Capitulo 8 - Beatriz

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A manhã chegou e eu mal tinha conseguido pregar os olhos. Levantei da cama e vesti uma roupa mais fresca, afinal, naquele dia o sol avisou que o verão já estava quase chegando. Olhei no espelho, passei uma maquiagem leve e saí. A rua parecia bem mais cheia naquele dia e as pessoas pareciam mais felizes. Também, , uma raridade ver o sol com tanta exuberância.

Era o meu segundo dia de aula e a preocupação acompanhava todos os meus passos. Mal consegui dormir pensando nas coisas que Roberta havia me falado, mesmo que na noite anterior eu tenha encontrado com Jorge e ele tenha tentado me acalmar e ajudar. Mandamos mensagem para algumas pessoas que compartilharam vagas em grupos do Facebook, mas tudo estava caro; 450 euros para dividir quarto com mais três pessoas e o máximo que eu poderia gastar com isso era 300 euros por mês.

Estava perdida nos meus pensamentos quando notei que as irlandesas estavam quase sem roupas, e eu pensei: "também não é para tanto, não está tão quente assim, se forem ao Brasil, certamente andarão peladas". Mas enfim, prossegui pensando no que eu faria. Olhei para as pessoas que pediam moedas perto do rio que cortava a cidade e imaginei que talvez eu tivesse que pedir um espaço para dormir perto delas, era nítido que eu não conseguiria pagar tão caro nos aluguéis.

Depois de atravessar a ponte, segui pela extensão do canal no lado par da cidade. A água refletia o sol em pontilhados prateados. Os pubs cobriam grande parte da calçada, intercalados com conveniências e boates. Estar em Dublin era como estar no passado e no presente ao mesmo tempo. Era como estar na cidade grande e no interior...Como estar no mundo inteiro.

Antes de chegar na escola, passei por uns cafés, os quais tinham varandinhas do lado de fora, onde pessoas tomavam cafés e liam seus jornais, como nos filmes. Mais uns cinco minutos acompanhados a passos largos e cheguei na escola. Quando entrei na sala, ainda não havia ninguém.

Peguei meu celular e fui ler as mensagens. Minha madrinha havia mandando um recado dizendo que estava tudo bem, que minha família e meu namorado estavam com saudades e que queriam combinar um dia para conversar pela câmera. Depois de ler tudo aquilo me veio um aperto no coração e a saudade me invadiu mais uma vez. O fato de eu não poder falar com eles devido à falta de sinal telefônico me deixou ainda pior.

Enfim, desliguei o celular e me perdi dentro das minhas lembranças.

— Olá! — disse o professor, ao chegar de repente.

— Olá. — Retribui o gesto enxugando as lágrimas e tentando disfarçar, mas foi em vão, ele percebeu.

— O que houve? — Ele se sentou e virou a cadeira de frente para mim.

Tentei responder, mas as lágrimas começaram a descer com mais frequência. A vulnerabilidade e a emoção tomaram conta de mim de um jeito que eu não conseguia controlar, então ele levantou da cadeira, chegou mais perto de mim e me deu um abraço. Juro que naquele momento eu senti uma segurança enorme, como se todo a minha angústia começasse a partir sem que mais nenhuma palavra precisasse ser trocada. Foi aí que eu entendi que o lugar mais seguro do mundo é dentro de um abraço, e você não conhece a sensação até que tenha precisado muito disso.

Soltei-o depois de um tempo, enxuguei o rosto e segui para o banheiro. Naquele momento nenhum aluno havia chegado. Fiquei alguns minutos refletindo, me recompus e voltei para a sala. Já estavam todos lá, inclusive Roberta.

— Tenho uma novidade para você. Queria te contar ontem, mas esquecemos de trocar os nossos telefones — ela disse enquanto eu me sentava.

— O que é? — perguntei.

XIUUUUU! — interrompeu o professor.

Olhei para ele constrangida e ele sorriu. Continuamos a aula e, durante todo o tempo, a atenção dele parecia se voltar para mim, nunca um desconhecido se preocupou tanto comigo.

O garoto de Moletom Cinza (COMPLETO) - Quadrilogia " A Ilha da Esmeralda"Onde histórias criam vida. Descubra agora