Nunca ao menos pensou que chegaria a tal ponto, quando sua habilidade nunca fora usar suas mãos para desenhar. Ainda era uma bagunça com as palavras - mesmo sendo sua forma preferida de expressar-se. Ao menos desta vez sentiu-se totalmente solitária e desta vez também palavras não eram o suficiente.
Foram elas, as palavras não ditas e entaladas que causou todas as confusões. Sooyoung era tola, apenas gostaria de poder voltar no tempo para consertar o coração de todas as pessoas que machucara por causa da sua falta de jeito com letras, sílabas e frases.
Agora não importava, todas haviam abandonado-a e ela vivia um solitário fim de semana.
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Claro, são sobre os desenhos. Afinal, do que se tratavam cada um?
Após dois ou três dias, Sooyoung havia criado um jardim - tão solitário quanto ela própria e sua mente. Um tão doloroso quanto seu primeiro amor ou quanto um relâmpago atingir sua cabeça. Tão triste quanto não haver flores na primavera - ou primavera nas flores. Aquilo doía tanto para si, Sooyoung não entendia o porquê de associar a solidão e a bagunça em sua mente com algo que tanto amava - as próprias flores.
O único motivo é que Sooyoung amava tanto flores quanto amava as suas flores. Não só as plantas em si, não só os desenhos desajeitados e mal pintados que fazia, amava as flores presente em sua vida todos os dias - hoje não mais.
Cada flor tinha um nome. Então, cada flor vinha acompanhada de uma identidade, uma pessoa de carne e osso, mil sentimentos e algumas brigas. E, mais uma vez, poucas palavras.
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Começou pelo mais clichê - clichês fazia-a sentir-se bem, e que falta fazia os clichês em sua vida. As singelas risadas e os apelidos acompanhados de histórias. O clichê da vez foi uma grande rosa vermelha em uma folha de caderno de desenho usado na escola no ano anterior e que ainda restava páginas em branco. Tão vazias quanto seu coração. Tão vazias quanto seu jardim.
A rosa vermelha para si era todo o amor que perdeu, toda a desesperança que reinou o pequeno jardim que havia criado. Toda a desesperança que já habitava em si, agora habitando outro corpo. Son Hyejoo era esse outro corpo, quando meses antes deixou de ser aquele vermelho das pétalas e o amor que representava. O vermelho tornou-se o sangue presente em cada lágrima derrubada por ambas quando enfim a falta de esperança chegou para não ir mais embora.
No desenho, a rosa parecia tão vermelha e intacta, Sooyoung gostaria na mesma intensidade que Hyejoo ainda se mostrasse tão presente e tão perfeita como sempre fora. Sooyoung é uma idiota, é por isso que não resta-lhe mais esperanças. E é por isso que Hyejoo não dá-lhe mais amor.
Logo após a desesperança e a rosa vermelha que de amor se tornou sangue e lágrimas, o jardim de Ha Sooyoung apenas continuou e piorando a cada nova flor.
Novamente, não era seu desejo em hipótese alguma aproximar coisas que faziam-lhe tão bem à pessoas que fizeram-lhe tão mal. Os desenhos começaram por causa do medo de tentar com as palavras novamente. Sooyoung não seria estúpida para tornar o ruim ainda pior com sua falta de jeito. Sooyoung deveria manter sua linda boca fechada.
Então, Sooyoung apenas tinha de continuar. Quem sabe, assim, todos aqueles sentimentos se colocariam em ordem? Era um mínimo possível, mas ainda tinha de lutar contra a desesperança e desta vez, só desta vez, esperar mais um pouquinho para se livrar daquilo.
Foi traçando cada grande pétala de um girassol que percebeu então o quanto sua mente vagava em um lugar obscuro e vazio. Cada uma das pétalas coloridas em amarelo deveriam ser tão felizes quanto a própria cor usada, mas a cor não significava nada ali.
Mesmo como o sol, o amarelo de Sooyoung havia desbotado para o cinza. Não era mais seu raiar que fazia o dia de Kim Jiwoo. Nem ao menos queria mais Sooyoung em seus dias, estava desbotada há muito tempo e não era capaz de preencher com todo o amarelo o cinza dos dias de Jiwoo. É por isso que Jiwoo também foi embora, em outras palavras, quando viu que Ha não era mais o suficiente para si. A amizade tão forte que achavam que compartilhavam desbotou como a cor de seus olhos.
Não era mais capaz de Ha Sooyoung ser o sol de Kim Jiwoo, então Jiwoo achou que tinha o direito de expulsá-la de sua vida como quem expulsa um intruso de sua zona de conforto. Tão cruel. E Sooyoung mais uma vez era a culpada por sua própria desesperança naquele jardim metafórico.
A terceira flor de seu jardim atendia pelo nome Park Chaewon em seus melhores dias. Fora então representada por uma tulipa por Sooyoung, a explicação em sua mente conturbada era mais simples do que as outras. Uma pequena tulipa cor-de-rosa no papel em branco remetia-se à Chaewon por parecer tão pequena, tão bonita, e que ninguém imaginaria ser catastrófica por um espinho em seu caule verde intenso. Ninguém jamais imaginaria que aquele espinho seria capaz de fazer Sooyoung se machucar tanto e chorar por tantas noites por várias razões inexplicáveis: era a saudade de tê-la ao seu redor dizendo-a coisas sem sentido, para então, depois, dizê-la palavras duras e cortantes - cortes tão profundos como se fossem causados por facas em suas costas, das vezes em que Chaewon apunhalou-a sem importar-se com o que Sooyoung fosse sentir; depois, era a raiva dominando seu ser, raiva de Chaewon e dela própria.
Sooyoung se odiava cada vez que aquele espinho machucava-a. O espinho escondido na tulipa rosa era o símbolo para todo o mal, toda a raiva, as coisas ruins e as vezes em que Chaewon machucou a Ha - mesmo despercebido. Aquele maldito espinho que levou também à partida de Park da vida de Sooyoung. Era mais uma flor metaforicamente despedaçada em um jardim sem esperança.
Outras flores surgiram depois da rosa, do girassol e da tulipa. Flores bonitas e cheias de cores, de vida, de aromas e de significados. Margarida, violeta, orquídea, copo-de-leite, camélia, azaléia, cravo, lírio e várias outras. Sooyoung esperava - sem esperança - que nunca precisasse despedaçá-las como outras pessoas haviam despedaçado-a. Não queria outras pessoas metafóricas e sem sentimentos em um campo de batalha ali novamente para abandoná-la como fizeram as melhores amigas que Sooyoung já tivera.
O jardim continuaria ali, na mente de Sooyoung, todo bagunçado, destruído e sem esperança - exatamente como sua cabeça e seu coração. O jardim era apenas mais um símbolo disso, mais e mais sentimentos não colocados em ordem e palavras que não conseguem descrevê-lo.
Talvez Sooyoung devesse parar - de escrever, de desenhar e de confiar nas pessoas.
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jardim [♡] yyxy; loona.
Hayran Kurgu(yves!centric) o que significava tudo aquilo para sooyoung se não uma bagunça em sua mente e em seu coração? © original by luvchoerry