Dragão de Jade

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Yori foi arrastado pelo piso de madeira por dois meninos da sua idade, tentando a todo custo não correr deles e manter o autocontrole. Assisti-los lutando por todos aqueles anos o fez desejar aprender, e quando os outros meninos não olhavam, ele treinava copiando seus movimentos.

Aquilo lhe dava esperança de que se pudesse fugir, ele teria alguma chance de sobrevivência, mas aquele não era o momento.

Um grito feminino o tirou de seus próprios pensamentos e horrorizado, ele assistiu enquanto era escoltado para dentro dos aposentos de Katsuo, a sua bela Sayuri amarrada a uma mesa baixa em profunda agonia.

Yori — o Mestre chamou logo atrás dela — você se lembra deste disco que resgatou para seu Dono? — Ele questionou apontando para a antiga vitrola onde estava deitado o Disco de Dropa que ele havia resgatado semanas antes, do mercado negro na Indochina.

Ele não sabia qual era a função do disco, mas o brilho e a tremulação que ele provocava no ambiente ao seu redor, não deixava equívoco de que ele não pertencia ao mundo deles.

— Esse disco — Katsuo prosseguiu — possui um feitiço inimaginável, ele permite a um feiticeiro prender um espírito em um recipiente — ele lhe sorriu e a maneira como seus lábios se puxaram era simplesmente cruel — qualquer tipo — e então ele apontou para Sayuri agonizando sobre a mesa — tínhamos um problema terrível com uma velha bruxa na aldeia e sabíamos que um vaso abençoado não a manteria presa por muito tempo.

Ele se moveu em direção a Yori e o puxou pela gola de seu kimono, até jogá-lo sobre os joelhos ao lado da gueixa.

— Achamos que Sayuri poderia contê-la e morrer honradamente para que pudéssemos nos livrar da bruxa e restaurar sua honra.

Ele puxou doloridamente o rosto de Yori para cima, para que seus olhos encontrassem o dele.

— Porque o seu amor e seu olhar lascivo manchou a honra dela e a deixou suja — ele apontou novamente para a mulher, que gritava desesperadamente — é isso o que escravos fazem. Eles contaminam tudo o que eles tocam e é obrigação do clã, limpar isso.

Sobre o rosto de Sayuri havia padrões intrincados feitos pela katana de Katsuo e a maneira como ela parecia aterrorizada fez seu estomago revirar.

Antes que ele tivesse uma reação, os alunos de Katsuo o prenderam a uma viga em frente aonde a gueixa agonizava e quando ela deu seu último suspiro de desespero e seus olhos perderam a luz, o sensei se permitiu voltar seus olhos para ele.

— Você aprendeu sua lição, escravo? — Ele questionou se aproximando e quando viu a fúria queimar dos olhos de Yori, ele puxou uma longa respiração — chicoteiem-no até que ele caia sobre os joelhos — ele puxou seu queixo e o sacudiu — este é duro de dobrar.

Quando o chicote estalou em suas costas, uma lágrima quente desceu sobre seu rosto e naquele momento ele soube que estava pronto. Tencionou seus músculos até romper as cordas e se virou alcançando a corda do chicote e a prendendo entre os dedos, sentindo o couro cortar sua pele e deixando o sangue gotejar para o chão.

O menino que empunhava o chicote soltou um suspiro de surpresa e antes mesmo que ele pudesse puxar a própria katana, o chicote já estava fora de suas mãos e a longa corda foi arremessada contra seu rosto.

A irá cegou completamente Yori e tudo o que ele se lembrava pouco tempo depois, era das sirenes cantando há um mundo de distância dele, enquanto o fogo consumia o templo do Clã e ele se mantinha banhado em sangue, sentado ao lado do corpo sem vida de Sayuri.

Alessandro Beleni e a Cidade de BaixoWhere stories live. Discover now