os acontecimentos da noite, todo o choro ou o esgotamento emocional. Apenas sinto minhas pálpebras pesadas. Parece que estou flutuando e sendo colocada em algo macio. Sei que o Bento me trouxe para a cama, mas estou mergulhando no sono e não consigo falar. Apenas sinto ele tirar minha sandália, se aproximar do meu ouvido e sussurrar. —Eu amo vocês dois, e não vou deixar que nada de mal aconteça com vocês. Vocês serão felizes. Eu darei a minha vida por vocês se for preciso.

Caminhos Traçados - Retirado em 11/02Onde histórias criam vida. Descubra agora