Capítulo 4

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Malu

Acordo sentindo dor em todas as partes do meu corpo, minha cabeça parece que vai explodir, mas o que mais dói é o meu coração. Sinto como se ele tivesse sido pisoteado, e pensando bem, ele foi.

Levanto da cama e saio do quarto, a casa está silenciosa, Bento ainda deve estar dormindo. Vou até o banheiro e me olho no espelho. Meu rosto reflete exatamente como estou me sentindo. Vejo uma mulher acabada, com os olhos inchados e vermelhos e as bochechas marcadas pelo rímel que escorreu junto com as lágrimas.

Após um tempo saio do banheiro sentindo minha cabeça pesada, preciso de um analgésico urgente. Vou em direção a cozinha e encontro meu amigo com uma xícara de café na mão olhando para mim. —Uau... como você consegue acordar tão linda? — Ele diz com aquele sorriso lindo dele.

Esboço um sorriso e o abraço. Ele larga a xícara na pia e me acolhe em seus braços. —Só você mesmo para me fazer sorrir. Eu te amo!

—Eu também te amo, minha princesa. E também amo esse bebezinho que está crescendo dentro de você. — Meus olhos se enchem de lágrimas e ele percebe que vou chorar. —Nada de choro. Não faz bem para o nosso bebê toda essa tristeza. Sei o quanto está sendo difícil para você tudo o que aconteceu. Mas eu tenho certeza que muito em breve as coisas vão se ajeitar.

—Eu sei. Mas essa dor no meu peito parece que vai me esmagar.

Ele não diz mais nada, apenas fica um tempo me segurando. Eu saio de seus braços e digo. —Estou com fome. Você tem que me alimentar, estou grávida!

—Ora, ora, se a mamãe do ano já não está se beneficiando da gravidez para mandar em mim.

Sorrimos e juntos preparamos o nosso café da manhã. Após comermos aviso que vou me arrumar para trabalhar, o que o Bento não aceitou muito bem. Ele queria que eu ligasse e dissesse que estava passando mal. Disse que iria faltar também e ficaríamos o dia inteiro nos entupindo de chocolate e vendo filmes na TV. Mas achei melhor ir, além de ser uma distração sair de casa, eu não posso me dar ao luxo nem de cogitar perder esse emprego. Meu filho precisa de mim.

Tomo um banho demorado e tento disfarçar meu rosto inchado com maquiagem, mas acho que não deu muito certo, já que quando eu cheguei no salão todos vieram me perguntar o que tinha acontecido. Logicamente eu menti, não queria que ninguém soubesse de nada. Disse que não dormi bem a noite por causa de uma crise de enxaqueca, e graças a Deus todo mundo me deixou em paz.

Na hora do almoço não comi quase nada. Não descia nada pela minha garganta. O pouco que consegui comer acabei colocando para fora. Minha chefe vendo isso achou melhor que eu fosse para casa. Tentei argumentar que estava bem, mas foi em vão. Ela praticamente me enxotou de lá.

Resolvi ir andando para casa, a caminhada não era longa, e eu poderia pensar um pouco mais. Mas quanto mais eu me aproximava de casa mais sentia o meu peito se apertar. Quando abri a porta do apartamento a dor voltou com tudo e eu desabei no sofá chorando, lembrando de tudo o que o Max tinha feito no dia anterior.

Depois de um tempo ali, percebi que não podia me deixar abater. Isso não era mais sobre mim, muito menos sobre o Max, era sobre esse grãozinho de areia que estava no meu ventre. Era por ele que eu tinha que levantar e encarar de frente toda essa merda que está acontecendo. Nós não iríamos precisar de um homem para sermos felizes, principalmente um homem que mentiu durante um ano e ainda disse que o bebê podia não ser dele.

Eu não quero o Max na minha vida nem na vida do meu filho.

Após ter esse pensamento, solto um suspiro. A quem eu estou querendo enganar? É claro que eu quero ele na nossa vida. Eu perdoaria tudo o que ele me disse, perdoaria todas as mentiras, só para sentir ele me abraçar e falar com aquela voz que tanto amo o quanto sou importante para ele.

Sou tirada dos meus pensamentos com o barulho da campainha. Vou me arrastando até a porta, e quando abro, ele está lá! O homem que eu tanto amo e que destruiu meu coração. Ele está vestindo um terno sob medida. Claro que está Malu, ele agora não precisa mais se passar por uma pessoa humilde.

Ele me encara por alguns segundos com um olhar frio, como se estivesse me avaliando. Mas eu posso ver as olheiras embaixo dos seus olhos, o que me diz que ele não dormiu bem. Vejo um pouco de amor e saudade no seu olhar, mas ele logo desvia seus olhos dos meus e olha para baixo. E quando aqueles olhos azuis que tanto amo voltam para mim, vejo raiva e rancor. Ele respira fundo e diz. —Nós precisamos conversar.

Caminhos Traçados - Retirado em 11/02Onde histórias criam vida. Descubra agora