Caverna

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Permita-me enxergar pelos teus olhos por uma noite
Para ver a tristeza por trás de cada sorriso
Para ver a peça principal que acontece atrás das cortinas
O amor nas atitudes mais simples e ditas irrelevantes
O interesse e arrependimento vestidos de veludo e impregnados de perfumes caros
E a companhia duradoura quando estiver caminhando
Deixe-me escutar o som nas entrelinhas
O bater de portas embailado pelo vento
A gargalhada mais sincera dos verdadeiros amigos e dos eternos amantes
As ideias brilhantes escondidas nas bocas silenciosas
E a mediocridade no discurso dos mais falantes
Me empreste o seu olfato apurado que sente a treze léguas de distância o infortúnio no ar
E o cheiro autêntico da felicidade para saber qual o perfume devo levar
Ensine-me a apreciar o cheiro das folhas, de café quente e de terra batida
O hálito resfrescante com cheiro de hortelã
E o aroma mais puro oriundo de uma tarde inesquecível
Tire do meu corpo esta eterna dormência
A incapacidade de sentir a frieza vinda de peles quentes
A falta de sensibidade para reconhecer os braços que serão o meu porto seguro nas noites de angústia
E as mãos que devo a minha vida entregar
Para todos os dias me ajudar a sair da caverna que as minhas limitações humanas insistem me colocar

Marcos Malagueta.
Manaus, 23 de junho de 2018.

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