Capítulo Dez

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— Abby — ele se levanta, anda até uma mesa pequena e redonda, cheia de bebidas, serve para si mesmo uma dose do que parece ser conhaque — Abby foi a única mulher que eu já disse eu te amo em toda a minha vida. Ela era tudo o que eu tinha, mas fui cego de mais pra perceber isso antes de ser tarde de mais.
— Henry disse que você a matou, eu não consigo acreditar nisso — era óbvio que eu acreditava, fazia todo sentido e seria mais uma coisa na sua longa ficha criminal.
— Ele está certo. Um dia estávamos indo a algum lugar que eu não recordo onde seja, no caminho me pegaram em uma emboscada. Eles me fecharam, pegaram ela e fizeram de refém. — seu copo se esvaziou em um gole que ele deu, então me olhou — eu tinha uma arma engatilhada e mirando na cabeça do cara que a segurava. Outro apontava uma pra mim, se eu atirasse, eu morria, se não atirasse, ela morria...
— Então você não atirou...?
— Ela sorriu de repente e apontou pro seu peito. Eu soube na hora o que ela queria dizer, mas eu não ia fazer, eu preferia morrer tentando salva-la. — aquilo estava me deixando muito confusa — Só que então eu pensei, se eu morresse, provavelmente iriam tortura-la ou fazer coisa pior até matar de uma vez.
— Você atirou nela — constato o olhando completamente diferente agora
— Eu a matei no momento em que a trouxe pra esse mundo, espero que tenha me perdoado por isso — sentia meu coração pesado, pela primeira vez não era de ódio por quem eu via na minha frente, era de compaixão.
Throe matou a mulher que tanto amava para poupa-la de uma morte muito pior, ele ainda era um assassino, mas fez aquilo porquê não queria que a garota sofresse mais do que já estava sofrendo
— Tem alguma foto dela?  — Throe me olha um momento, então sai do quarto. Eu espero uns cinco minutos até ele voltar e me dar um porta retrato de madeira, dourado, lindo.
A foto me assustou, a tal Abby era uma versão de mim mais nova com cabelos escuros e mais curtos. Nós tínhamos muito em comum no quesito aparência, não me surpreendia Henry ter dito aquelas coisas a Throe.
— Uau — é o que consigo dizer. Olhando aquela foto, eu via uma garota parecida comigo, mas que ao mesmo tempo não tinha nada haver. Ela sacrificou a sua vida por um criminoso, deixou que ele mesmo a matasse! Tudo isso, toda essa grandiosa coisa simplesmente porquê o amava.
Olho para Throe, ele tinha marcas, seus olhos sem brilho, cicatrizes, de facadas, balas, as tatuagens encobriam algumas delas. Eu odiava o fato que saber daquelas coisas me fez amolecer um pouco mais com Throe.
— Eu sinto muito por isso — ele dá de ombros
— Foi a muito tempo, eu estou bem — me levanto deixo o porta retrato de lado sem olhar novamente.
— Quero voltar para a boate — eu precisava pensar em como seguiria aquele plano, faltava algumas coisas para poder entregar Throe de uma vez.
Ele me leva de volta, me deixando dentro do salão sem nenhuma palavra dita, apenas se despedindo com um aceno de cabeça.
Vou para o quarto, mas quando chego eu vejo uma cena que lamento intensamente em interromper, era Charlotte e Benjamin se beijando, eu devia ser muito cega para não notar que rolava um clima entre os dois.
— Desculpa, eu não queria...
— Uhh...tudo bem, o Ben já estava de saída — olho para Benjamin, ele está se levantando
— Verdade, eu já estou indo, boa noite garotas. — ele sai um tanto apressado, eu olho para Charlie
— Uau
— Não, não, não, você saiu com o Throe, me conte o que aconteceu, detalhe por detalhe
— Fomos a uma festa, gente rica e esnobe para todos os lados. Nada de mais
— Sério? Não aconteceu mais nada?
— Não, eu era a acompanhante, nada além disso estava no acordo que eu tinha de fazer mais alguma coisa.
— Tá, mas você está usando uma camisa dele — eu pensei em contar a Charlie sobre Henry, mas aquilo não me ajudaria em nada.
— Eu derramei vinho no vestido. Enfim, vou tomar banho e dormir, estou exausta.
— Sei... Ok, então, boa noite. — Charlie sobe para a sua cama, eu vou para o banheiro, tomo uma ducha rápida, logo me deito e estou sonhando.

                              ✖✖✖

Alguns dias desde a festa haviam se passado, eu estava muito mais próxima de Throe, ele estava cada vez mais confiando em mim. Aquilo era ótimo pois quanto mais ele confiava, mais informações eu lhe arrancava.
Eu não via Henry fazia algum tempo, as vezes perguntava dele para Ben ou Oliver, mas eles sempre diziam que o mesmo. Henry havia sumido e para eles era melhor assim, pois ninguém queria um estuprador por perto.
Mesmo com isso eu não deixei de ficar de olho, Henry queria descobrir coisas sobre mim e eu podia apostar que estava se esforçando para conseguir. Isso fazia com que eu ficasse mais cuidadosa.
Hoje eu havia escolhido a noite para encontrar com Jake, tinha que lhe entregar o relatório do caso. Então saí no meio da madrugada.  O encontrei em uma cafeteria vinte e quatro horas, estava vazia,a não ser por Jake sentado em uma mesa afastada.
Caminho até a mesa, me sento na sua frente, olhando Jake, por incrível que pareça eu não estou sentindo aquela adrenalina por estar vendo ele depois de tantos dias.
— Oliv, como você está? — ele me pergunta, parecendo um pouco aflito
— Estou bem, eu tenho muita coisa para te contar — tento, de um jeito simples e breve delatar para Jake tudo o que havia descoberto naqueles dias.
Quanto mais eu falava, mais anotações ele fazia, parecendo reunir o esquema na folha de papel.
— Eu já tenho o suficiente — diz Jake fechando sua caderneta e me olhando sério.
— Como assim?
— Com as provas que você descobriu na casa dele, eu posso prende-lo. Tenho posse e distribuição de drogas, prostituição de menor, assassinato. Esse cara está na perpétua — eu não soube bem, mas ouvir aquelas palavras dele não me deram a satisfação que eu esperava.
— Você não acha melhor esperar mais um pouco, ter mais provas do envolvimento do prefeito e do major?
— Não preciso, ofereço um acordo e ele vai abrir o bico. — eu não contava com aquilo, mas eu não podia deixar de obedecer Jake. — eu quero que volte para a boate, faça suas coisas, eu vou colocar a SWAT para invadir ainda hoje.
— Jake...
— Vou prende-lo finalmente e você vai estar fora de perigo — uma onda de calafrios me inundou, eu não sabia o que era, mas algo me dizia que eu estava fazendo alguma coisa errada.
Antes de ir embora, Jake me deu um beijo cheio de sentimentos, que eu não soube retribuir. Era óbvio que eu amava Jake, mas algo dentro de mim havia mudado drasticamente, então eu só me afasto e me ponho para caminhar.
Chegando na boate, estava começando a amanhecer, eu fui para o quarto, comecei a ajuntar minhas coisas com todo o silêncio que podia. Olho para Charlie, adormecida, tentando encontrar a razão pela qual eu tinha começado aquela operação.
Throe é um bandido, ele faz tudo o que pode garantir que seu império continuará sólido. Colocá-lo na cadeia é meu dever. Ao entrar na polícia eu fiz um juramento, sempre dizer a verdade e proteger a população de males como esse.
Ao terminar de arrumar minhas coisas, me sento na cama e analiso tudo o que havia passado durante esse tempo. Havia um aperto no meu coração pensar em todos que trabalham nessa boate.
Me levanto com um peso maior do que eu jamais havia imaginado, estava exausta, mas era o certo, e eu sempre fiz e sempre irei fazer a coisa certa. Pego minhas coisas e saio do quarto.
La fora está um frio estranho, nessa época do ano não costuma ser tão gelado. Caminho pela rua, vendo o nascer do sol devagar e preguiçoso, o céu está um tanto cinzento, mas não deixa de ser uma beleza.
Quando estou longe da boate, chego a um orelhão, posso ligar para Taylor, um dos agentes, para ele me buscar, não tenho forças para caminhar até em casa...
— Quietinha e ninguém se machuca.— uma voz sussurra no meu ouvido, eu sinto o cano da arma no meu quadril.
Sou pega totalmente de surpresa, mas sei como agir. Consigo bater no braço da pessoa, ela xinga e puxa o meu cabelo com a outra mão, me prendendo e fazendo olha-la
— Henry — digo quase sem ar
— Você tem muito o que explicar, Latiffa — voltando a arma em minha direção, ele consegue me arrastar até uma van marrom e velha. Me jogando lá dentro e entrando em seguida.
Estamos andando e tento bater na porta, tentando a fazer abrir, Henry parece perder a paciência e me acerta em cheio com um soco no estômago, então sinto prender minhas mãos e amordaçar minha boca.
Eu não tenho ideia de onde chegamos, mas quando a van para, sou arrastada para dentro do que parece ser um apartamento vazio e bem mal cuidado.
Henry me joga no chão, me fazendo bater a cabeça e ficar zonza, então ele se senta em uma cadeira na minha frente e dá um sorriso sarcástico.
— Sua vadia calculista! Você soube enganar todos muito bem — ele ri — eu só quero entender o porquê. — tirando a minha mordaça, Henry segura meu rosto com força. — Me diga, agora!
— Nunca! Você pode me espancar e até me matar, mas eu nunca vou falar nada!
— Oh não? — ele sorri diabolicamente, então se abaixa e roça seus dedos na barra da minha blusa — eu tenho algumas informações sobre você, Latiffa, primeira é que esse nem mesmo é o seu nome — meu coração acelera — Olívia Lambert, sua família é bem famosa — ele levanta e mostra um jornal antigo, mostrando meus pais. — você vai me falar o que está tramando ou eu juro que mato não só você, mas todos os Lambert que eu encontrar, sua família será dizimada, um por um.
Com o meu disfarce revelado, eu não sabia o que fazer, Henry era um psicopata. Me machucar eu poderia aguentar, mas a minha família já era outra história...

Lost In PerditionOnde histórias criam vida. Descubra agora