Apaixonado

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Antéria

07 de Dezembro de 1546
Lucius Ganner


Era tão difícil explicar como eu me sentia quando ela ia embora. Eu não sabia demonstrar, mas ansiava pela companhia dela.


Seu olhar, seu cheiro, sua pele. Tudo era um convite para me aproximar. Queria poder ficar mais perto, porém temia que isso a afastasse e apesar do pouco tempo que tínhamos passado juntos, me doía pensar nisso.

Eu ficava sempre aguardando que ela aparecesse. Era como se a floresta fosse mais do que era antes. Era como se caçar não fosse mais minha única motivação. Eu me pegava pensando nela. Pensando naquele sorriso, no cheiro de seu cabelo e na proximidade dos nossos corpos.

Pensar nela me acometia a lembranças de histórias que meus pais contavam de como se conheceram.

Minha mãe tinha sido uma das damas da Rainha Ariella Hughes e quando se apaixonou por meu pai, um mero guarda real ela abriu mão de tudo. E voltou com ele para sua aldeia natal.

Se ela se arrependia de suas escolhas eu não sabia dizer, mas via meu pai trabalhando além de seu limite para que ela pudesse ter uma vida menos sofrida. Não achava que aquele era o futuro que ele escolheria para ela ou para nós se pudesse voltar no tempo e mudar as coisas.

Era verdade que Sarah tinha tanto ou menos que eu, mas pensar em algo a mais com ela. Pensar em um compromisso poderia tirar sua única esperança de um futuro. Sem falar que eu não sabia se poderia sustentar minha família e a dela.

Tudo era tão injusto. Enquanto os nobres casavam e se descasavam ao seu bel prazer, os menos favorecidos mal podiam sobreviver, que dirá dar uma vida digna à família. Eu queria ter mais. Não por mim, mas pelos que eu amava.

Voltei para casa da árvore e fiquei lá até a noite cair. Nem mesmo levei a caça para minha mãe. Não queria conversar ou ver ninguém, e sabia que eles ainda tinham carne do dia anterior.

Eu apenas queria entender esse sentimento que crescia em meu peito. Entender como poderia controlá-lo. Era algo novo e apavorante. Fechar os olhos era quase mágico, pois na escuridão seu rosto se formava de forma tão vivida que eu quase podia toca-lo.

Após algumas horas pensando e pensando sem conseguir nenhuma resposta, decidi descer e levar as caças para casa, mas antes de chegar à porta, encontrei Lisbeth vindo ao meu encontro.

- Você mentiu...

- O que você disse?- perguntei confuso.

- Eu segui você pela floresta e vi o fruto da minha imaginação ao seu lado - concluiu com os olhos semicerrados.

- Lis, você sabe que não pode ir a floresta! - a repreendi.

- E você disse que era errado mentir - respondeu erguendo a sobrancelha esquerda.

- Eu só estava protegendo a reputação dela - respondi pegando uma mecha de seu cabelo dourado.

- Se ela não entrasse na calada da noite na casa de um homem você não precisaria protegê-la.

- Lis, não diga isso! - respondi triste com o comentário dela. - Ela não teve escolha. A família tem passado fome, e ela veio caçar na floresta e enfrentou perigos que poucos homens já experimentaram e só veio a minha casa porque eu praticamente a obriguei. Queria protegê-la da tempestade, mas eu lhe dou minha palavra que não a toquei!

- Está apaixonado... - e um sorriso escorreu-lhe pelos lábios.

- É muito nova para dizer essas coisas - respondi desajeitado.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora