Capítulo Três

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Quando a boate já estava ficando vazia, os caras da segurança colocando os bêbados e drogados pra fora. Eu via muitas garotas vestidas de coelhinhas aparecerem de todos os cantos, inclusive do corredor lá em cima. Sabia que algumas Throe quem chamava, pelo menos foi o que vi mais cedo.

Elas foram todas para um único lugar, entrava como coelhinhas e saíram como garotas comuns, cansadas de uma noite daquelas de trabalho. Saquei que ali devia ser o vestiário delas.

Eu voltei para o quartinho, lá eu fiquei esperando algum tempo pela tal Charlotte, queria ao menos me apresentar para ela. Esperei pelo menos uma hora até ouvir a porta lá em cima bater, então saltos ecoando na escada e logo eu ver ela. Fiquei totalmente em choque ao olhar, era realmente uma garota, ela devia ter os seus quinze ou dezesseis anos, era loira, tinha cabelos compridos toda bronzeada, sua estatura era magra e ela tinha um rosto lindo de menina inocente, se não fosse aquela roupa de coelhinho eu poderia jurar que ela tinha entrado no lugar errado.

— Uh! Oi, você deve ser a Latiffa — disse ela sorridente, eu sorrio também, afinal eu esperava ter uma boa convivência com ela
— Sim, sou eu e você é a Charlotte — ela aperta a minha mão como um cumprimento
— Sim, mas me chama de Charlie, meu nome parece formal de mais — ela dá risada. — Que bom que você apareceu a Trisha está de quatro meses já, o uniforme dela está ficando muito apertado.
— Poxa, acho que cheguei em uma boa hora — ela sorri
— Bom, então vamos ajeitar você, não se preocupe eu vou te ensinar como as coisas funcionam por aqui, e tudo bem fácil — ela sorri gentilmente. Então abre a porta do quadrado de madeira. Descubro que lá é um banheiro e um closet ao mesmo tempo. De um lado há armários com roupas e sapatos e do outro, um sanitário, uma pia com espelho e por fim um pequeno box.
— Uau, muito bom o que fez com esse lugar — digo a Charlie, ela ri
— Obrigada, eu pedi para Throe dar um jeito de colocar um banheiro aqui dentro, não aguentava mais ter que subir até o vestiário pra tomar um banho.
— Esse Throe, ele é um bom chefe? — Charlie pegava lençol, um travesseiro, fronha, uma manta também e me dava tudo.
— Ele é sim, aqui na boate somos um grande time, cuidamos uns dos outros. Quando Trisha ficou grávida pensamos que Throe iria dispensar ela na hora, mas o cara deu apenas parabéns e disse que ajudaria ela, temos certeza que ela vai querer sair agora que tem um bebê, então todos estamos ajudando de algum jeito, eu estou a procura de um outro emprego pra ela — eu não sabia se ficava emocionada ou em choque. Aquele cara não fazia o tipo caridoso, mas, bem, negar ajuda a uma mulher grávida é muita covardia. — Bom, o sofá parece pequeno mas é bem confortável, pelo menos até conseguirmos uma cama, tudo bem pra você?
— Tudo ótimo, obrigada — sorrio para Charlie. Fico aliviada ao notar como ela era legal, eu tinha medo de ser dessas super individualistas.
— Eu vou tomar um banho, se ajeita aí, fica a vontade, é sua casa também — por fim ela entra no banheiro. Eu coloco as coisas em cima do sofá, ajeito o lençol, coloco a fronha no travesseiro e o coloco no braço do sofá, estendo a manta felpuda cor de rosa.

— Licença — me viro, vejo um outro cara, esse parecia mais novo que os outros três que conheci e tinha olhos muito mais bem humorados também.
— Oi — digo apenas
— Ah, você é a Latiffa, prazer, eu vou Benjamin, ou apenas Ben — o cara estende sua mão e sorri. Ele tinha cabelos repicados e bagunçados meio ruivo, olhos muito azuis e sardas pelo rosto, era lindo, eu tinha que admitir
— Prazer — sorrio
— Bom, eu vim deixar o jantar o Charlie
— Ela está no banho
— Tudo bem — ele deixa uma sacola com marmitas em cima de uma mesa pequena que há ali
— Eu trouxe uma porção a mais que é pra você — ele me dá um sorriso — Seja bem vinda a Last Kiss — eu fico alegre com a gentileza dele
— Muito obrigada — Ben assente e vai embora. Eu estava faminta, entao abro uma das embalagens de isopor, a comida quente e cheirava muito bem, pego os talheres que vieram junto e começo a comer. Aquilo estava realmente incrível.
— Ah, o Ben deixou a comida, que bom — disse Charlie saindo do banheiro, ela agora parecia mais com a sua idade, usava uma calça mais larga e um moletom, sem toda a maquiagem e produção.
— Ele sempre trás?
— Sim, todos os dias e quando está de bom humor pede uma pizza para nós dois. — eu assenti entendo.

