Capítulo 2

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Malu

Eu não conseguia entender o que ele queria dizer com isso. —Eu sei que não foi no melhor momento, meu emprego não dá muito dinheiro e eu moro aqui com o Bento, e o seu salário de office-boy também não é lá essas coisas. Mas o Bento disse que podemos ficar aqui com ele até a gente conseguir o nosso cantinho.

—Corta essa Malu! Eu sabia que você era como todas as outras!!! — Ele disse gritando.

Eu me encolhi, não conseguia entender. —O que você está dizendo Max? Por que está gritando?

—Fala a verdade, porra!!! Você descobriu não foi? Descobriu que eu não sou nenhuma porra de office-boy, descobriu que o meu pai é o dono da empresa e que eu sou o único herdeiro daquela merda toda. Claro que foi isso!!! Você descobriu e inventou essa porra de gravidez para me dar um golpe!

—Você está louco? Que história é essa de herdeiro? De empresa? Você mentiu pra mim?

—Não vem querer inverter a história Maria Luísa. Isso agora não importa. O que importa é que você é como todas as outras que só querem o meu dinheiro. Eu te dei o meu coração, porra! Eu vim aqui hoje pedir para você se casar comigo! Eu ia te contar toda a verdade. Mas você se achou muito esperta, achou que ia me dar o golpe da barriga. Só que comigo não vai rolar!!!

—Max, pelo amor de Deus... eu não estou entendendo.

—Ahhhh... você não está entendendo? — Ele disse de forma sarcástica. —O que está acontecendo é que você é uma puta interesseira como todas as outras. Bem que minha mãe me avisou. Mas o babaca aqui dizia que não, que você me amava pelo que eu era. Foi por isso que eu não disse quem eu era realmente. Mas de nada adiantou, você me enganou direitinho com esse seu jeitinho de moça inocente. E o imbecil aqui caiu como um patinho.

—Para de dizer essas coisas de mim! Eu estou grávida, e eu te amo. — Eu ainda tentei argumentar, mas minha voz parecia que ia falhar a qualquer momento.

—Será que esse filho é meu mesmo? Ou será que você se divertia pelas minhas costas com outros? Ou será que é do Bento e vocês armaram essa porra toda de amigo gay que foi espancado? — Ele diz com sarcasmo na voz.

Não pensei duas vezes, avancei e dei um tapa com força no seu rosto. Não sei o que me possuiu naquele momento, só fiquei cega pelo ódio. Como o homem que eu amei, que eu amo, pode dizer essas coisas horríveis de mim. Ele que mentiu e enganou. Que fingiu ser algo que não era.

—Você sabe muito bem que você foi o meu primeiro. Você não tem o direito de falar essas coisas. Se tem alguém que foi enganado aqui, esse alguém sou eu. Você mentiu para mim. Me fez acreditar que você era uma coisa, e na verdade é outra. Eu não conheço mais você, e se você me conhecesse saberia que eu nunca ia me importar com a merda de dinheiro ou status. Sai daqui agora! Eu não quero nunca mais olhar para a sua cara!
Ele apenas me olhou incrédulo, e parecia até estar arrependido de tudo o que disse, mas logo depois a raiva voltou ao seu olhar, e algo como decepção apareceu ali. Então ele se virou e saiu batendo a porta.

Nesse momento tudo o que aconteceu bateu em mim como um trem de carga. A dor, a raiva, a decepção, o amor, a felicidade, tudo se misturava dentro de mim. Eu desabei no chão e chorei. Chorei pelo que vivemos, pela família que poderíamos ter construído e pelo futuro que meu filho teria.

E ali, encolhida no chão, eu relembrei o momento que conheci o Max.

1 Ano Atrás
Eu estava no saguão de um prédio, saindo frustrada de mais uma entrevista de emprego. A vida não estava sendo muito boa comigo. Nunca tive uma boa relação com meus pais adotivos, então assim que pude saí de casa e só nos falamos em ocasiões especiais pelo telefone.

Esse emprego na Herbertz Company seria a minha salvação, mas como sempre, existiam mulheres mais qualificadas e mais bonitas que eu e acabei não ficando com a vaga. Mas não vou desanimar, sei que em algum momento algo de bom vai acontecer comigo.

Estava quase na porta de saída quando senti alguém trombar comigo. Quando olhei para a pessoa fiquei hipnotizada. Ele era lindo. Aqueles olhos azuis brilhantes me encaravam de uma forma que parecia me desvendar.
Saio do transe e digo. —Me desculpe. Eu realmente estava distraída.

O homem olha para mim e diz. —Você trabalha aqui?

—Infelizmente não. Acabei de sair de uma entrevista para recepcionista, e digamos que não fui muito bem. Esse emprego ia me salvar, mas eu sei que... — Dei uma risada e parei. Mas que porra eu estou fazendo aqui falando da minha vida para alguém que eu nem conheço. —Me desculpe, quando eu fico nervosa acabo falando demais.

—Você pede muitas desculpas linda. E eu só vou te desculpar se aceitar tomar um café comigo.

Eu sorri sem graça, afinal ele era um homem lindo e usava um terno. Devia trabalhar aqui, e a tonta além de não ter capacidade para trabalhar nesse lugar ainda quase derrubou o homem.

—Sinto muito, mas eu estou com pressa. E você deve estar indo para o trabalho certo?

—O que? Eu? Trabalho... Não! — Ele disse de uma forma estranha e eu apenas sorri. —Eu fiz uma entrevista aqui mais cedo! Isso! E voltei para ver se já tinham algum retorno.

—Ah sim, não vou te atrasar então.

—Deixa pra lá, eu posso esperar a ligação deles. E então linda, aceita tomar um café comigo? — Ele disse e abriu um sorriso tão lindo que quase me fez derreter.

Não sei o que me deu, mas resolvi aceitar. Eu e Max conversamos por um bom tempo no café. Percebi que ele ficou nervoso quando eu perguntei para que vaga ele havia se candidatado, mas logo depois disse que era de office-boy. Eu ri, na verdade gargalhei, e disse que nunca vi um “boy” ir a uma entrevista de terno. Ele apenas sorriu e me respondeu que queria impressionar.

E foi ali que começou a nossa história.

Caminhos Traçados - Retirado em 11/02Onde histórias criam vida. Descubra agora