Percebi manchas roxas debaixo de seus olhos, quando o vi chegar alguns dias depois.
Tenho quase certeza de que eram olheiras, ele não parecia ter dormido quase nada na última semana, mas quando se sentou novamente ao meu lado, optei por não comentar sobre aquilo.
Estava desenhando algumas coisas aleatórias em meu caderno, enquanto o sinal não tocava. Percebi que ele disfarçadamente olhava para o lápis em minha mão e os rabiscos que formava, parecendo curioso.
Não disse nada, apenas virei a página e, em uma folha limpa — ou quase — comecei a desenhá-lo.
Quando terminei, ele me encarou. Demorei alguns segundos, mas logo ergui a cabeça.
Seus olhos estavam carregados. Parecia que estava gritando por ajuda, mas nenhuma palavra saía de sua boca. Meu coração se apertou.
— Eu gosto de desenhar as pessoas, às vezes.
O silêncio permaneceu por um tempo.
— Você é boa. — Ele respondeu, em um tom relutante, porém firme.
— Oh, obrigada. — Esperei um momento, e quando não respondeu nada, continuei: — Você não deveria cobrir o rosto dessa forma. Seria bom ver como você é, realmente. — Eu sorri.
Não olhei para ele de volta, mas sabia que não estava sorrindo. Nunca vi um sorriso naquele rosto.
Isso partia meu coração.