Charlie e eu comemos assistindo um programa de humor naquela sua tv. Ela me falou um pouco mais sobre o sistema da boate, eu anotava mentalmente qualquer informação útil. Por fim ela subiu para a sua cama e eu fui para o banheiro com a minha mala, tirei aquele vestido e coloque um short de pano e uma blusa de flanela. Tirei a maquiagem e fui me deitar. Aquele tinha sido um longo dia...

                        🌼🌼🌼

No outro dia, eu acordei com Charlie me chamando, era hora de fazer faxina na boate, e como ela é agora eu moramos lá, cabia a nós deixar tudo brilhando. Apesar de ser assustador pensar em limpar aquele lugar inteiro, Charlie me garantiu que o serviço era moleza.

Eu tomei uma ducha para despertar melhor, vesti um short jeans e uma regata. Amarrei meus cabelos e fui com Charlie para o salão. Fomos para o vestiário, lá havia uma dispensa com material de limpeza. Pegamos vassouras, baldes, panos. Colocando as luvas ela me instruiu a limpar as salas privativas, lá em cima. Ora, então era isso aquelas portas. Peguei meu balde e fui para lá.

As salas eram iguais, escuras, com sofás grandes, mesas, um estoque de bebidas no frigobar e muito neon para "iluminar". Para limpar aquilo você tinha que usar uma lanterna porque não havia lâmpadas comuns. Era incrível como o ser humano produzia sujeira, em todas as salas a quantidade de caminhas usadas era absurda, fora isso, em cima das mesas havia restos de cocaína. Também havia bitucas de cigarro, seringas usadas. O mais nojento era limpar o vômito de algumas, eu quase passei mal.

Com as salas limpas, eu desci, Charlie me mandou para os camarotes em quanto ela estava limpando a área do DJ. Aquela parte foi mais tranquila, uma vassoura e um pano foi tudo o que eu precisei. Um tempo depois ouvimos os barmans chegarem, eles que cuidavam da limpeza dos bares. Lavar muita louca, varrer e tudo mais.

Throe chegou lá penas onze horas da manhã, ele tinha os cabelos bagunçados, usava óculos, sua roupa era apenas uma camisa cinza e calça escura. Ele usava um cordão no pescoço com um cruz como pingente. Seus dois braços eram fechados em tatuagens com muitas cores e desenhos. Assim que ele entrou, viu a mim e Charlie limpando, então me chamou com um gesto. Deixei as luvas ali e o segui para o seu escritório.

De novo sentada na sua frete, dessa vez ele não me olhava, só pediu o numero dos meus documentos, abriria uma conta para me pagar o salário.
— Você pretende fazer programa? Por que se sim eu forneço o espaço e a segurança, e o que você receber será cem por cento seu — ele era uma espécie de cafetão do bem.
— Não, não vou
— Tudo bem — ele se levanta, vai até um armário e o abre — Você pode ficar em pé, por favor. Sem entender bem, eu fico, seus olhos descem pelo meu corpo, em uma avaliação rápida, então ele pega algo do armário, volta até a sua mesa e me dá — seu uniforme, você começa hoje a noite
— Ok, obrigada — pego o uniforme.
— Espero que se dê bem por aqui, Latiffa — diz Throe quando estou pronta para ir — Ah, antes que eu me esqueça, às vezes eu preciso de algum serviços extras das garotas, eu pago cem por cento nesses casos
— Serviços? — eu esperava que não fosse o que eu estava pensando. Throe me dá um meio sorriso
— Nada de mais — ele se levanta, dando a volta na mesa, ficando na minha frente, mais próximo. — Me diga, sua primeira noite com a Charlotte deu tudo certo? — eu assenti
— Sim, ela é muito gentil — não consigo segurar um pequeno sorriso ao lembrar da minha nova colega
— Ela é meio doidinha, mas é boa pessoa
— Quantos anos ela tem? — não poso resistir em perguntar, Charlie parece muito nova
— Menos do que deveria para trabalhar aqui, mas ela foi um caso especial, não tinha como dizer não
— O senhor parece ser muito...bom, com as pessoas — Throe me dá uma risada mais longa
— Senhor? Não precisa ser tão formal. — ele segura a minha mão e me deixa mais perto dele, não gosto da proximidade, mas de repente sinto o seu perfume, é tão másculo e gostoso — me chame apenas de Throe
— Ok — há um momento em que simplesmente ficamos nos olhando, Throe é um cara bonito, claro, mas aquilo não diminuiu a repulsa pelo o que ele faz. Faria de tudo para colocar aquele cara na cadeia
— Você pode ir agora — disse por fim, soltando a minha mão. Eu apenas me dirigi até a porta e saí.

Meu coração estava meio descompassado pela adrenalina do momento, ele me passava a sensação de que a qualquer momento poderia cometer uma loucura, e certamente eu não duvidava. Voltei aos meus afazeres com Charlie. Tínhamos muito serviço.

Lost In PerditionOnde histórias criam vida. Descubra agora