Sayuri

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Ela vestiu sobre suas roupas uma túnica dourada e colocou um longo véu sobre seus cabelos, com um lenço cobrindo seu rosto, pendurado com uma corda encerada por cima de suas orelhas.

Quando Beleni apareceu do outro lado do quarto puído de madeira que ele havia negociado com uma criatura perto da entrada por onde eles vieram, ele estava com um pequeno turbante perolado sobre sua cabeça e seu imenso cabelo estava completamente solto, como uma cortina pálida caindo em ondas sobre seus ombros e costas, até um pouco abaixo dos seus quadris.

Ele usava um véu de musselina cobrindo do topo do seu nariz até a base de seu pescoço. Sobre o corpo, ele agora usava um longo robe de seda dourada, com uma faixa larga prendendo-o em sua cintura, dotada de uma grande fivela redonda.

Presa à faixa, pendia uma katana embainhada e Indiana franziu os olhos para isso.

— Por que uma espada?

— Não posso manter as armas de fogo à vista aqui — ele fez um sinal com a cabeça para que eles saíssem e calmamente ela o seguiu — preciso contatar um amigo que pode nos ajudar durante essa empreitada.

Eles estavam fora da hospedaria, quando ele lhe disse que tentaria entrar em contato com seu conhecido. Antes de que ele pudesse ter colocado os dois pés para fora da linha da calçada improvisada, algo atingiu sua cabeça.

Bel piscou e moveu seus olhos para o lado e depois para Indiana que tinha ficado pálida mesmo sob o véu. No segundo seguinte ele apenas caiu pesadamente sobre o chão, sentindo seus músculos doerem e então apagou complemente.

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Ele já era adulto quando a viu pela primeira vez.

Seu nome era Sayuri e ela era uma lindíssima gueixa aos serviços de Katsuo, desfilando em seu kimono azul com flores vermelhas e mantendo os garotos hipnotizados com a sua beleza.

Para fazê-lo compreender sua posição de escravo, o Sensei cortava do cabelo de Yori todas as semanas, antes mesmo que ele pudesse despontar e ele sabia, em seu coração, que aquela mulher jamais poria seus olhos nele por conta disso.

Era uma maneira de mostrar a todos que ele era um servente do templo, além de suas roupas puídas e seus sapatos gastos. Tudo o que ele ostentava era a maldição de poder enxergar o que os outros não podiam.

Quando Katsuo se satisfazia com os outros prazeres que ela semanalmente ofertava a ele, ela era mandada até o lugar onde Yori era obrigado a aguardar, feliz de ter a beleza dela para admirar, mesmo que fosse por algumas curtas horas semanais.

Ela era uma feiticeira e se tornou tarefa especial dela ensiná-lo sobre a magia e como dominá-la para servir ao seu clã, como gerar energia através da meditação e impulsionar os poderes que existiam nele para moldar a realidade ao seu redor.

Ela lhe ensinou sobre como capturar os objetos sagrados sem interferir em sua energia e sem se deixar ser prejudicado por eles, mesmo assim, metade de sua concentração sempre esteve no modo como ela se ajoelhava a sua frente, graciosa com um cisne.

Seu kimono brilhando a luz do luar ou do sol, com sua pele de porcelana em contraste absoluto com seus lábios vermelhos.

— Fuja comigo — ele sussurrou uma vez ao seu ouvido, assistindo-a olhá-lo lentamente com suas írises negras — eu protegerei você. Fugiremos para longe dele.

Ela pareceu se assustar com a mera ideia, pondo alguns centímetros entre eles e fazendo-o se arrepender imediatamente de ter compartilhado com ela suas fantasias.

— Por que você acha que eu desejaria isso? — Ela questionou franzindo as sobrancelhas finas e deixando a dúvida reluzir em seus olhos — por que acha que eu fugiria com um escravo?

Em sua memória, ele apertou os olhos em completa frustração.

Quando ele os abriu novamente, não estava mais em sua memória, a centímetros da linda Sayuri.

Ao invés disso, ele flutuava em uma escuridão profunda, observando reflexos do luar atravessarem a água muitos metros acima de onde ele lentamente flutuava.

Beleni — três vozes femininas ecoaram na escuridão e ele voltou seus olhos para a frente, notando como seus cabelos flutuavam ao redor dele, como tentáculos pálidos estremecendo como uma áurea em seu entorno.

A sua frente uma luz dourada chamou sua atenção e ele encontrou três mulheres sentadas sobre um pilar de alabastro. Todas elas tinham cabelos e peles douradas, seus lábios cheios, seus dentes, até mesmo seus olhos eram dourados.

Beleni — elas chamaram novamente e ele tentou se mover para perto delas, sem sucesso, apenas sendo permitido a ele flutuar à distância — nós enviamos a você a pintora mediúnica — elas moviam seus lábios de forma lenta e onírica e suas vozes pareciam bater em rochas imaginárias e ecoar em sua mente — ela tem seu passado em suas mãos.

Uma das mulheres saiu de sua formação, nadando como uma lindíssima sereia dourada até ele, fazendo até mesmo a água negra adquirir seu tom. Ela envolveu suas mãos macias nas laterais de seu rosto e sua mornidão o derreteu em pura tranquilidade.

— E seu futuro será desenhado por ela, se assim você o permitir — ela se aproximou ainda mais — deixe-nos lhe dar este último presente, filho — ela sorriu, antes de apertar seus lábios contra os dele, soprando o ar em sua boca e enchendo seus pulmões.

Dor explodiu através dele.

Apertou os olhos para tolerar a maneira como seu corpo estremecia com choques cortando através dos seus músculos. E então, puxando uma respiração pesada, ele acordou. 

Alessandro Beleni e a Cidade de BaixoWhere stories live. Discover now