Aproveitei o almoço naquele dia, a hora que a sala estava vazia, para colocar seu guarda-chuva ao lado de sua mochila bordô encostada na cadeira.
Era a última – e única – coisa que tinha para me lembrar dele. E eu a estava deixando para trás.
Bordô me lembrava sangue. E sangue me lembrava dor.
Coincidentemente – ou não – era tudo que eu sentia naquele momento.
Dor.
Ah, Deus... Eu não sabia o certo o que sentia por ele, mas tudo que queria naquele momento era estar em seus braços.
Querendo ou não, a gente é assim mesmo. Se alimenta de esperanças sobre algo que não tem – quase – nenhuma chance de dar certo. Se alimenta de amores inexistentes e de palavras que não dizem nada. Somos assim. Criamos coisas nas nossas cabeças. Ilusões e mais ilusões, pra fugir da realidade que nos quebra e que nos destrói pouco a pouco, todos os dias.
Passei o restante do dia sem nem prestar atenção no tempo ou nas pessoas, até ouvir o sinal soar, e as cadeiras se arrastando apressadamente atrás de mim.
Arrumei minhas coisas, mas antes que pudesse pegar minha mala e – finalmente – sair daquele lugar, senti alguém segurar meu braço.
Um toque que fez minha respiração travar. Um toque que eu reconheceria em qualquer lugar.