Vassoura Quebrada

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— E aí? — Uma criatura mediana, vestindo uma imensa cartola, lhe cumprimentou ligeiramente constrangido — desculpe o golpe, cara...

Beleni piscou e percebeu que devia estar deitado sobre a pedra lapidada que formava o chão dos tuneis, da cidade subterrânea.

— Por que raios você fez isso? — Ele rosnou se erguendo, percebendo que suas roupas ainda estavam no lugar.

Ele olhou para o lado e encontrou Indiana apoiando sua cabeça para ajudá-lo a se erguer e pensou em que terrível impressão ela devia estar tendo naquele momento.

— Eu achei que era um metamorfo — a criatura silvou irritadamente — algum idiota tentando se passar por você para arranjar algum artefato aqui em baixo. Você sabe que existem imbecis para isso.

Bel se pôs de pé e apontou uma mão inclinada para o elfo que mal chegava à altura dos seus joelhos, mesmo com a altura da sua cartola surrada.

— Indiana — ele iniciou — esse é o Sr. Du, meu contato aqui em baixo, muito bom em ouvir fofocas e tomar atitudes precipitadas — ele estreitou os olhos na direção de Sr. Du e o elfo estremeceu, encolhendo os ombros.

— Como posso me redimir? — Ele chiou tristemente.

O loiro lhe sorriu abaixo do véu que cobria seu rosto.

— Você deve ter ouvido boatos de que Katsuo está por aqui. Eu quero saber exatamente onde ele está.

Sr. Du se ergueu subitamente e no momento seguinte mergulhou contra o chão.

Antes mesmo que ele pudesse tocá-lo, seu corpo estremeceu e se escamou, criando uma nova figura.

Quando Indiana piscou, ela tinha a sua frente um gato preto magricela com olhos verdes. Ele miou para ela e então despareceu entre os pés da multidão, se esgueirando perfeitamente e se mesclando nas sombras.

— Uau — ela conseguiu dizer e então voltou seus olhos para Beleni — isso vai dar certo?

— Isso tem que dar — ele volveu para ela e então moveu uma de suas mãos para seus ombros, empurrando-a em direção ao que parecia uma ponte iluminada com lamparinas — mas temos que nos mesclar primeiro.

Ele viu um gnomo realmente feio vendendo alguns vasos muito bem detalhados e se aproximou dele, puxando Indiana consigo. Chamou à atenção do vendedor e em uma língua que ela nunca ouviu, ele começou a lhe fazer perguntas, pela maneira como sua voz entoava.

O comerciante debateu um pouco irritado e lhe apontou uma direção qualquer, lhe dando as costas logo em seguida.

— Então? — Ela perguntou.

— Ele diz que viu um homem com uma katana dourada atravessar a ponte e seguir para o Vassoura Quebrada.

Vassoura Quebrada...? — Ela definitivamente tinha que perguntar.

Ele pareceu olhar ao redor e então moveu suas mãos em frente ao rosto, em símbolos intricados, sussurrando uma série de palavras que ela mal pode perceber.

Quando ele terminou e se voltou para ela, seu olhar estava ligeiramente preocupado.

— Precisamos de um espelho — ele disse rapidamente, puxando-a novamente até uma loja cuja frente era completamente envidraçada, com metal entre os quadrados de vidro, torcidos em belos espirais.

Quando a porta se abriu, um sino tocou acima deles da maneira antiga e Indiana pode contemplar o lindíssimo interior da loja, com estantes completamente forradas de inúmeros tipos e tamanhos de bolas de cristal, iluminadas pelo lume amarelado das lamparinas.

— Norberto — Beleni chamou e um homem velho, magro e ligeiramente curvado se apresentou sorrindo.

— Bel — ele disse muito feliz — como posso ajudar um velho amigo?

— Preciso de um portal para o Vassoura Quebrada — ele respondeu e antes mesmo que ele pudesse fazer um segundo pedido, o homem se enfiou embaixo do seu balcão fuçando sonoramente.

Um momento depois ele puxou um pequeno espelho escuro e oval e entregou a Bel, que lhe devolveu uma bolsa de moedas.

— Ouro puro — ele lhe assegurou com um sorriso, antes de mover sua mão em frente ao espelho e sussurrar uma nova conjuração — segure-se em mim e não solte — ele disse para Indiana, apenas um pouco antes dela tocar seu ombro e sentir que estava sendo sugada para dentro do espelho.

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Sayuri deixou a sedosa cauda de seu kimono se arrastar pelo chão, enquanto ela se encaminhava até Katsuo, o mestre do último Clã ninja que havia sobrevivido à modernidade.

Quando ela o encontrou, se moveu, ajoelhando-se

em uma reverência delicada.

— Como posso ajudá-la Sayuri? — O homem questionou sentado em um tatami, em sua posição de meditação, enquanto observava alguns meninos lutarem.

— Vim lhe dizer que seu escravo nutre sentimentos por mim, Mestre — ela abaixou ainda mais quando ele virou seu rosto para ela, ligeiramente surpreso — como devo prosseguir?

Katsuo sorriu para ela, mesmo que ela notasse que ele não estava feliz. Era na verdade um sentimento denso e obscuro que brilhava em seus olhos e que fez um arrepio gelado cortar sua coluna.

Ele fez um aceno com as mãos e se ergueu, movendo-se para uma antiga vitrola que ele parecia manter com afinco. Sobre ela havia um disco de pedra que tinha um aspecto antigo e rústico demais para ser um vinil.

— Chamem o escravo aqui — ele disse para os meninos que lutavam e instantaneamente eles se moveram, fizeram uma saudação e deixaram a sala rapidamente. Ele então se virou para ela — eu corrigirei este erro agora mesmo, minha bela Sayuri.

Antes que ela pudesse agradecê-lo realmente, ela sentiu sua nuca ser golpeada fortemente por um instrumento maciço. Seus olhos rolaram e ela sentiu seu corpo cair pesadamente sobre o chão, ferindo seu rosto, enquanto ela sucumbia ao sono. 

Alessandro Beleni e a Cidade de BaixoWhere stories live. Discover now