De todos os carros que ele pode imaginar que aquela garota poderia ter, o último que poderia por ventura passar por sua mente era exatamente um Packard Clipper 57. Ele era negro azulado com detalhes prateados de uma maneira que o colocaria facilmente na garagem da Família Adams.
Atravessar o centro histórico de Salvador era simplesmente impossível naquela época do ano, mas tomando algumas ruas paralelas e buzinando tanto quanto o carro suportava, eles conseguiram chegar à estreita ruazinha onde o bar Fata Morgana quase se escondia.
Não fosse pelas letras em neon que começavam a se tornar visíveis agora que a noite caía, aquele local passaria apenas uma porta colorida em uma casa antiga.
O porteiro puxou a portinhola e deu uma rápida olhada em seu rosto antes de abrir a porta e liberar sua passagem. No seu interior, longe do que era imaginável na Bahia, o bar tinha um ambiente de pub britânico, com luzes violeta e fumaça ondulando por todo o ambiente.
No bar feito em madeira, um barman bastante sorridente aguardava a clientela aparecer, enquanto alguns sujeitos jogavam sinuca a um canto e SOS do ABBA tocava em volume baixo no outro.
Em poucas horas o primeiro show da noite aconteceria.
— Olá Bel — o barman cumprimentou com um sorriso, antes de mover seus olhos para Indiana — olá Joan Jett.
Ela apertou os lábios em um sorriso torto para ele que dizia que aprovava a piada, mas se a repetisse muito ia perder suas bolas.
— Vamos ter visitas hoje Dan — Beleni disse roucamente — é melhor deixar esse lugar brilhando.
— Um negociante?
O loiro anuiu, sentando em um dos bancos em frente ao outro e depois observando a garota. Ele não esperava encontrar uma pintora mediúnica focada nele, era algo raro e que merecia algum tipo de confirmação superior.
Antes que ele tivesse com uma bebida pousada a sua frente, a porta frontal foi novamente aberta empurrando o calor denso da rua para dentro do estabelecimento. Um homem baixo e ligeiramente curvado adentrou lentamente, sentindo cada um dos seus passos até deixar seu olhar cair sobre o loiro. Ele moveu seus olhos para Dan e pediu uma bebida forte.
— Beleni? — Ele questionou se sentando ao seu lado e colocando uma pasta de couro sobre o balcão limpo.
— Sou eu.
Dan trouxe uma dose de uísque para o homem, sem conseguir evitar dançar um pouquinho pelo caminho enquanto trazia a bebida, cantarolando o refrão de SOS. O negociante puxou o copo, franzindo as sobrancelhas para o barman e tomando um grande gole antes de devolver o copo ao balcão.
— Temos um resgate para você.
— E o que seria? — Bel perguntou erguendo uma sobrancelha loira.
O homem moveu sua pasta e abriu com um estalo de metal. Dentro havia alguns arquivos e várias fotos de um antigo disco de pedra. No momento em que seus olhos caíram sobre as fotos, ele soube que tipo de relíquia eles queriam resgatar.
— Queremos que encontre para nós um Disco de Dropa, e tenho certeza que você conhece a história deles. Ouvi dizer que foi o primeiro artefato que encontrou.
— Sem sombra de dúvida — o loiro volveu apertando o maxilar e levando sua dose de saque aos lábios, deixando o líquido escorrer por sua garganta e amortecer seus sentimentos.
— Ele está com Katsuo — o negociador disse lentamente — tenho alguns contatos que me disseram que você conhece esse homem e que por isso talvez iria gostar de fazer essa tarefa — ele fez uma pausa para lançar um olhar vasculhador por todo o seu rosto — o escolhemos, porque se o conhece, conhece seus hábitos e terá mais facilidade para encontrá-lo.
Ele puxou seu banco para se aproximar mais do loiro, fazendo-o perceber o quanto ele era baixo e roliço. Bastante longe do tipo dos últimos negociadores que tinham vindo atrás dele, interessados em seus serviços de recuperação de relíquias exóticas.
— Mas não queremos nenhum tipo de retaliação — ele prosseguiu seriamente — queremos o Disco inteiro, então nem cogite permitir que ele tenha a possibilidade de se danificar porque você está com o sangue quente, fui claro?
Bel moveu a cabeça anuindo, puxando uma charuteira de seu casaco, cortando e logo depois acendendo um charuto entre seus lábios. Puxou a fumaça para os lábios e a assoprou em direção a negociador.
— Mais claro impossível — ele puxou o charuto dos lábios e fez questão de jogar as cinzas em um adesivo de "Proibido Fumar" colado no balcão.
— Você tem até o próximo sábado para recuperar o Disco e entregá-lo a mim, neste mesmo local e horári...
— Qual é o pagamento? — Ele questionou rapidamente, cortando o homem.
O homem torceu os lábios, irritado pela interrupção.
— R$ 100.000,00 depositados em duas partes. Metade agora, caso aceite os termos que eu já expliquei e a outra a metade na entrega. Eu estou pronto para fazer a transferência agora mesmo.
— Certo — Bel mordeu seu charuto — e vocês tem alguma pista de onde Katsuo se esconde agora?
O homem deu uma risada grossa para a sua pergunta, fazendo seu banco sacudir abaixo de seu traseiro pesado.
— Ouvimos rumores de que ele estava em uma das cidades de baixo, no complexo de túneis.
— Então temos um acordo — Bel se ergueu rapidamente — faça a transferência, vocês sabem perfeitamente o número da minha conta.
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Alessandro Beleni e a Cidade de Baixo
AdventureAlessandro Beleni tem um dom. Ele pode distinguir objetos que tem qualquer toque paranormal e graças a esse talento, quando ainda era criança, ele foi sequestrado por um clã de ninjutsu onde, como um escravo, ele serviria recuperando artefatos preci...