Capítulo 8

35 4 0
                                    

Terei toda a aparência e quem falhou, e só eu saberei se fui a falha necessária.

– Clarice Lispector.

Alexis Blair P.O.V

  Pus a chorar não por medo, não por provavelmente estar sendo traída, mas por tudo que está acontecendo. A pessoa que mais queria que estivesse aqui não está, a pessoa que um dia ficaria comigo pelo resto de minha vida agora compartilha outras amizades, nós nunca tivemos a chance de compartilhar o mesmo sentimento como agora. Um ódio inexplicável.

  Ouvi a grande e pesada porta ser aberta e logo a pessoa que eu menos queria ver saiu de lá. Ele andava apressadamente em minha direção, suas calças pretas apertadas chamavam minha atenção tanto quanto os seus bíceps que pediam mais espaço naquela camisa justa.

– O que quer? – perguntei furiosa.

  Ele parou nas primeiras arquibancadas e me olhou.

– A escola é tão grande. – levantei e abri os braços. – São tantos lugares para você ir, com tantos amigos populares que você tem. – disse.

– Você é estupidamente estúpida, Hermione. – falou.

– Não me chame assim! – esbravejei.

– Eu não menti quando disse que ainda te conhecia Alexis, não me teste. – disse.

– O QUE QUER AQUI?! – perguntei mais uma vez.

– O que o Jack J te falou? – perguntou.

– Não lhe deve o respeito. – disse olhando para um ponto perdido. – Aliás, como ficou sabendo que ele falou comigo? – perguntei cruzando os braços.

– Ele te caçoou, não? – perguntou subindo as arquibancadas ao mesmo tempo que mudava de assunto.

– Por quê? Veio me zoar? – perguntei sentando, ele não desistiria nem tão cedo.

– Perguntas e mais perguntas. – disse e sentou próximo a mim. – E sobre vir te zoar, não é preciso quando só eu posso fazer isso. Eu odeio você, Alexis. – ri. – Mas não a sua mãe, peço desculpas para ela.

  Sentimentos? Agora o Mendes possui sentimentos suficientes para se desculpar?

– Veio aqui por isso? – perguntei olhando para um canto perdido. – Pois saiba que ela não pode escutar as suas desculpas, porque ela está morta. Nada nem ninguém vai mudar isso, nem as suas desculpas, que para mim, é apenas da boca para fora. – o encarei. – Você não sente nada, nunca sentiu. – voltei a olhar meu ponto perdido.

– Quem garante isso? Você? – perguntou. – Eu te salvei ontem...

– Tem razão. – levantei o cortando. – Você sente muita coisa, como por exemplo: dor, solidão, abandono, ódio e a inércia que te leva cada dia para um caminho sem volta. – disse. – Essa é sua real versão. – disse e comecei a descer as arquibancadas.

– É porque você não viu a melhor. – disse alto.

– Espero já ter mostrado a minha. – gritei e mostrei meu dedo do meio para ele.

– O problema é que você sempre foge quando as pessoas querem mostrar a real verdade, sua real forma. – disse.

  Dei meia volta e andei em sua direção mais uma vez.

– Que verdade você quer me dizer? Dizer mais uma vez que me odeia? – perguntei. – Não precisa, esse sentimento é recíproco, não se preocupe. – falei.

– Achava que você fosse menos vulnerável. – disse.

– Vulnerável? É por isso que veio aqui. – afirmei. – Dizer que sou vulnerável a verdades e estúpida de não perceber que o Cameron está me traindo com a Hailey? Tenho mais o que fazer do que prestar atenção a seus enigmas insignificantes. – disse e comecei a andar para dentro da escola, agora sem olhar para trás e nem muito menos escutar o que o Shawn falava. Mas a frase que mais me aguçou foi a que ele me disse no final:

– Na vida há mentiras cativantes e verdades sem graça, Alexis.

[...]

– Eu estava te procurando. – disse o Cameron quando eu sentei numa cardeira próxima a dele. – Sei o que você viu. – murmurou quase como um sussurro para que o professor não prestasse atenção em nós. – Sei o que está pensando. – apenas me inclinei e peguei o meu caderno e voltei a minha posição de origem. – E não é nada disso, Alexis. – segurou meu pulso quando viu que eu não estava nem aí para sua justificativa.

– Dallas. – chamou o professor. – Deixe de esgotar a paciência da Srta. Blair e preste atenção na aula.

  Eu só queria chorar só pelo fato dele ter me segurado daquela forma. O Cameron era meu único porto-seguro, o que eu faria se eu o perdesse?

  A Amber me diria que eu não precisava de ninguém para seguir minha vida, já a Kristy diria para que eu pegasse outras pessoas, que eu tentasse algo novo. A Cara iria me apoiar enquanto comeríamos sorvete deitadas em um sofá, ou quem sabe até assistindo a um filme.

  Tentei expulsar aquela teoria que o Jack J havia colocado em minha cabeça, mas era quase impossível. A porta foi aberta e o Shawn entrou com sua bolsa sobre as costas e sentou na cardeira da frente do Cameron.

– Olha o atraso, sabe que não permito isso. – disse o professor e o olhou o Mendes por sobre os óculos.

– Apenas voltei para pegar minha bolsa. Afinal preciso das minhas coisas que estão dentro dela. – disse debochando.

– CAMISINHA! – gritou alguém do fundo da sala. Olhei para trás e vi o Jack J com um grupo de meninas. Com toda certeza tinha sido ele.

  Deboche, ironia, difamação... são apenas exemplos de coisas que existem ao meu redor – não que eu não goste de ser debochada ou usar ironia nas coisas que eu digo –, mas eu precisava de um momento de paz. De um momento sozinha.

  Fiz uma coisa que se eu estivesse em sã consciência não teria feito de jeito algum. Peguei minha bolsa e saí daquela sala sem mais, nem menos. Passei pelos corredores daquela grande escola e saí pelas portas da frente sentindo um alívio indescritível.

  Fui em direção ao campo de lavanda que existia perto da escola e sentei embaixo da mesma árvore de anos atrás. Me perguntava há quanto tempo as iniciais S, A e C estavam cravadas nela. Peguei uma maçã da minha bolsa e abri meu livro num dos meus sonetos favoritos de Shakespeare.

Soneto 116

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

Like To Be You II S.MOnde histórias criam vida. Descubra agora